Gilney Viana: O Congresso Livre do PT

A crise atual do PT é muito séria. As razões desta crise são várias, das quais eu destacaria duas referentes à luta de classe: dificuldades para enfrentar o forte ataque…

A crise atual do PT é muito séria. As razões desta crise são várias, das quais eu destacaria duas referentes à luta de classe: dificuldades para enfrentar o forte ataque de inimigos e adversários tanto aos acertos como aos erros do partido ou aos acertos e erros do governo Dilma que são imputados ao partido (buscando transformar a vitória eleitoral de 2014 em derrota política de 2015) e um certo esgotamento do lulismo (a estratégia real do PT, tanto para ganhar eleições como para governar); e duas referentes à sua identidade e protagonismo: a perda de referencial ideológico socialista (vale dizer, de sua identidade original) e a degeneração dos seus métodos internos de disputa, convivência e direção (resumindo, degradação de sua democracia interna).

Essas e outras razões são concorrentes e merecem estudo e debate aprofundado. É o que se espera do V Congresso do PT, a se realizar neste ano. Contudo são legítimas as dúvidas se este Congresso oficial do partido terá condições de fazer uma crítica profunda tanto à intervenção na luta institucional como à sua experiência de governar; tanto à sua prática nas lutas sociais como ao seu modo de praticar a democracia interna. Sem essa crítica fica difícil acreditar em autocrítica que, para ter efeito real na vida partidária, exige a formação de uma consciência coletiva da necessidade de refazer sua política e do seu modo de fazer política. É sobre isto que concentrarei este artigo, expressão de uma luta interna necessária, sem descuidar da luta externa contra as intensões golpistas de deslegitimar o PT e desconstituir o governo Dilma.

O V Congresso (segunda etapa), baseado em delegados e direções eleitas pelo PED de 2013, descolado de teses políticas e posturas ideológicas e viciado pela internalização de práticas comuns às eleições institucionais (incompatíveis com um partido socialista e democrático), será incapaz de enfrentar essas tarefas se o PT não mobilizar sua militância, ou a militância se auto mobilizar, independentemente das estruturas formais do Congresso, mas com força para influenciá-lo.

Este processo, admitido pelo Diretório Nacional como “Plenárias Livres”, só terá sucesso se for capaz de mobilizar a inteligência da militância política e social para apontar caminhos para a classe trabalhadora e forjar um ambiente de disputa de ideias e não de aparelhos e postos de direção no Partido ou no Estado.

Não basta substituir o Processo de Eleição Direta (PED) por eleições congressuais e tão pouco promover o recadastramento dos filiados. Um processo de superação da crise exigirá mais que reestruturações internas, exigirá redefinições estratégicas, e o que é mais importante, uma nova práxis que supere o fosso entre a teoria e a prática, o falar e o fazer, o que somos e o que queremos ser.

Esta é a proposta do Congresso Livre do PT.

Gilney Viana é ambientalista e militante do PT no Distrito Federal

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