Lula e Dilma lamentam morte de Aldir Blanc

Compositor morreu nessa madrugada aos 73 anos, após lutar por 25 dias contra a Covid-19. Ex-presidenta criticou o “criminoso descaso” do governo diante da “maldita epidemia”. Gleisi diz que o compositor ensinou o Brasil a cantar com a alma das ruas

Bruno Caramori

Aldir Blanc - (Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1946 — Rio de Janeiro, 4 de maio de 2020)

Nessa noite, bêbados, equilibristas e abstêmios estarão trajando luto. A morte do carioca do Estácio e vascaíno Aldir Blanc Mendes, 73 anos, o homem que declarou “glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa História, não esquecemos jamais”, foi lamentada pelas principais lideranças do Partido dos Trabalhadores.

Em seu perfil oficial no Twitter, Luiz Inácio Lula da Silva destacou que Aldir Blanc foi um compositor brilhante, autor de canções que emocionam gerações de brasileiros. “O Brasil, sua cultura e democracia devem muito ao seu talento e generosidade. Torcíamos pela sua recuperação. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e fãs de Aldir Blanc”, escreveu o ex-presidente.

Dilma Rousseff, em três postagens na mesma rede, lamentou que a morte de Aldir privasse o país de um grande poeta, causando uma dor imensa, “pois rouba do nosso povo uma voz que falava de nossas lutas, nossas dores e amores, nossas tristezas e alegrias”.

A ex-presidenta relembrou canções, entre mais de 500, em que o compositor traduziu como ninguém o amor pelo Brasil, obras-primas como ‘O mestre-sala dos mares’, ‘Amigo é pra essas coisas’, ‘Rancho da Goiabada’, ‘Bala com Bala’ e o ‘O bêbado e a equilibrista’, “hino da anistia e da luta contra a ditadura”.

Ao fim, Dilma Rousseff afirma que “Aldir deixa legado de grandeza e dignidade em poemas e manifestações firmes contra a opressão e a desigualdade e em defesa da democracia. A maldita epidemia que o levou, tratada com criminoso descaso pelo governo, pode ter silenciado sua voz, mas o povo a manterá viva no coração”.

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também lamentou a morte do compositor. “Aldir Blanc ensinou o Brasil a cantar com a alma das ruas. Seus versos nos fazem ter esperança nas horas mais difíceis”, escrevei no Twitter. E encerrou, citando um de seus versos: “Uma dor assim pungente nao há de ser inutilmente…”

Luta por UTI

Em 10 de abril, Aldir foi internado no hospital municipal Miguel Couto, no Leblon (Zona Sul), com infecção urinária e uma pneumonia leve. Quatro dias depois, seu estado se agravou e, após campanha da filha, Isabel, por um leito, ele foi transferido para a UTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel – a terra de Noel Rosa, onde Aldir passara a infância.

 

Diagnosticado com a Covid-19 em 23 de abril, Dia de São Jorge, Aldir guerrreou com a dignidade de um mestre-sala contra a doença até tombar na madrugada desse 4 de maio. Mari Blanc, esposa de Aldir, também foi infectada. Ela se encontra internada na Casa de Saúde São João de Deus, em Santa Teresa (Centro), e passa bem.

Aldir Blanc escreveu alguns dos hinos da luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do país. Sem papas na língua, gravou um duro depoimento sobre a importância de se desfazer a “farsa” montada pela ditadura para abafar a morte do jornalista Vladimir Herzog, no mesmo dia do julgamento do Caso Herzog na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 24 de maio de 2017.

E hoje, dia em que o céu abraça a terra, Aldir a essa altura estará com Henfil, com o irmão do Henfil, com Clara, Vlado, Dorival e Silas, todos em boa companhia, degustando o fígado com jiló que tanto preparava em sua casa na Muda (Zona Norte). “Amigo é pra essas coisas”, ele diria.

 

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