Em audiência no Senado, Fundação Palmares é denunciada por racismo
Reunidos no Senado Federal, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH), debatedores afirmam que governo tenta apagar a memória da população negra e patrocina racismo estrutural no país
Publicado em
O desmonte e a prática de racismo pela Fundação Cultural Palmares (FCP) foi tema de uma audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal. Debatedores afirmaram que a instituição está sendo usada como instrumento de desinformação em relação à história da população negra do país.
A postura do presidente da FCP, Sérgio Camargo, também foi criticada. Para os participantes do debate, Camargo tem atuado para desconstruir políticas públicas para a promoção da igualdade racial.
Durante o evento, o senado Paulo Paim (PT/RS) ressaltou que a instituição foi criada no âmbito da redemocratização do país, com o objetivo de promover uma política cultural igualitária e inclusiva. Paim lamentou a utilização da Fundação para romper as conquistas e repercutir censuras e preconceitos contra os negros e negras do Brasil.
“Sérgio Camargo praticamente tirou todas as referências do movimento negro do passado, presente e, se deixar, ele retira até do futuro já. Frases racistas são proferidas quase que diariamente. Infelizmente o espaço da Fundação Palmares tem sido usado para isso, nos dias de hoje, principalmente pelo seu presidente. Disse ele: “A escravidão foi terrível, mas benéfica para seus descendentes. Negros no Brasil vivem melhor do que os negros da África”. É lamentável”, destacou Paim durante a audiência.
Para o secretário Nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores (PT), Martvs Chagas, não há dúvidas que a Fundação Palmares está sendo usada como instrumento de desinformação no que se refere à história da população negra do Brasil.
“O atual presidente trata com verdadeiro deboche a obra de homens e mulheres que tiveram importância primordial na construção das políticas públicas voltadas à correção da dívida histórica com os povos afrodescendentes do país. É um absurdo e uma vergonha, vermos um dos maiores patrimônios institucionais ser utilizado de maneira tão torpe por esse desgoverno que aí está”, enfatiza Martvs.
A Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT parabeniza a CDH, na pessoa do senador Paim, pela realização da audiência, e confirma a necessidade de continuarmos a nossa luta para que essa importante instituição “saia das mãos desse verdadeiro capitão-do-mato”.
União e fortalecimento
O cantor Martinho da Vila defendeu a união e o fortalecimento de representatividades na manutenção dos objetivos da FCP. Ele também avaliou a função de Sérgio Camargo e disse que a intenção dele e do governo é “acabar com a fundação”.
“Um dos sonhos que eu tenho é que um dia, no Brasil, não haja necessidade de movimento negro. Que o racismo não precise de movimento negro. E que não precise de uma sessão como esta. Tudo isso aqui ainda é muito necessário”, disse.
Democracia e reconstrução administrativa
Para a ex-diplomata e ex-presidente da FCP Dulce Pereira a fundação deixou de exercer sua função básica de proteção da população negra, com o racismo sendo operado de dentro do próprio governo. Na sua visão, esse tipo de atuação tem ajudado a enfraquecer o sistema democrático no país.
“Essa ideologia do racismo imobiliza a democracia. Não há democracia com o racismo estrutural sendo operado dentro do estado. Isso não é estado democrático. Não é um Estado que assegura direito a todos. Então essa história dual da Fundação Cultural Palmares atenta contra o Estado democrático de direito”.
Zulu Araújo, mestre em cultura e sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e também ex-presidente da FCP, e o ex-ministro da Igualdade Racial no governo do ex-presidente Lula e também ex-presidente da FCP, Eloi Ferreira Araújo, defenderam a necessidade de uma reconstrução administrativa.
“Primeiro, no sentido de ela ser dotada de orçamento suficiente para funcionar a contento. Porque é importante dizer também que a Fundação Palmares nunca teve um orçamento digno da proporção que ela possui. É reconstruir a fundação do ponto de vista dos recursos humanos. É preciso que a fundação tenha trabalhadores no quantitativo e na qualidade que ela precisa realizar e cumprir a sua missão. É necessário que a questão racial não seja enjaulada, circunscrita exclusivamente à Fundação Palmares e à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial”, ressaltou Zulu.
“Precisamos unir todas as forças para a gente fazer essa travessia e reconstruir. Teremos que renascer das cinzas. Teremos que reconstruir todos os equipamentos. Reconstruir toda a história e quem sabe a gente reiniciar esse grande combate contra o racismo, destacou Eloi.
Da Redação, com informação da Agência Senado