Fake news, uso da máquina pública e baixarias marcaram segundo turno
O que tinha ocorrido nas eleições presidenciais de 2018 foi reproduzido em várias capitais e cidades do país nesta reta final nas disputas municipais. Os candidatos da oposição, em particular do PT, foram alvo de mentiras, intrigas e enfrentaram a engrenagem administrativa, que funcionou em favor dos prefeitos que concorriam à reeleição ou estavam com afilhados na corrida eleitoral
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O Brasil viveu neste segundo turno as eleições mais sujas de sua história, diante da conivência das autoridades e da mídia hegemônica, retrocedendo o país aos tempos da República Velha. O que tinha ocorrido nas eleições presidenciais de 2018 – com a rede de mentiras atuando de maneira maliciosa e apregoando fake news contra o candidato do PT, Fernando Haddad, foi reproduzido em várias capitais e cidades do país. Os candidatos da oposição progressista, em particular do PT, mas também do PSOL e do PCdoB – como Guilherme Boulos, Edmilson Rodrigues e Manuela D’Ávila, foram alvo de ataques mentirosos, com o uso abusivo das máquinas públicas e a compra de votos.
Um dos alvos principais da máquina de ódio foi a candidata do PT em Recife, Marília Arraes. Ela chegou a acusar a campanha adversária de ter usado fake news e ataques para ganhar a eleição, na reta final, diante do fato de ter disparado na preferência do eleitor, de acordo com as pesquisas. “O adversário começou o segundo turno baseado em fake news, fazendo diversos ataques. Lutamos contra duas máquinas (dos governos estadual e municipal) desde 2016; chegamos aqui ao final do segundo turno com votação expressiva, o que mostra a insatisfação com a atual gestão”, afirmou, na noite deste domingo, depois que a Justiça Eleitoral anunciou a eleição de João Campos (PSB). “Tenho a consciência tranquila que fizemos uma campanha limpa”, reiterou.
A indignação de Marília tinha razão de ser. Nas últimas 48 horas, a mídia alternativa e as redes sociais alertaram para o uso abusivo da máquina da Prefeitura do Recife em favor de João Campos. Parlamentares petistas reagiram ao jogo traiçoeiro, que correu em plena luz do dia das eleições, neste domingo, com eleitores apontando até o uso de carreatas e da campanha de boca de urna em diversos bairros do Recife. “Nunca vi nada tão podre, tão sujo, tão rasteiro como foi a eleição no Recife”, reforçou a vereadora Liana Cirne Lins (PT), a mais votada na eleição de 2020. “Nós tivemos uma lavagem de compra de votos e de boca de urna. Há centenas de vídeos”, denunciou. A máquina pública administrada pelo prefeito Geraldo Júlio (PSB) contra a candidata Marília Arraes. Ela também foi alvo de intensa campanha de fake news de caráter religioso, na última semana.
A situação denunciada pela vereadora recifense se repetiu em diversas capitais e cidades do país. Em Porto Alegre, uma pesquisa falsa do Datafolha foi divulgada “oficialmente” pela mídia local, no sábado, dando vitória ao adversário de Manuela D’Avila. Durante todo o processo eleitoral, a candidata do PCdoB foi alvejada por uma enxurrada de fake news difamatórias, com ataques misóginos e machistas. A sórdida campanha levou o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul a determinar a retirada de 529.075 compartilhamentos de notícias falsas publicadas no Facebook contra a candidata do PCdoB.
A mentira como arma política
No último dia da campanha, relatório do PT identificou uma bateria de fake news contra os candidatos e candidatas da legenda que estavam disputando o segundo turno. Em Vitória, mentiras foram espalhadas denunciando o falso patrimônio milionário da filha de João Coser. O candidato adversário, Lorenzo Pazolini (Republicanos), ainda inventou um suposto bloqueio de bens do candidato. Em Contagem, em Minas Gerais, ataques conservadores acusavam – via WhatsApp – a candidata Marília Campos com a surrada lavagem cerebral da “ideologia de gênero”. Em São Gonçalo, no estado do Rio, a campanha bolsonarista que apoiou o candidato Capitão Nelson (Avante) envolveu o petista Dimas Gadelha em falsas “prática de corrupção”.
Mesmo em cidades onde o PT venceu a eleição, a ação do submundo atingiu as campanhas nos últimos dias. Além dos ataques ideológicos, em Contagem, Marília Campos também teve de enfrentar a distribuição de milhares de panfletos utilizando o CNPJ de sua própria campanha. O panfleto apócrifo anunciava o apoio do atual prefeito da cidade, profundamente rejeitado na cidade. O panfleto foi distribuído nos bairros populares, em alguns deles de casa em casa.
Em Guarulhos (SP), Vitória da Conquista e Feira de Santana, ambas na Bahia, o uso da máquina pública foi acionado escandalosamente na reta final de campanha. Os atos criminosos incluíram a distribuição de cestas básicas, atuação eleitoral de funcionários das prefeituras e outras formas de pressão. Favoritos nas pesquisas, os candidatos Elói Pietá, que estava na frente nas pesquisas eleitorais em Guarulhos, assim como Zé Neto e Zé Raimundo, que concorriam nas duas cidades baianas – a segunda e a terceira maior do estado – sofreram as consequências da ação subterrânea dos respectivos adversários, que disputavam a reeleição usando acintosamente a máquina pública.
A campanha de ódio ao Partido dos Trabalhadores apenas reforçou o papel de oposição da legenda no processo político em curso no país. “O PT venceu em 4 de 15 cidades no 2º turno (Contagem, Juiz de Fora, Diadema e Mauá) e teve mais de 40% dos votos em nove delas. Vencemos com o PSOL em Belém, lutamos ao lado de Boulos e Manuela. E o Brasil viu o que fizeram para barrar Marília em Recife. O PT segue junto com o povo”, afirmou a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann.
Da Redação