Em teatro histórico, artistas de São Paulo se opõem ao golpe

O Teatro Oficina, simbolo de resistência artística paulistana, viveu uma noite de discursos combativos para defender a democracia

Sérgio Mamberti e Zé Celso (fotos: Paulo Pinto/ Agência PT)

Uma multidão multi-colorida tomou o Teatro Oficina, no centro de São Paulo, nesta segunda (4), para demonstrar apoio à democracia e ao mandato da presidenta Dilma Rousseff. Nem todo mundo conseguiu entrar. A rua em frente teve o trânsito interrompido e quem ficou de fora pôde assistir às apresentações, falas e perfomances artísticas em uma projeção na parede. Eram atores, músicos, cineastas, poetas e gente de todo tipo em uma só voz: “Não vai ter golpe”.

O teatro, comandado pelo dramaturgo Zé Celso Martinez Côrrea, é um espaço de propagação e resistência artística da cidade. Fundado em 1958, conviveu com diversos problemas com a ditadura militar e a especulação imobiliária, que tenta fechar as portas do local há décadas.

“O Oficina foi palco de várias arbitrariedades e censuras. Não há lugar mais simbólico para ocorrer este ato de artistas em prol da democracia”, disse Rudifran Pompeu, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro.

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Apresentação do grupo Ilú Oba de Min (Paulo Pinto/ Agência PT)

Além de apresentações artísticas, os discursos deram o tom combativo da noite. Zé Celso foi incisivo para defender a democracia. “Quem deveria ser golpeado é esse Congresso de gangsters que não permite a Dilma governar”. Ele também repetiu a antiga reclamação contra a sanha imobiliária que tenta derrubar o Oficina.

“O grande inimigo do teatro de rua é o setor imobiliário. Além da gente, são 22 teatros de rua só em São Paulo na mesma situação”, alertou.

Estudantes pela democracia
Ao menos três entidades estudantis estiveram presentes: a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) e a União dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UEE-SP). A representante da UNE Patrícia de Matos fez um discurso forte.

Os estudantes anunciaram que vão sair em caravana por escolas públicas e universidades do estado para discutir a qualidade da educação

“Em meus 22 anos, me sinto fazendo história hoje com tantos grupos, coletivos e expressões artísticas no Oficina. Nos juntamos por muitas coisas, mas principalmente para dizer que não vai ter golpe”.

Os estudantes também anunciaram que vão sair em caravana por escolas públicas e universidades do estado para discutir a qualidade da educação, lembraram que lutam pelos que morreram em quase um século de movimento estudantil e conclamaram, em coro: “No meu país eu boto fé porque ele é governado por mulher”.

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(Paulo Pinto/ Agência PT)

Para a cineasta Tata Amaral, o Brasil vive um momento de mudanças. “Devemos sair daqui sendo pontinhos de luzes e transformação. A crise nem sempre é negativa. Pode trazer o totalitarismo ou a conquista de mais direitos. Não vai ter golpe. Vai ter mais cinema, mais teatro e mais cultura”, disse.

O ator Sérgio Mamberti lembrou que estava presente na primeira noite de funcionamento do Oficina, há 58 anos, e que acompanhou de perto como o local sempre foi um espaço democrático e de excelência artística. Ele também brincou, lembrando do Doutor Vitor, seu célebre personagem do programa infanto-juvenil “Castelo Rá-Tim-Bum”: “Não vai ter golpe, raios e trovões!”.

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(Paulo Pinto/ Agência PT)

Um dos momentos mais tocantes foi quando o diretor de teatro argentino radicado no Brasil Ilo Klugi se disse comovido por estar vivendo aquele momento. Aos 85 anos, boa parte dedicados ao teatro infanto-juvenil, Klugi afirmou: “Estou muito, muito emocionado. Há anos eu não estava à frente de jovens tão combativos”.

“Eu luto há muito tempo pela educação de crianças e jovens. A arte é a própria liberdade. Eu saí pelo mundo procurando me conhecer e ajudar no desenvolvimento de outras pessoas. Apesar do momento político doer um pouco, me sinto emocionado. Vocês estão procurando uma vida mais digna para todos nós”.

Ficção da imprensa
A diretora de cinema Anna Muylaert e a atriz Camila Márdila, a Jéssica do filme “Que Horas Ela Volta?”, discursaram aos presentes, no meio da rua, em frente ao teatro. A diretora voltou a defender a legalidade do mandato da Dilma e criticou a cobertura política da grande imprensa.

“Os meios de comunicação deveriam fazer jornalismo e estão fazendo ficção. Nós das artes então devemos falar a verdade. A grande vingança contra a mentira é a verdade”, Anna Muylaert

“Os meios de comunicação deveriam fazer jornalismo e estão fazendo ficção. Nós das artes então devemos falar a verdade. A grande vingança contra a mentira é a verdade. Hoje, há menos telespectadores e mais cidadãos. Vamos continuar porque o País é nosso”, afirmou.

Já Camila exaltou a força da militância nas ruas e em atos como o do Oficina. “Se o golpe está fraquejando é porque estamos todos presentes. E pode ser a faísca de uma mudança positiva muito maior”, disse.

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Quem não conseguiu entrar assistiu às apresentações no meio da rua (Paulo Pinto/ Agência PT)

A noite terminou com o rapper Renegado e o pessoal da Liga do Funk, que cantaram letras contra o golpe e o machismo.

“Devemos lutar para vivermos em um lugar onde há direitos para todos: negros, periféricos, mulheres, LGBTs. Uma sociedade plural é mais legal”

O ator Dorberto Carvalho, da Cooperativa Paulista de Teatro, resumiu o tom do evento: “Arte é diversidade. Devemos lutar para vivermos em um lugar onde há direitos para todos: negros, periféricos, mulheres, LGBTs. Uma sociedade plural é mais legal”.

Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias

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