José Serra é lacaio do imperialismo, critica Max Altman

Para jornalista, postura das Relações Exteriores diante do conflito Israel e Palestina mostra política submissa aos Estados Unidos

Mais uma medida do governo interino de Michel Temer (PMDB) está preocupando o mundo. O Ministério Relações Exteriores de José Serra (PSDB) informou que “revisará seu voto” na 199ª Sessão do Conselho Executivo da UNESCO, em uma decisão que dizia respeito à defesa do patrimônio histórico dos territórios ocupados por Israel na Palestina.

A reunião aconteceu em 15 de abril e o voto do Brasil havia acompanhado a maioria dos países: 33 a favor, 6 contra e 17 abstenções. Na avaliação do jornalista e membro do coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT Max Altman, a alteração no voto pode colocar em risco as negociações de paz entre Israel e Palestina. Ele também alerta para uma “mudança de rota” na política externa brasileira.

“Os mais recentes atos de José Serra já nos permitem já considerá-lo um lacaio do imperialismo. Ao pretender dar prioridade às relações com Washington”, afirmou, em entrevista à Agência PT de Notícias.

Segundo Altman, o conflito entre palestinos e israelenses somente poderá ser solucionado se houver pressão internacional. “A revisão do voto do Brasil na Unesco alinha-se à posição dos Estados Unidos. É um gesto escrachado de submissão”.

Ele alerta ainda que o Brasil não pode perder sua independência em política externa nem se submeter a interesses das grandes potências nas relações internacionais.

Abaixo a entrevista completa:

O Ministério das Relações Exteriores de José Serra já ameaçou revisar um voto dado na Unesco em relação à defesa do patrimônio histórico nos territórios da Palestina. O que significa, atualmente, fazer frente às políticas de Israel que impõem diversas restrições aos territérios palestinos?
Israel mantém desde a Guerra dos Seis Dias de 1967 ocupação de territórios pertencentes aos palestinos. A Resolução 242 das Nações Unidas – jamais cumprida pelos sucessivos governos israelenses – determinava a desocupação desses territórios, estabelecendo que as fronteiras entre os dois países deveriam ser aqueles anteriores ao citado conflito bélico. Esta é a questão central.

Ao longo dos últimos quase 50 anos, Israel tratou de alargar a ocupação sobre a área oriental de Jerusalém, com a política de assentamentos que ocupou porções importantes dos terras palestinas. Houve tentativas de solução negociada que, por várias razões, fracassaram.

A tensão crescente resultou de lado a lado em atos de terrorismo e terrorismo de Estado, em intifadas, em ataques bélicos de grandes proporções, como os de Gaza, que resultaram em verdadeiro genocídio do povo palestino. Os recentes governos de direita de Israel recusam-se a respeitar sucessivas resoluções da ONU e impõem condições duras para sentar-se à mesa das negociações.

Qual pode ser uma saída para esta situação?
O conflito Israel/Palestina é um tema extremamente complexo, porém só a pressão dos países e das instituições internacionais, em especial os Estados Unidos, o maior parceiro e aliado de Israel na região, poderá levar as partes à mesa de negociações. A tese dos Dois Estados, com fronteiras definidas e reconhecidas, com garantia de segurança mútua, defendido pela maioria das nações, pela ONU e até pelo Vaticano, é a prevalecente atualmente e tem condições de avançar.

Max Altman é jornalista e membro do coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT (Foto: Vanessa Martina/Opera Mundi)

Max Altman é jornalista e membro do coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT (Foto: Vanessa Martina/Opera Mundi)

Em sua avaliação, José Serra pode colocar em risco as relações diplomáticas contruídas por Lula e Dilma no Oriente a partir de 2003?
Os mais recentes atos de José Serra já nos permitem já considerá-lo um lacaio do imperialismo. Ao pretender dar prioridade às relações com Washington – talvez para ter como contrapartida imediata o apoio ao governo ilegítimo de Michel Temer, ainda em sua interinidade – Serra tem de pagar o preço.

A revisão do voto do Brasil na Unesco alinha-se à posição dos Estados Unidos. É um gesto escrachado de submissão. A intenção de revisão do voto dado pelo Brasil na 199ª sessão do Conselho Consultivo da Unesco causou estranheza entre seus membros. A votação dizia respeito à defesa do patrimônio histórico dos territórios ocupados da Palestina.

O voto do Brasil acompanhou na ocasião a grande maioria: 33 a favor e 6 contra – entre eles, é claro, o dos Estados Unidos – além de 17 abstenções. O centro da questão pretextada por Serra é a utilização da expressão “potência ocupante” com referência a Israel. O documento faz menção também à violação dos direitos humanos, status quo que vigora desde 1967.

Segundo Serra, o fato de que a decisão não faça referência expressa aos vínculos históricos do povo judeu com Jerusalém não passa de mero pretexto. E ameaçou que o governo brasileiro irá revisar seu voto caso as “deficiências” não sejam sanadas em futuro exame do tema pela Unesco.

José Serra disse que faria uma “política externa apartidária”. Por que é importante estar alerta diante deste discurso?
A denúncia dos defensores de uma paz justa e negociada no Oriente Médio e da constituição de um Estado palestino viável e reconhecido é de que a posição tradicional e constitucional do Brasil não pode ser violentada. O Brasil não pode perder sua independência em política externa nem se submeter aos interesses geoestratégicos das grandes potências. A defesa da multipolaridade nas relações internacionais precisa prevalecer e isto é parte do interesse nacional permanente da nação brasileira.

Por Daniella Cambaúva da Agência PT de Notícias

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