Gleisi condena omissão do Santander e cobra medidas sobre ‘nota’ golpista

Presidenta do PT rebate alegação do banco de não censurar consultor que defendeu golpe contra Lula. “Além de ofensivo a uma corrente política legítima, o texto estimula uma visão antidemocrática sobre processo eleitoral”, denuncia

A presidenta Nacional do PT Gleisi Hoffmann condenou, nesta segunda-feira (16), a posição do banco Santander em relação a um relatório assinado por Victor Candido, consultor da instituição, no qual especula sobre um golpe para evitar a volta de Lula à Presidência. O documento foi enviado a clientes e operadores financeiros da instituição na semana passada.

O relatório avalia que “ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro”. Diante da possibilidade de uma vitória de Lula nas eleições de 2022, no entanto, Candido afirmou: “É possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”.

Em carta enviada à diretoria do banco, Gleisi cobrou medidas da presidenta da instituição e lembrou que o ex-presidente Lula foi inocentado na Justiça.  “Ao fazer referência ao que chama de “máquina de corrupção do governo Lula”, tal documento ofende não apenas o ex-presidente e seu partido. Ofende a verdade e o Poder Judiciário do Brasil”, diz trecho da nota da presidenta do PT.

Após o vazamento do relatório, o banco emitiu uma nota, eximindo-se de qualquer responsabilidade e muito menos anunciando medidas contra o consultor. Segundo o banco, “o conteúdo trata-se, tão somente, de avaliação feita por uma consultoria independente – que não censuramos e por cujo teor não nos responsabilizamos -, repassada a um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional”.

“Não se trata de permitir a circulação de análises, livre de censura, como alega o banco em sua manifestação”, rebateu Gleisi. “Trata-se de divulgar e revestir com sua credibilidade um texto que, além de ofensivo a uma corrente política legítima, estimula uma visão golpista e antidemocrática em relação ao processo eleitoral brasileiro”.

A nota cobra ainda uma retração pública do banco e providências quanto aos contratos firmados com a empresa de consultoria. “Tais fatos, gravíssimos, cobram mais que uma retratação pública do Grupo Santander pelas ofensas a Lula e ao PT. Exigem que se posicione também sobre a relação contratual com a empresa que produziu o texto divulgado nos canais institucionais do Santander”.

Leia a íntegra da nota abaixo.

       À Sra. Ana Botín-Sanz de Sautuola y O`Shea, Presidenta Executiva, e aos membros do Conselho de Administração do Banco Santander,

        Prezadas senhoras,

        Prezados senhores,

             É de conhecimento geral a divulgação pelo Banco Santander no Brasil a seus clientes, na última semana, de documento injurioso ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

             Ao fazer referência ao que chama de “máquina de corrupção do governo Lula”, tal documento ofende não apenas o ex-presidente e seu partido. Ofende a verdade e o Poder Judiciário do Brasil.

             É fato de repercussão mundial que o Supremo Tribunal Federal, em julgamentos realizados em março e abril deste ano, anulou todas as condenações ilegais e injustas impostas a Lula pelo ex-juiz Sergio Moro, declarado suspeito, parcial e incompetente nas decisões do STF.

             A este julgamento, que restabeleceu a inocência do ex-presidente perante a lei e a Constituição do Brasil, somam-se outras 12 decisões judiciais em diversas instâncias que o absolveram plenamente diante de denúncias sem justa causa.

             Dentre estas decisões, destaca-se sentença da 12ª. Vara da Justiça Federal de Brasília, de dezembro de 2019, que absolveu Lula, ex-ministros e dirigentes do PT da falsa acusação de formação de quadrilha para desviar recursos públicos.

              Além de declarar a absoluta improcedência da acusação, o juiz federal Marcus Vinícius Reis Bastos apontou na sentença: “A denúncia apresentada, em verdade, traduz tentativa de criminalizar a atividade política”.

              Tais decisões judiciais, claríssimas, contrastam com a afirmação leviana e desprovida de qualquer argumento ou prova que se apresenta no documento distribuído pelo Banco Santander a seus clientes e investidores no Brasil.

              A divulgação do documento por instituição financeira com sede em outro país revela-se ainda mais descabida pelas menções que faz à alegada conveniência de um golpe de estado no Brasil ou de uma nova condenação política de Lula, para evitar sua eleição.

              A manifestação pública da instituição sobre o episódio, divulgada em 13 de agosto, é totalmente insatisfatória ante a gravidade dos fatos.

              Não se trata de permitir a circulação de análises, livre de censura, como alega o banco em sua manifestação.  Trata-se de divulgar e revestir com sua credibilidade um texto que, além de ofensivo a uma corrente política legítima, estimula uma visão golpista e antidemocrática em relação ao processo eleitoral brasileiro.

               Tais fatos, gravíssimos, cobram mais que uma retratação pública do Grupo Santander pelas ofensas a Lula e ao PT. Exigem que se posicione também sobre a relação contratual com a empresa que produziu o texto divulgado nos canais institucionais do Santander.

                Sem prejuízo do atendimento à interpelação extrajudicial que estamos encaminhando à direção-executiva e ao Conselho de Administração do Banco Santander, são estes os posicionamentos que aguardamos, em respeito devido à verdade, ao nosso partido e nossos dirigentes; em respeito à Justiça e à democracia no Brasil.

Atenciosamente,

Gleisi Hoffmann,

Presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores

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