Imprensa internacional avalia negativamente governo golpista de Temer
Para a revista americana TIME, erros de Temer podem ajudar Dilma a reverter votação no Senado. NYT e Página 12 destacaram entrevistas com a presidenta
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O primeiro mês do governo golpista de Michel Temer, marcado pelo retrocesso, retirada de direitos sociais e individuais, ministros demitidos por envolvimento em escândalos, e por atos e protestos contra sua gestão, também não está com uma boa imagem no exterior e é visto como “conivente” com casos de corrupção; essa é a conclusão revelada por uma pesquisa entregue ao Planalto, segundo jornal “O Estado de S. Paulo“.
De fato, publicações estrangeiras tem repercutido com grande interesse as notícias do Brasil, denunciando o Golpe de Estado em curso, o governo formado apenas por homens e brancos e criticando o conteúdo dos áudios vazados por políticos tentando barrar a Operação Lava Jato. As promessas de combate à corrupção feitas por Temer foram criticadas pelo “New York Times”, que cravou: “soam falsas” em reportagem publicada recentemente. O NYT, jornal mais importante dos Estados Unidos, a Al Jazeera, e também o periódico argentino Página 12 deram espaço para longas entrevistas com a presidenta legítima Dilma Rousseff.
Veja abaixo como a imprensa internacional está noticiando os acontecimentos no Brasil:
The Huffington Post
O site americano “The Huffington Post” publicou artigo em que classifica o impeachment como “ultrajante, surreal e tragicômico”. O texto menciona também os avanços do Brasil durante os governos de Dilma e de Lula. Além disso, cita as inúmeras denúncias de corrupção envolvendo membros do Congresso Nacional.
“Desde que ela foi suspensa, o caráter e as intenções daqueles que a impediram se tornaram mais claros dia a dia. Este é realmente um golpe branco, em todos os sentidos da palavra”, afirma.
TIME magazine
Reportagem publicada nesta quarta-feira (8) pela revista “Time”, uma dos mais influentes veículos de comunicação da mídia norte-americana, avalia que os seguidos “choques políticos” do governo do presidente interino Michel Temer trouxeram de volta a possibilidade do retorno da presidente eleita Dilma Rousseff ao poder. “Os desdobramentos conduzem à sugestão de que Rousseff talvez sobreviva ao voto final no Senado sobre seu impeachment, atualmente marcado para o começo de agosto, logo depois do início dos Jogos Olímpicos no Rio”, diz texto assinado pelo correspondente no Rio de Janeiro, Matt Sandy.
Para a revista, as falhas de Temer podem favorecer Dilma, pois “vários senadores agora dizem que poderiam mudar de opinião” em relação ao afastamento definitivo da presidenta, afirma. O texto enumera o que chama de “crises” recentes do governo Temer: anúncio do ministério sem mulheres e negros, saída dos ministros Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência), extinção (e recriação) do Ministério da Cultura.
“Ainda não se sabe se ele conseguirá unir os rachados partidos políticos para tomar decisões econômicas duras em temas urgentes como a reforma previdenciária”, conclui a revista, citando a “decisão controversa” do Congresso de aprovar, em meio ao cenário de recessão e cortes, um aumento de 41% ao funcionalismo.
E afirma que os protestos contra o governo golpista tiram a atenção da Olimpíada. “O drama fora do Estádio Olímpico poderá ofuscar o espetáculo dentro dele”, conclui.
+ Leia reportagem na íntegra (em inglês)
Página 12, Argentina
Em entrevista concedida em Brasília e publicada nesta sexta-feira (10), a presidenta Dilma Rousseff classificou o processo de impeachment como “golpista” e “fraudulento” e reafirmou sua inocência, dizendo que sobre ela “não há nenhuma acusação consistente”. Também refletiu sobre a misoginia e o papel da mulher. “Ainda que seja difícil avaliar, é inegável que proliferam argumentos e comportamentos misóginos ao longo desse processo”, disse. Para ela, no Brasil persiste uma cultura de violência e desigualdade de género que encontrou no processo de impeachment contra uma presidenta canais para se expressar. Mas afirma: “Em vez de nos acovardarmos, esse processo nos fortaleceu. A mim e a todas as mulheres brasileiras. Sobre sua coragem, elogiada até pelos adversários, Dilma respondeu: “Como a maioria das mulheres brasileiras, sou uma lutadora incansável”.
Dilma relembrou que o processo de impeachment surgiu como uma chantagem de Eduardo Cunha, e que as medidas adotadas por Temer foram rejeitadas pelas urnas. “Cunha tem uma agenda completamente oposta à que defendemos. Nas propostas de governo de Temer pode se ver a síntese da agenda de Cunha: ultraliberal na economia e ultraconservadora em direitos individuais e coletivos”.
Sobre a possibilidade de voltar ao cargo, ela disse: “Luto para ser reconduzida à Presidência, porque não cometi nenhum delito de responsabilidade que justifique meu afastamento”. E afirmou: “É importante ter consciência de que o golpe em curso feriu as instituições e piorou o já deteriorado sistema político brasileiro. Não só pela corrupção. O golpe significa um desrespeito à constituição para fins privados e inconfessáveis. É fundamental concretizar reformas no modo de representação da sociedade para fortalecer nossa democracia”, concluiu.
+ Leia entrevista na íntegra (em espanhol)
Al Jazeera, Catar
A emissora “Al Jazeera”, do Catar, entrevistou Dilma em Brasília e publicou: “O roteiro desta novela política é basicamente feito de: escândalos de corrupção quase diariamente em todos os partidos políticos, mais recentemente, do presidente interino Michel Temer”.
“Se você me perguntar o que teria feito de diferente, eu diria ‘várias coisas’. Entre elas, as alianças que fomos obrigados a fazer para governar. Tanto é assim que a prova maior de que me equivoquei nisso é que meu vice-presidente foi, inquestionavelmente, o elemento-chave desta conspiração que leva ao golpe”, disse Dilma à repórter Lucia Newman.
“Al Jazeera” escreveu: “Temer, que até um mês atrás era seu vice, virou-se contra Dilma Rousseff, para que ela enfrentasse um impeachment”. A publicação citou, também, vazamentos de conversas telefônicas dos ministros nomeados pelo governo golpista.
O texto informa que “Dilma não é acusada de “roubar para fins pessoais”, enquanto 60% dos políticos brasileiros são investigados por crimes de corrupção, incluindo “o presidente do Senado, quem está conduzindo o julgamento do impeachment”.
New York Times, EUA
Em longa reportagem publicada nesta terça-feira (7) no “The New York Times”, o correspondente Simon Romero mostrou o cotidiano da presidenta eleita Dilma Rousseff após o afastamento temporário da Presidência da República. A matéria também aborda os maus momentos do presidente golpista Michel Temer.
“O governo interino liderado por Michel Temer, o vice-presidente que assumiu o país no mês passado depois de romper com Dilma, sofreu uma série de erros embaraçosos em pouco tempo”, afirmou o jornal, além de destacar a queda dos ministros do Planejamento e da Transparência após o surgimento de gravações telefônicas.
“Eles sempre quiseram que eu renunciasse, mas eu não vou”, disse ela. Dilma argumentou que seus rivais são autores de um golpe de Estado, embora com selo de aprovação da Suprema Corte. “Eu realmente perturbo os parasitas e eu vou continuar a perturbá-los”, disse.
Nesta segunda-feira (6) o mesmo jornal havia publicado o editorial “A Medalha de Ouro do Brasil para Corrupção”, em que questiona a firmeza do compromisso do presidente golpista Michel Temer com o combate à corrupção. O artigo começa fazendo referência à ficha suja de ministros do governo – entre os quais, sete são investigados por corrupção e pede que ele se posicione contra o fim da imunidade parlamentar para ministros e congressistas acusados de corrupção.
Da Redação da Agência PT de notícias