Estados Unidos sofrem mais uma derrota em campanha contra Cuba
Nação caribenha foi eleita para o Comitê Executivo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mesmo após tentativas da diplomacia norte-americana de desqualificar serviços cubanos de cooperação médica internacional. Dilma Rousseff denuncia pressão espúria sobre o Programa Mais Médicos
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Mais uma vez os Estados Unidos ficam isolados em suas tentativas de agressão a Cuba. Após a formalização da candidatura das Brigadas Médicas Henry Reeves ao Prêmio Nobel da Paz de 2021, na semana passada, nesta semana a nação caribenha foi eleita para o Comitê Executivo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) por três anos, após enfrentar seguidas manobras do governo dos Estados Unidos durante as sessões do 58º Conselho Diretor da Organização, na segunda (28) e terça (29).
Na jornada de trabalho de segunda, o representante dos Estados Unidos, Garret Grigsby, recebeu uma resposta contundente do Ministro da Saúde de Cuba, José Ángel Portal Miranda. “Não foi Cuba que politizou este fórum”, respondeu o ministro. “É o governo dos Estados Unidos que, sem conseguir obter apoio internacional para sua campanha desonesta contra a cooperação médica internacional de Cuba, tenta atropelar o trabalho desta organização.”
Na terça, a operadora do ataque da vez foi a diretora de Economia e Desenvolvimento do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Kristen Pisani, que se opôs “categoricamente” à candidatura cubana. A base de seu discurso foi a campanha que o governo dos Estados Unidos desenvolve há meses para tentar vincular a cooperação médica internacional de Cuba ao tráfico de pessoas. Pisani também questionou o Programa Mais Médicos do Brasil.
Em resposta às acusações, a vice-ministra de Saúde Pública da ilha, Marcia Cobas, considerou a campanha dos EUA desprezível e digna de condenação internacional. A vice-ministra defendeu o direito de Cuba de ser eleita para o Comitê Executivo e qualificou de desrespeitosa e imoral a tentativa de vincular o tráfico de pessoas ao trabalho dos profissionais cubanos, que, destacou, “atuam de forma voluntária e generalizada e vão para lugares que outros serviços de saúde não alcançam”.
Marcia também mencionou a existência de um fundo de US$ 3 milhões (R$ 16,9 milhões) que o governo dos Estados Unidos usa para comprar falsos testemunhos que corroborem as acusações ilegítimas contra a cooperação cubana. Com o mesmo propósito de sabotar programas de cooperação, esses recursos vêm acompanhados de pressões e incentivos como a concessão de vistos.
A vice-presidente cubana ainda fez alusão aos resultados marcantes do Programa Mais Médicos no Brasil, que tem sido objeto de ataque, politização e como pretexto para a mais recente manobra dos Estados Unidos. O ministro José Ángel havia denunciado na segunda que o governo de Donald Trump impôs à OPAS, por meio de chantagem financeira, uma “revisão externa” do programa.
Após vários países agradeceram e reconheceram Cuba pela cooperação prestada na área da saúde, o Conselho de Administração aprovou a resolução para a eleição dos três candidatos, incluindo Suriname e Brasil, rejeitando assim a manobra dos Estados Unidos. Ao final do dia, foram aprovadas ainda as propostas da delegação cubana para reforçar a importância da cooperação internacional e da solidariedade na resolução sobre a pandemia de coronavírus na região das Américas.
Dilma: Ataques dos EUA são parte de uma grande ofensiva contra Cuba
Em entrevista no programa ‘Bom Dia 247’ nesta sexta (2), a ex-presidenta Dilma Rousseff denunciou que os recentes ataques dos Estados Unidos contra a OPAS são parte de “uma grande ofensiva contra Cuba e os órgãos multilaterais de cooperação”. “Nós vimos isso acontecer com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em plena pandemia, quando Donald Trump retirou o apoio à organização, tentando pressioná-la para uma avaliação absurda a respeito da pandemia”, comparou.
Segundo Dilma, a pressão dos EUA à OPAS tem um caráter parecido, mas com o interesse de “inviabilizar a presença da organização em ações cooperativas com o governo cubano, como é o caso do Mais Médicos no Brasil”. “A OPAS está pressionada da mesma forma que pressionaram a OMS, onde retiraram a contribuição durante a pandemia”, continuou.
A ex-presidenta ressaltou que o Mais Médicos foi aprovado pelo Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal de Contas da União (TCU), e internacionalmente, os órgãos de controle internos da OPAS deram parecer positivo. “Os EUA querem atacar o governo cubano e “tentar descaracterizar uma das maiores ações de solidariedade que um país já fez em todas as esferas”, concluiu Dilma.
Para ela, isso não se resume à pandemia de Covid-19, “onde ficou clara contribuição que Cuba deu, generosamente, a países da Europa, como Itália e Espanha”. Dilma também lembrou que durante a crise do ebola, os médicos cubanos foram enviados ao continente africano para ajudar populações desassistidas.
“Cuba mostra uma ação de solidariedade clara”, afirmou Dilma. O país “foi responsável por ajudar uma população brasileira do SUS (Sistema Único de Saúde) que estava desatendida e foi crucial na formação da quantidade de médicos que havia aqui no país”, continuou.
Dilma destacou que havia falta de médicos em diversas regiões do Brasil, como no interior mais pobre e nas periferias das grandes cidades. Nos territórios indígenas, só veio a haver atendimento com a chegada dos médicos cubanos, já que muitos médicos brasileiros não queriam ir aos lugares mais pobres e cobravam muito caro por um atendimento que não era permanente.
“O Programa Mais Médicos foi um sucesso por conta dos médicos cubanos. Havia um contato humano e um atendimento permanente’, reforçou Dilma. Por isso, ela destaca que ‘temos de estar alertas na parceria dos EUA com o governo brasileiro, que querem destruir a possibilidade de Cuba cooperar com outros países”. “Querem desmantelar a possibilidade de qualquer futura ação de Cuba na América Latina como um todo”, denunciou.
“Os EUA querem que o bloqueio se estenda para impedir que Cuba coopere e isso é algo extremamente perverso e tem um eco eleitoral em relação ao Partido Republicano e a uma política de endurecimento que os republicanos acham que é mais adequada”, afirmou Dilma. “Tem eco eleitoral lá e tem eco eleitoral aqui.”
Cuba emite dura nota contra governo Trump
Após Cuba ser eleita membro do Comitê Executivo da OPAS, o Ministério das Relações Exteriores do país emitiu dura nota sobre a campanha que o governo dos Estados Unidos move desde 2019 para desacreditar a cooperação médica internacional da nação caribenha, pressionar os governos que a recebem e privar os povos dos serviços.
“Sob a ameaça de não desembolsar a contribuição financeira a ser feita pelos Estados Unidos como principal contribuinte para o orçamento da organização, a Secretaria da OPAS foi forçada a aceitar o que eles chamam de uma revisão externa do papel da OPAS no Programa Mais Médicos no Brasil, em que milhares de profissionais cubanos tiveram a oportunidade de participar a pedido expresso do governo popular do Partido dos Trabalhadores, e que tem sido objeto da mais rude campanha de difamação por parte dos Estados Unidos e do atual governo Brasileiro” , diz o ministério na nota.
O governo cubano prosseguiu afirmando que “as alegadas preocupações dos Estados Unidos sobre a cooperação de Cuba, neste caso sobre o Programa Mais Médicos, não são legítimas, nem pertinentes para serem discutidas na OPAS. O Mais Médicos, que já recebeu auditorias anteriores com resultados positivos, foi estabelecido por meio de um acordo tripartite entre o governo cubano, o então governo brasileiro e a OPAS”.
Na nota, o ministério cubano ressaltou que o Mais Médicos possibilitou aos médicos cubanos atenderem 113 milhões de pacientes de agosto de 2013 a novembro de 2018 em mais de 3,6 mil municípios, oferecendo cobertura permanente de saúde a 60 milhões de brasileiros.
“Graças ao Programa, foi possível ampliar a cobertura da atenção básica e de saúde para os brasileiros; ampliou-se o acesso e a oferta de ações de saúde; e os indicadores de saúde da população foram melhorados, reduzindo as internações por trabalho preventivo dos médicos”, diz a nota.
O texto também lembrou o alto nível de satisfação e aprovação de pacientes, médicos e gestores do Mais Médicos, apontando estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) atestando que 95% dos pacientes ficaram satisfeitos ou muito satisfeitos com o programa.
“Se Cuba não tivesse sido obrigada a retirar seus médicos do Brasil, eles poderiam ter contribuído para o controle e enfrentamento da pandemia Covid-19 naquele país, o segundo mais afetado no mundo”, ressaltaram as autoridades cubanas.
Declaração do Ministério da Saúde Pública de Cuba de 14 de novembro de 2018 anunciou a decisão de não mais participar do Mais Médicos em face do “servilismo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que com atitude de desprezo e ameaça aos nossos colaboradores e em franco desrespeito à OPAS e seu acordo com Cuba, impôs modificações aos termos do Programa, o que resultou na violação das garantias inicialmente acordadas e nas condições inaceitáveis de permanência de nossos profissionais”.
Para o governo cubano, “ninguém com um senso básico de honestidade, com conhecimento dos propósitos e conduta do governo dos Estados Unidos, ou com um mínimo de bom senso pode duvidar que está enfrentando um ataque frontal ao multilateralismo, de uma manipulação grosseira com fins políticos da OPAS e uma extensão da agressão contra Cuba”.
Após a denúncia da manobra pelo ministro José Ángel, na sessão de terça, argumentam as autoridades no documento, “ficou demonstrado nas intervenções de representantes do Departamento de Estado que o governo dos Estados Unidos está por trás das pressões contra a Organização, contra os programas de cooperação de Cuba com os Estados membros da região e a chamada revisão externa do Programa Mais Médicos”.
O governo cubano anunciou que se prepara uma avaliação espúria e mentirosa, promovida por e para os propósitos agressivos dos Estados Unidos em seu esforço por desacreditar a cooperação internacional de Cuba. “O acesso à saúde é um direito humano, e os Estados Unidos cometem um crime quando se propõem a privar milhões de pessoas desse direito inalienável”, afirmam as autoridades no texto.
Ao final, a nota citou uma reflexão do líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, emitida em 2 de outubro de 2014 e intitulada ‘A hora do dever’: “O pessoal médico que marcha a qualquer ponto para salvar vidas, mesmo correndo o risco de perder as suas, é o maior exemplo de solidariedade que o ser humano pode oferecer ”.
Da Redação