“Famílias dormindo na rua não é de Deus”, afirma Benedita em reunião com Lula

Em encontro com evangélicos em São Paulo, nesta quarta (19), Lula entregou carta de compromisso com a liberdade religiosa e reforçou o papel das igrejas no combate à pobreza. “É um trabalho social excepcional”

Lula: igrejas podem contribuir com ações e programas sociais de combate à pobreza (Foto: Ricardo Stuckert)

As igrejas terão papel fundamental na assistência social e no combate à pobreza no país, reforçou o ex-presidente Lula, na manhã desta quarta-feira (19), em encontro com evangélicos em São Paulo. Diante dos líderes religiosos, Lula entregou uma Carta Compromisso com os Evangélicos. O documento, que foi lido pelo na íntegra, reforça seu compromisso com a fé e a liberdade religiosa no país. No evento, Lula elogiou ações de solidariedade das igrejas em todo o Brasil.

“Os evangélicos prestam um trabalho social excepcional em muitos lugares do país”, ressaltou Lula. “Tem muita gente séria na função de pastor, tratando da fé e da espiritualidade das pessoas”, emendou.

Ele criticou, no entanto, a crueldade daqueles a quem considera falsos pastores, que usam a fé para espalhar mentiras e disputar espaços políticos. “Uma família, quando sai de casa para a ir a uma igreja, seja católica ou evangélica, não vai para escutar um discurso político. Vai para orar, para assumir compromisso com Deus.

“A dúvida que colocam sobre nós é uma das armas para evitar que a gente ganhe as eleições”, apontou Lula, lembrando que, em 2018, Fernando Haddad sofreu as mesmas acusações de alguns setores de igrejas quando foi candidato à Presidência. “Desde que criamos o PT, a gente vive tendo de se explicar”, lamentou. “Não é a primeira vez que fazemos carta aos evangélicos. Toda eleição há uma quantidade de mentiras que nos obriga a fazer carta”.

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Mentiras de Bolsonaro

Lula lamentou a baixeza de Bolsonaro e seu exército, que inventam, todos os dias, mentiras sobre ele e o PT. “Agora inventaram a história do banheiro unissex. Tenho família, filha, neta e bisneta. Só pode ter saído da cabeça de satanás essa história”.

Lula lembrou de sua criação e dos valores cristãos de sua mãe. “Família para mim é coisa sagrada. Quando vejo colocarem em dúvida nossa relação e respeito com as famílias, fico ofendido. “Se um pastor quer fazer política, ele que vá para a rua, não pode fazer isso na igreja”, ensinou. “Pastor não pode se aproveitar da autoridade dentro da igreja para mentir, isso depõe contra a igreja”.

“Quando resolvi fazer a carta, foi por respeito a vocês. Porque sei o quanto as pessoas sérias sofrem para enfrentar os mentirosos, tanto na igreja evangélica, quanto na católica”.

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Volta da miséria

Lula enumerou os motivos pelos quais está voltando a presidir o país, a partir de 2023. “Não me conformo desse país ter voltado à miséria, que tínhamos acabado”, reclamou. “Não é possível o país ser o terceiro produtor de alimento, o primeiro de proteína animal do mundo, e o povo está passando fome. Faz cinco anos que não aumentam o salário mínimo, a merenda escolar, as pessoas estão arrumando bico, não há mais garantias”, queixou-se.

“Não somos mais respeitados, ninguém quer mais vir aqui. O presidente faz propaganda de arma e deixou o ensino médio sem livro didático, 300 mil crianças sem creche. Que mundo é esse?”, indagou. Apesar do quadro de destruição perpetrado por Bolsonaro, Lula mostrou-se otimista aos líderes religiosos. “Acredito que vamos consertar esse país, esse povo vai voltar a sorrir, com Alckmin ao meu lado”.

Direitos humanos

“Entre nós e Bolsonaro, não se pode ter dúvida. Vocês podem colaborar , conversando com mais pessoas, sabendo que tem quem não gosta da gente e conversar com elas. Saber qual a dúvida têm, é preciso convencê-las”, pediu. “Boa parte dos programas sociais pode ser feito pelas igrejas”, insistiu.

Lula lamentou que Bolsonaro não tenha respeito pela verdade e pelos direitos humanos, citando o caso das adolescentes venezuelanas. “A última coisa grave que ele fez foi aquela visita às meninas da Venezuela. Depois, acordou 1h da manhã para tentar se explicar para a opinião pública. Ele não tem respeito”, criticou.

“O futuro a gente faz”

O candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin lembrou do histórico discurso de Martin Luther King, no qual falava de um sonho de paz que “removeu montanhas de preconceito e exclusão” nos EUA. “Ele falava de vida e de inclusão, não de morte”, destacou o ex-governador de São Paulo.

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“Por isso estamos juntos, temos o dever de nos unir e trabalhar até o dia 30 para o Brasil iniciar um novo momento de esperança, paz, conciliação, desenvolvimento, emprego, oportunidade aos jovens, amparo aos que precisam de saúde, atendimento aos aposentados”, descreveu. “O futuro a gente faz e Lula representa as maiores virtudes do cristianismo, que é o amor ao próximo”.

Pacificação do país

A presidente Nacional do PT Gleisi Hoffmann afirmou que o encontro com os evangélicos é muito importante para pacificar o país. “Eu sei o que vocês estão passando na militância e no dia a dia das igrejas porque temos observado o que está acontecendo, com a manipulação da religião e da fé no nosso país. É muito triste”, disse.

“Nunca utilizamos a fé, a religiosa para fazer disputa política”, comentou, ao abordar a história do partido. Gleisi frisou que não é papel de pastores ou de igrejas pregarem mentiras, e sim a solidariedade e o amor. “Mas tenho certeza de que venceremos isso, porque a verdade sempre vence. Sigamos juntos, pela verdade, pela vida e fé que temos”.

“Famílias na rua não é de Deus”

A deputada federal Benedita da Silva, do Núcleo de Evangélicos do PT, lamentou o uso da religião para disputa política, “fazer o uso de uma liderança diante de nossas igrejas para transformar o culto em palanque”.

“Não é possível uma liderança se apossar de um púlpito, que prega a paz, o amor a vida inteira, e depois isso serve como uma interpretação fora do contexto bíblico, do objetivo de Jesus”, exclamou Benedita.

“Ainda não matamos a fome de milhões e milhões, mas temos uma pessoa que pôde tirar mais de 36 milhões da miséria”, apontou. “Não queremos mais fome, não podemos concordar com famílias inteiras dormindo na rua, isso não é de Deus”, concluiu Benedita.

“Irmão contra irmão”

“Estou mujo preocupado com o que está acontecendo no país, há uma política de Estado colocando irmão contra irmão”, pontuou o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad.

“É muito triste ver padres, pastores, sendo agredidos, isso não pode ser o Brasil. Isso não vai nos levar à prosperidade econômica, ao desenvolvimento social, à paz que tanto ansiamos”, alertou Haddad. “Vamos lutar muito, até dia 30, para colocar na Presidência alguém digno do cargo, e é o presidente Lula”, concluiu.

Do lado da verdade

“Nós optamos ficar ao lado da verdade”, afirmou o pastor Ariovaldo Ramos. “Somos contra essa onda de fake news, o uso da nossa fé para espalhar a mentira, a inverdade e destruir o nosso povo”.

O pastor brincou sobre o propósito da reunião: “Tivemos de pedir ao presidente vir aqui e dizer ao nosso povo que irá continuar não fazendo o que nunca fez”, disse, arrancando risos da plateia. Ele referiu-se às fake news de Bolsonaro de que Lula iria mandar fechar igrejas depois de eleito.

“O senhor sempre nos tratou com honra e deferência”, agradeceu o pastor, lembrando ainda que foi Lula quem atendeu o anseio dos evangélicos quando promulgou a lei de liberdade religiosa no país, em 2003.

Injustiça

Marina Silva, eleita deputada federal pela REDE (SP), alertou para a injustiça cometida pelos que acusam Lula, de modo leviano, de que vai fechar igrejas. “São pessoas que, muitas vezes, foram ao Palácio [do Planalto], sentaram com o senhor, oraram, viram leis sancionadas pelo senhor, isso é doloroso”, frisou.

Marina observou que a Bíblia ensina que se deve lutar pelos necessitados, vulneráveis e os que se encontram “desolação”. “Esse compromisso com os vulneráveis já está mais do que provado, com os programas que fizeram diminuir o sofrimento do povo. “Saímos do Mapa da fome para onde, infelizmente, voltamos”.

Encontro histórico

Eliziane Gama, senadora do Cidadania (MA), classificou o encontro de Lula com os evangélicos como histórico. “É o momento em que o presidente Lula fala com o Brasil, com o povo evangélico, para suplantar as fake news, as mais absurdas, que estão sendo distribuídas Brasil afora.

“É o momento de seu reconhecimento de que temos um estado laico, mas também com a compreensão de que temos uma diversidade religiosa grande, uma pluralidade, onde todos devem ser alcançados pelo serviço e política públicos”, enfatizou.

Causa evangélica

Candidata a vice-governadora de São Paulo na chapa de Haddad, Lucia França pediu que Lula e Alckmin abracem a causa dos evangélicos e que cuidam dos jovens em drogadição, citando o exemplo do próprio irmão caçula.

“Essa é a maior mazela a entrar nas nossas famílias e, sem o apoio das igrejas, a gente não consegue um milgare, precisamos das igrejas”.

Carta compromisso com os evangélicos

Antes do discurso de Lula, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, leu a carta aos presentes. Após, os presentes participaram de uma oração. Diz um trecho da carta:

“Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé”.

Leia a íntegra do documento aqui.

Da Redação

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