Médicos cubanos têm indicação formalizada ao Nobel da Paz

Após intensas campanhas pela atribuição do prêmio às brigadas, o Conselho Mundial para a Paz registrou a candidatura ao Comitê Nobel norueguês. Uma representação de dezenas de comitês nacionais de paz de quase 100 países assinou a carta de solicitação enviada na última sexta (25) ao Comitê norueguês do Nobel. Apoie a candidatura dos cubanos

Enrique Ubieta

Médicos cubanos são candidatos ao Prêmio Nobel da Paz

O Conselho Mundial para a Paz (CMP) registrou formalmente a candidatura do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Situações de Desastre e Epidemias Graves “Henry Reeve” para o Prêmio Nobel da Paz de 2021. Uma representação de dezenas de comitês nacionais de paz de quase 100 países assinou a carta de solicitação enviada na última sexta (25) ao Comitê norueguês do Nobel.

No fim de semana, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, destacou a notícia em sua conta no Twitter. Em seu relato, ele lembrou as palavras do líder histórico Fidel Castro, “médicos e não bombas”, que definem a atitude internacionalista da ilha. “Cuba antes do mundo: médicos e não bombas. O Conselho Mundial para a Paz registrou formalmente a candidatura do contingente médico cubano Henry Reeve, ao Prêmio Nobel da Paz ”, afirmou o chefe de Estado.

O presidente e o primeiro-ministro de Cuba, Manuel Marrero Cruz, reuniram-se nesta segunda (28) com os colaboradores das brigadas médicas Henry Reeve que regressaram da Venezuela, Honduras e Guiné Conakry. “São três brigadas que fizeram um trabalho digno. E estamos orgulhosos de vocês”, disse Días-Canel, acrescentando: “Vocês receberam o maior prêmio – o reconhecimento popular dos países por onde passaram, o que é muito mais reconfortante do que qualquer prêmio que possam receber ”.

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Também nesta segunda, Benjamin Amar, líder da Confederação Geral do Trabalho da França (CGT), um dos maiores e mais influentes sindicatos franceses, pediu a entrega do Nobel às brigadas médicas cubanas. “A pequena ilha salva vidas, realidade que deve ser defendida contra a mentira e a manipulação da mídia, e sua ajuda em tempos de Covid-19 chega inclusive aos países ricos, apesar do bloqueio insuportável que enfrenta”, frisou Amar em entrevista à ‘Prensa Latina’.

Para o francês, as brigadas Henry Reeve são a expressão de um sistema voltado para a justiça social. ‘Se um país do Sul é capaz de colocar seu desenvolvimento médico à disposição do mundo em tempos de grave pandemia, mesmo em países do Norte, isso fala por si da qualidade de seu modelo político’, defendeu o líder sindical.

Em carta enviada a Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê de premiação norueguês, a presidenta do CMP, Socorro Gomes, e o secretário-geral, Thanassis Pafilis, destacaram o papel essencial que a solidariedade internacional desempenha ao levar alívio para os que mais sofrem com essas emergências.

“A pandemia é outro exemplo de como a solidariedade internacional é essencial para promover uma paz justa e aliviar o sofrimento das pessoas durante as emergências”, afirmou a entidade. Nesse sentido, assinalaram, o trabalho que o contingente médico cubano realizou muito antes do surto de Covid-19 foi anunciado como o paradigma mais sincero. Para o Conselho, esse fato os leva a solicitar que ‘reconheçam o quão corajoso e exemplar é o esforço do grupo, ao lhe entregar o Prêmio Nobel da Paz’.

“Lembre-se que a medicina da ilha oferece assistência médica humanitária há cerca de 60 anos, mesmo diante de desafios econômicos extremos, que também duram mais de seis décadas e impõem graves dificuldades ao povo cubano”, diz a carta. Mesmo assim, observa a organização não governamental, “os cubanos superaram essa barreira para mostrar ao mundo a melhor forma de construir a paz e as pontes, para que outros povos tenham a oportunidade de superar seus próprios desafios e não perder a vida.”

A carta destaca que os profissionais cubanos estão salvando vidas na Europa, América Latina, Caribe, África, Oriente Médio e Ásia. E aponta que o trabalho das brigadas é “chave para construir a paz em meio a conflitos violentos e estruturais e para criar condições para que as pessoas possam ter suas necessidades mais básicas atendidas no Brasil, condições de desastre e pobreza extrema”.

Exemplo no mundo, “expulsos” por Bolsonaro

No Brasil, a medicina cubana ganhou notoriedade em 2013, quando a então presidenta Dilma Rousseff criou o Programa Mais Médicos, que permitiu atender populações de regiões mais pobres e rurais, onde não havia serviço médico.

Mais de oito mil profissionais cubanos foram enviados ao Brasil, onde ocupavam quase metade dos cargos de atenção básica nos 26 estados, mais o Distrito Federal, em especial nas localidades mais distantes e pobres do país, muitas das quais puderam contar com médicos pela primeira vez.

Os médicos haviam sido contratados pelo Brasil por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), num acordo duramente criticado por Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial. O governo cubano retirou os médicos do Brasil em novembro de 2018, pouco depois de Bolsonaro vencer a eleição e passar a atacar Cuba e os médicos.

Atualmente, diante da gravidade da pandemia, os médicos cubanos fizeram falta, como denunciam candidatos às eleições municipais, acusando a irresponsabilidade e o descompromisso do atual governo federal com a saúde pública no país.

Médicos cubanos foram aclamados como heróis na Europa

Em maio, a Rede de Capítulos Italianos de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade puxou campanha na Europa pela atribuição do Nobel da Paz ao Contingente Internacional de Médicos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve.

Lançada em 28 de abril pelas associações Cuba Linda e France Cuba, a iniciativa recebeu o apoio de forças políticas e sindicatos de França, Espanha, Irlanda e Itália. As entidades criaram o e-mail nobelpaixmedcub@gmail e a página do Facebook ‘Prêmio Nobel das Brigadas Médicas Cubanas’ para arregimentar apoio público à campanha.

“A comunidade internacional está testemunhando a solidariedade dos profissionais de saúde que deixam seu país para prestar serviços e compartilhar experiências em outras partes do mundo, que no caso da pandemia causada pelo novo coronavírus chegam ao coração da Europa”, afirma a declaração das entidades. Na Itália, as equipes cubanas foram saudadas como heróis desde 22 de março, quando a primeira delegação desembarcou no país com 36 médicos, 15 enfermeiros e um especialista em logística para ajudar na Lombardia, região com maior número absoluto de casos na época.

Cuba tem a maior taxa de médicos por habitante do mundo (nove por mil habitantes): são mais de 89 mil médicos e 84 mil enfermeiros. A colaboração médica com o mundo completou 57 anos em 2020. Desde 1963, quando um avião cubano partiu para a Argélia, até hoje, mais de 420 mil trabalhadores cubanos da saúde estiveram presentes em 169 países, em mais de 600 mil missões.

No período de maio de 1960 a fevereiro de 2005, um período de 45 anos, brigadas médicas de emergência, embrião do Contingente Henry Reeve, realizaram 30 missões de ajuda e assistência sanitária e humanitária em 19 países, participando delas 2 055 trabalhadores da saúde.

A brigada médica Henry Reeve foi criada por Fidel Castro em 19 de setembro de 2005, em resposta aos danos causados pelo furacão Katrina à cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, que deixou cerca de 1.336 mortes. A equipe recebeu esse nome em homenagem ao soldado norte-americano que lutou no exército de libertação de Cuba por sete anos, participando de mais de 400 batalhas contra o exército espanhol na guerra de independência, iniciada em 1868.

Na época, o revolucionário descreveu sua graduação como médico como “abrir uma porta para um longo caminho que leva à ação mais nobre do que um ser humano pode fazer aos outros”.

Até 10 de agosto de 2020, o Contingente ajudou 46 nações e cinco territórios não autônomos. Mais de nove mil profissionais de saúde cubanos participaram dessas missões. Aproximadamente quatro milhões de pessoas receberam atendimento médico. Mais de 89 mil vidas foram salvas.

Diante do maior perigo para a saúde que o mundo enfrentou no século 21, o Contingente “Henry Reeve” se preparou para atender os povos que o solicitassem. Em menos de duas semanas, mais de cinco mil médicos e enfermeiras cubanos se ofereceram para combater a epidemia de coronavírus.

Em cinco meses, o contingente chegou a 35 países. Já tratou mais de 300 mil pessoas e salvou mais de 9 mil vidas. Mais de 3.700 profissionais de saúde cubanos participaram, dos quais 61,2% são mulheres. Das 46 brigadas formadas para enfrentar a pandemia, 37 continuam prestando serviços de saúde em 26 nações.

Na Europa, quatro brigadas médicas uniram-se aos esforços nacionais da Itália (2 brigadas na Lombardia e Piemonte, respectivamente), Andorra e Azerbaijão, onde ofereceram seus serviços a mais de 16 mil pessoas. Além disso, o contingente esteve presente nos territórios britânicos não autônomos (Anguila, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens, Montserrat) e Martinica, departamento ultramarino da França, onde mais de mil pessoas foram atendidas.

A Brigada Henry Reeve já havia sido nomeada para o Nobel da Paz pela Conferência Anual dos Sindicatos Noruegueses, pelos esforços para enfrentar a pandemia de Ebola em 2014-15. Embora a brigada não tenha recebido o prêmio em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lhe concedeu o Prêmio Doutor Lee Jong-wook 2017 de Saúde Pública em reconhecimento ao seu trabalho.

Origem do Conselho Mundial da Paz

Nascido da luta antifascista em 1949-1950, o Conselho Mundial da Paz é composto por cerca de 100 entidades nacionais de todos os continentes. Como organização internacional, pôde dirigir sua indicação ao Comitê do Nobel. A iniciativa soma-se a uma campanha em franco crescimento. Outros galardoados pelo Nobel, como o argentino Adolfo Pérez Esquivel, além de inúmeras personalidades e entidades, já endossaram o apelo em apoio à nomeação ou dirigiram suas recomendações diretamente ao comitê.

Segundo as regras do Comitê Norueguês, as nomeações recebidas após 31 de janeiro são incluídas para avaliação futura no ano seguinte. O calendário especifica que todas as indicações são recebidas em fevereiro, e após um longo processo os vencedores, nas diversas categorias, são conhecidos em outubro, enquanto os prêmios são entregues oficialmente em 10 de dezembro, no caso do Prêmio Nobel da Paz em Oslo.

Da Redação

 

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