Especial 8/1: plano golpista de Bolsonaro foi acelerado após vitória de Lula
Atentados aos Três Poderes foram antecedidos por audiência golpista no Senado, noite de terror em Brasília após diplomação de Lula e tentativa de explosão de bomba no aeroporto da capital federal
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A democracia brasileira entra em 2024 ainda mais fortalecida! Às vésperas de completar um ano dos atentados terroristas bolsonaristas de 8 de janeiro, é importante relembrar a cronologia da tentativa de golpe de Estado articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores que culminaram com a destruição das sedes dos Três Poderes.
Para entender como o Brasil chegou à beira de mais uma ruptura institucional, é preciso voltar no tempo, pouco mais de um mês antes da posse de Lula, ocorrida no dia 1º de janeiro. No dia 30 de novembro, a pedido do senador bolsonarista Eduardo Girão (Podemos-CE), foi realizada uma audiência no Senado Federal, na qual o Brasil assistiu a um festival de impropérios e demonstrações de insanidade, proferidos por bolsonaristas inconformados com o resultado das eleições.
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A audiência funcionou como uma espécie acelerador do processo golpista que já estava em curso antes mesmo do resultado eleitoral ser divulgado. Como se sabe, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi utilizada pelo governo Bolsonaro para dificultar, no dia do segundo turno, a votação de eleitores do Nordeste, onde Lula teve 66% dos votos no primeiro turno.
Como não conseguiram alterar o resultado, os extremistas utilizaram a audiência para fazer ataques às urnas eletrônicas e ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedir a prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e chegar ao cúmulo de defender um golpe militar. Tudo isso naquela que é a câmara alta do Congresso Nacional e a casa da democracia brasileira. A mesma onde Ulysses Guimarães manifestou “ódio e nojo à ditadura”.
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Além de parlamentares bolsonaristas, a audiência contou com advogados e apoiadores do ex-presidente como George Washington de Oliveira e Alan Diego dos Santos, que viriam a ser presos por tentativa de terrorismo no aeroporto de Brasília na véspera de Natal e estavam acampados em frente ao quartel general do Exército em Brasília.
Presentes à audiência estavam ainda os ex-desembargadores Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça de São Paulo, e Sebastião Coelho, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, deturpando a legislação com tom golpista e defesa de ação das Forças Armadas contra a eleição de Lula.
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O requerimento de Girão definia como finalidade da audiência discutir a fiscalização das inserções de propaganda política eleitoral, mas na prática o que ocorreu foi uma audiência golpista aplaudida por bolsonaristas, com duração das 10h até a noite. Transmitida pelo site do Senado e pelo Youtube, foi acompanhada pelos golpistas em frente ao QG do Exército de Brasília.
Entre os parlamentares bolsonaristas que participaram estavam os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP), Filipe Barros (PL-PR) Daniel Silveira (PTB-RJ), hoje preso, Bia Kicis (PL-DF), Osmar Terra (MDB-RS) e o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS). E, à época, os deputados federais eleitos Gustavo Gayer (PL-GO) e Zé Trovão (PL-SC) e o senador eleito Magno Malta (PL-ES), mais o deputado federal Marcel van Hatten (Novo-RS).
Bolsonaro não reconhece derrota e insufla golpistas
O resultado do segundo turno foi a vitória de Lula para o seu terceiro mandato como presidente da República, derrotando a extrema-direita e uso descarado de dinheiro público por Bolsonaro. Lula o venceu por uma diferença de 2.050.957 votos, ou seja, 1,8% dos votos válidos.
Ao não reconhecer a vitória de Lula, Bolsonaro incentivava atos golpistas como bloqueio de estradas e tentativas de derrubada de torres de transmissão de energia. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, em 31 de outubro já havia mais de 300 pontos com bloqueios de estradas pelo país.
Também começou a crescer a movimentação e montagem de acampamentos bolsonaristas em frente a quartéis com a conivência do Exército. Em pouco tempo, o de Brasília se tornou o principal QG pró-golpe militar, com megaestrutura que incluía até geradores de energia, caixa d’água, aluguel de tendas, dezenas de banheiros químicos, três refeições gratuitas por dia (café da manhã com frutas e almoço com carne e salada), espaço para massagem etc.
Ataques de 12 de dezembro
No dia 12 dezembro, após a diplomação de Lula como presidente da República eleito e de seu vice, Geraldo Alckmin, atestando o resultado das eleições, as ruas de Brasília viveram à noite horas de terror graças à ação de bolsonaristas, com carros e ônibus incendiados e tentativa de empurrar um coletivo de viaduto sobre o Eixo Monumental.
A série de ataques terroristas contou ainda com uma tentativa de invasão à sede da Polícia Federal (PF), que havia prendido o cacique bolsonarista autodenominado pastor José Acácio Tserere Xavante, botijões de gás usados para bloquear ruas, ataques à 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte, depredação de postes, terror a funcionários e passageiros do transporte coletivo, barricadas com fogo para bloquear o trânsito e avenidas e lixeiras vandalizadas.
Toda essa destruição ocorreu sem que as forças de segurança do Distrito Federal agissem. Nenhuma pessoa foi presa nesse dia. A presidenta Nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) escreveu em sua conta no então Twitter que “passou da hora de desmobilizar as frentes de quartéis” e questionou a atuação das forças policiais da capital federal.
“Baderna em Brasília teve cara de esquema profissional. Muito estranho que ninguém foi preso. Bolsonaro é cúmplice. Como pode presidente da República abrigar envolvidos? Passou da hora de desmobilizar as frentes de quartéis, não tem nada de liberdade de expressão, só golpismo”, publicou Gleisi.
Baderna em Brasília teve cara de esquema profissional. Muito estranho que ninguém foi preso. Bolsonaro é cúmplice. Como pode presidente da República abrigar envolvidos? Passou da hora de desmobilizar as frentes de quartéis, não tem nada de liberdade de expressão, só golpismo.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) December 13, 2022
Gleisi fazia referência ao blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, investigado no inquérito das fake news, por ter se abrigado com outras duas pessoas no Palácio da Alvorada.
O único integrante do governo Bolsonaro a se manifestar, três horas depois (23h08) dos atentados, foi o então ministro da Justiça, Anderson Torres. Lacônico, disse no Twitter que que “tudo será apurado e esclarecido” e que a situação estaria “se normalizando”.
A prisão de pessoas envolvidas nesses atos só viria a ocorrer após a posse do presidente Lula. Em 6 de janeiro, foi decretada a detenção de quatro suspeitos de participar dos atos terroristas de 12 de dezembro.
Bomba no aeroporto
Sem punição e com a conivência de autoridades do governo Bolsonaro, os golpistas ampliavam suas ações de terrorismo. No dia 24 de dezembro, a PM do Distrito Federal impediu a detonação de uma bomba colocada em caminhão-tanque de combustível próximo ao aeroporto de Brasília.
Foram identificados como autores do ato de terrorismo os bolsonaristas George Washington de Oliveira e Alan Diego dos Santos. Os dois estavam acampados no QG golpista em frente ao quartel do Exército em Brasília e participaram daquela audiência no Senado.
A fuga covarde de Bolsonaro
Em 30 de dezembro, Bolsonaro viaja aos Estados Unidos em mais uma manifestação antidemocrática, já que não faria a transmissão da faixa presidencial a Lula no dia 1º de janeiro. Em clima festivo e com milhares de militantes, a posse de Lula em seu terceiro mandato como presidente da República transcorreu sem incidentes. Quem entregou a faixa presidencial a Lula foram representantes do povo brasileiro.
No dia 2 de janeiro, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, foi nomeado secretário de Segurança do Distrito Federal. Nos dias seguintes, ele determina a troca do comando das polícias.
Todo esse cenário culminou com a invasão e destruição das sedes dos Três Poderes por milhares de bolsonaristas terroristas no dia 8 de janeiro, em uma tentativa de envolvimento das Forças Armadas na tomada de poder.
A conivência da Segurança do DF
De nada adiantaram os alertas de inteligência a grupos dos quais Anderson Torres fazia parte sobre a chegada a Brasília de caravanas extremistas de bolsonaristas vindas de várias partes do país. Torres embarcou com a família para os Estados Unidos na madrugada de sexta (6) para sábado (7). Suas férias, efetivamente, começariam no dia 9 de janeiro.
Os informes davam conta da chegada de 126 ônibus e 2.500 manifestantes à capital federal. À distância, em 7 de janeiro, ele autorizou a entrada de bolsonaristas na Esplanada dos Ministérios no dia seguinte.
No trágico 8 de janeiro, com a conivência da PM do Distrito Federal, milhares de bolsonaristas de verde e amarelo caminham escoltados pela PM até a Praça dos Três Poderes em uma tentativa (frustrada) de provocar intervenção militar no Brasil.
Foram horas de destruição das sedes do Supremo Tribunal Federal, Palácio do Planalto e Congresso Nacional, com os poucos policiais que estavam trabalhando fazendo o enfrentamento à horda bolsonarista. A tropa de choque do DF não agia. O presidente Lula estava nesse dia visitando a cidade de Araraquara, em São Paulo, que havia sido atingida por fortes chuvas.
De volta a Brasília e acompanhado por ministros e autoridades, Lula vistoriou a destruição praticadas por bolsonaristas ao Palácio do Planalto e ao STF.
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Da Redação