Gleisi na CNN: Renda Brasil é oportunismo político de Bolsonaro

A presidenta nacional do PT criticou o descaso do presidente com a pandemia que assola o país e as medidas econômicas que pretendem retirar direitos da população

Foto: Alessandro Dantas

Gleisi Hoffmann: "a anulação das condenações é um pedido de justiça da sociedade brasileira"

Em entrevista à Rede CNN, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o projeto Renda Brasil que vem sendo anunciado por Jair Bolsonaro para substituir o Bolsa Família é puro oportunismo político, pois o atual presidente nunca se preocupou com a situação dos mais pobres do país.

“Ele sempre teve descaso com o Bolsa Família, dizia que era uma ajuda para vagabundo. Ele vai propor o que? Mudar o nome do Bolsa Família para Renda Brasil?  Só para dizer que tem um programa social, aumentar um pouquinho o valor e tirar o abono salarial, tirar o seguro desemprego e o benefício de prestação continuada? Isso tem um impacto na vida das pessoas”, afirmou.

Gleisi citou como exemplo o processo de aprovação da renda emergencial de seiscentos reais aprovada pelo Congresso.

“Quando nós propusemos a renda emergencial que era um salário mínimo, ele queria pagar duzentos reais. Foi a articulação da oposição no Congresso que fez com que se aprovasse os seiscentos reais. Este recurso chega justamente até as camadas mais pobres da população e como é governo que paga isto acaba sendo avaliado pela população que é uma iniciativa de Bolsonaro, mas não é”.

‘Mais Bolsa Família’

Ela falou durante a entrevista sobre o lançamento pelo PT na semana passada do programa “Mais Bolsa Família” e o que o partido propõe com esta iniciativa.

“O PT apresentou o ‘Mais Bolsa Família’, que é uma reformulação do nosso programa para atingir mais gente e com um maior valor. O Bolsa Família é um programa de renda básica e suplementar, e na nossa proposta nós incluímos a proteção aos trabalhadores que estão hoje em plataformas de serviço que não tem nenhuma garantia de emprego, previdência social, assistência à saúde e trabalham muito. Esse programa sim dá conta de resolver uma parte dos problemas que temos na economia”, explicou.

A presidenta do PT citou ainda uma segunda iniciativa do Partido dos Trabalhadores que diz respeito à questão do emprego.

“A outra proposta que faz parte de um plano que nós vamos apresentar ao país é a garantia de emprego. O Estado brasileiro tem que ter um programa que garanta o emprego das pessoas, ajudar principalmente as micro e pequenas empresas, fazer contratos diretos para que as pessoas tenham renda. O que nós precisamos no país é consumo, um país de 200 milhões de habitantes seria rico para o consumo, mas que tem uma população pobre que não tem renda e vem o Paulo Guedes com a proposta de reforma tributária que quer aumentar os tributos, os impostos dos serviços, mas diminuir o imposto de bancos”.

Ela relembrou os motivos do lançamento do programa Bolsa Família por Lula e o oportunismo de agora praticado por Bolsonaro.

“Quando o presidente Lula implantou o Bolsa Família é porque tinha a necessidade no Brasil de as pessoas poderem comer três vezes ao dia, muita gente comia uma vez só e as crianças morriam de desnutrição. O Lula sabia do que estava falando porque ele veio deste meio social. Ele fez por solidariedade ao povo. Foi a primeira vez que o combate à fome virou política de Estado. Agora, este oportunismo político de Bolsonaro pode até fazer um efeito, mas não é um efeito sustentável. A verdade sempre vai aparecer e na hora do debate ele vai se trair sobre isso, pois não é o que ele pensa ou representa”, criticou.

Gleisi Hoffmann fala à CNN sobre o cenário político nacional

Gleisi Hoffmann fala à CNN sobre o cenário político nacional

Julkaissut Gleisi Hoffmann Lauantaina 25. heinäkuuta 2020

Impopularidade de Bolsonaro

Durante a entrevista, Gleisi Hoffmann analisou dados da pesquisas que apontam o presidente Jair Bolsonaro com apenas 30% de aprovação popular.

“Hoje apenas 30% da população aprova o governo de Jair Bolsonaro e ele não completou nem dois anos de um mandato que começou com uma avaliação muito superior, de quase 60%. Isto mostra o desencanto da população com este governo, com a forma dele enfrentar a pandemia. Em março, a Organização Mundial da Saúde avisou ao mundo que o vírus se espalharia por todos os continentes e que ele matava o mundo deveria se preparar. Jair Bolsonaro não se preparou, não articulou com os governadores, nem com os prefeitos com a área de saúde, ao contrário, brigou o tempo inteiro, fez pouco caso da doença e a tratou como uma gripezinha. Esta postura levou o presidente a se desidratar em menos de dois anos de governo”

Gleisi comparou a performance negativa de Bolsonaro com a aprovação popular de outros presidentes da América Latina e Europa.

“O fato dele estar com ainda com 30% de aprovação se deve em grande parte a um projeto da oposição, que é a renda emergencial. Ele não vai conseguir manter este percentual porque as medidas que eles estão propondo para a economia brasileira e a forma como estão tratando a pandemia vai nos levar a uma tragédia social. Todos os presidentes das repúblicas que enfrentaram a pandemia cresceram na avaliação popular. Na Argentina, por exemplo, a população tem uma avaliação positiva do seu presidente em torno de 70%. Em outros países como o Chile também, e na Europa também. Os únicos dois que desidrataram e perderam popularidade foram o Trump e o Bolsonaro,  que quer fazer aqui tudo de ruim que o Trump faz nos Estados Unidos”, denunciou ela.

Queiroz e Centrão

Na entrevista, Gleisi afirmou também que o fato de Jair Bolsonaro ter se recolhido nas últimas semanas se deve à prisão de Queiroz e o medo de um processo de impeachment no Congresso Nacional.

“Bolsonaro quer salvar a sua pele até 2022, se salvar do impeachment. Lembra a história do cachorro bravo em que você põe uma focinheira, mas ele continuará bravo. O Centrão seria uma espécie de focinheira. O Queiroz também. Imagine se ele faz uma delação ou se o processo continuar firme. Então ele está medindo as palavras desde a prisão do Queiroz, para não se comprometer e comprometer os filhos. O pessoal liberal, que tem interesse na pauta do Paulo Guedes, que estava falando mal dele já se acalmou. Então já existe um acordo, desde que Bolsonaro fique quieto vão mantê-lo até 2022. Se ele abrir a boca e falar besteira desestabiliza o cenário econômico que esses agentes tem interesse em continuar, como a aprovação da reforma tributária e as privatizações”, disse.

“O PT é o maior partido do Brasil e o maior de esquerda da América Latina. Não querer deixar o PT participar da vida política é um ataque sem precedentes à democracia. O PT é um instrumento do povo na luta popular”, afirma Gleisi. Foto: Ricardo Stuckert

Liderança de Lula

Sobre a influência política de Lula no momento atual colocada em dúvida pelos entrevistadores, a presidenta nacional do PT destacou a liderança nacional e internacional do ex-presidente.

“Lula é uma liderança antagônica a Jair Bolsonaro, qualquer pesquisa aponta isto, ele tem um recall muito grande no país. O PT optou para que Lula, após sair da prisão, fosse fazer algumas viagens internacionais para agradecer o apoio recebido de vários líderes internacionais. Inclusive foi recebido pelo Papa Francisco, no Parlamento Europeu, por representantes de partidos e movimentos sociais na Alemanha, França, entre outros. Na volta, ele reiniciaria as caravanas pelo Brasil, andar junto ao povo, ele é essencialmente um homem do povo , mas aí veio a pandemia e infelizmente não foi possível realiza-las e hoje Lula e o PT tem que atuar nas redes sociais. E este é um forte de Bolsonaro, mas em que ele atua inadequadamente, o que agora está sendo revelado para o país: as páginas falsas, publicidades do governo em veículos que reforçam o discurso de ódio e com vários empresários custeando atividades políticas de bolsonaristas, o que já está sendo investigado”, afirmou.

Gleisi denunciou a intenção da grande mídia de tornar Lula e o PT invisíveis perante a opinião pública.

“A grande mídia quer tornar o ex-presidente invisível. Para a grande mídia, Lula e o PT não existem, a oposição tem pouca voz, e geralmente colocam alguém de direita para criticar a forma como Bolsonaro conduz o governo, mas não a sua pauta econômica. Existe uma aposta recorrente de que o PT vai acabar e ela não tem sido ganha. O PT é muito é forte, muito resiliente e tem base social, tem construção política, uma militância que luta e que vai às ruas porque tem uma causa, mesmo contra toda uma indústria de Fake News”. Lula continua sendo a maior liderança política e popular deste país. Por que o PT abriria mão dele? Ele é uma referência histórica, não só nacional, mas internacional. Cobram muito do PT querendo tirar Lula do jogo, às vezes eu acho que é por medo”, enfatizou.

Adversários são a direita e a extrema-direita

A respeito de uma suposta desagregação das forças de oposição e o isolamento do PT, ele rebateu reafirmando o direito legítimos dos demais partidos investirem em seus quadros e lideranças.

“O PT tem uma atuação muito agregada com as outras forças de oposição no Congresso Nacional. Temos uma proposta muito melhor para a reforma tributária do que a do Guedes, é uma proposta sustentável. Enfrentamos juntos a batalha contra a reforma da Previdência e hoje as questões da pandemia, aprovamos juntos a renda emergencial. A oposição atua de maneira organizada, na luta pela democracia, inclusive agora no ‘Janelas da Democracia’. É natural que os partidos queiram se posicionar, sobreviver. Já nas eleições de 2018 nós não tivemos os partidos todos unidos. Isto é legítimo, os partidos querem lançar os seus quadros para disputar’, afirmou ela.

Gleisi reforçou também a importância do PT no cenário político e quem são os verdadeiros adversários na disputa democrática.

“O PT é o maior partido do Brasil e o maior de esquerda da América Latina. Não querer deixar o PT participar da vida política é um ataque sem precedentes à democracia. O PT é um instrumento do povo na luta popular. Nós temos que respeitar os partidos, pois nem sempre nós vamos juntos. Agora nas eleições de 2020 em alguns lugares nós temos alianças e em outros vamos lutar separados, mas sempre sabendo que os adversários não esses partidos entre si, mas sim a direita e a extrema direita deste país que não tem um projeto de desenvolvimento para o povo. Para eles, o pobre não existe, é apenas uma contabilidade no seu orçamento”, sentenciou.

Da Redação

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