Lula: Impeachment é conduzido por “quadrilha” legislativa

Em fala em seminário, o ex-presidente agradeceu à imprensa internacional pela cobertura que está fazendo da crise política

Presidente do Lula durante evento Progressive Alliance. Foto: Paulo Pinto/Agencia PT

Em uma mensagem para lideranças progressistas de todo o mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que o PT não vai parar de defender a democracia. “Nós do PT vamos resistir e vamos lutar. Com a democracia não se brinca”, afirmou ele, ao criticar a postura do Congresso Nacional: “uma quadrilha legislativa implantou o caos no Brasil”.

Lula analisou que uma “quadrilha legislativa”, comandada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), promoveu a agenda do caos para desestabilizar o governo eleito. Lula lembrou que o processo do impeachment foi aberto por Cunha em um ato de vingança contra os deputados do PT que se recusaram a acobertá-lo. “Eles (a oposição) não se importam com o país, apenas com um projeto de poder”, afirmou. 

Ele participou, ao lado do presidente nacional do PT, Rui Falcão, em São Paulo, do seminário “Democracia e Justiça Social” da Aliança Progressista, uma rede de partidos e organizações de todo o mundo. 

Lula disse estar frustrado com pessoas que foram exiladas durante a ditadura e lutaram para restabelecer a democracia, mas estão tendo agora a mesma postura que seus algozes tiveram em 1964. “Naquele tempo ainda tinha o poder de força dos militares. Hoje, é um gesto livre e espontâneo da direita”, disse ele. O ex-presidente afirmou que o argumento da direita para derrubar governos democráticos é sempre o mesmo: “combater a corrupção“. 

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Foto: Paulo Pinto/Agência PT



O ex-presidente ainda lembrou que a presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime de responsabilidade e que erros de governo e crise econômica não são motivo para derrubar governos democraticamente eleitos. “Temer é constitucionalista. Ele sabe que a Dilma não cometeu nenhum crime”, afirmou. “Caçar a Dilma é uma possibilidade de caçar o PT e impedir que o PT volte ao poder depois”.

Lula agradeceu à imprensa internacional pela cobertura que está fazendo da crise política,  apontando as injustiças cometidas no processo contra Dilma.

Para Lula, a elite brasileira não suporta tanto tempo de democracia. “Vai ter muita luta, muito combate democrático”. “Não é possível aceitar que seis jornais digam o que é bom para o Brasil. O povo tem que dizer o que é bom para o Brasil. O povo que pôs um ex-metalúrgico no poder, um índio no poder na Bolívia, uma mulher no Chile, na Argentina e no Brasil”, disse ele.

Lula ainda avaliou que o mundo está carente de lideranças políticas e que a saída para a crise econômica é eminentemente política e não técnica. Segundo o ex-presidente, na época em que participava dos fóruns mundiais como o G-8 e G-20, ele percebeu que os governos eleitos se subordinavam aos burocratas. “A impressão que eu tive é que a governança foi terceirizada”, disse ele. 

Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Foto: Paulo Pinto/Agência PT



Ainda segundo ele, o mundo desenvolvido não soube fazer medidas para efetivamente combater a crise mundial. “Estamos vivendo uma crise de desemprego sem precedentes e vendo o mundo rico fracassado”, disse. “Achei que europeus e americanos saberiam lidar com a crise porque sabiam resolver a crise do Brasil na década de 1980. Mas quando a briga é na sua casa você vê que é muito mais difícil”, disse ele.

Em 2008, o ex-presidente defendia que os governos não tomassem medidas protecionistas que travassem o comércio mundial. Mas foi exatamente o que ocorreu, agravando a crise econômica.

Lula também afirmou que a América Latina está retrocedendo não só do ponto de vista econômico como também da democracia, com ameaças no Brasil e em outro países vizinhos.

Consciência Democrática
Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência da República (2003-2010), leu parte do discurso do ex-presidente Lula, que pôde falar menos tempo por causa de problemas de voz.

Por meio de Dulce, Lula afirmou que o que está em jogo no Brasil hoje é interromper um processo histórico que levou à democracia e à melhoria de vida das pessoas de quase todos os países da região. 

“O que aconteceu foi uma revolução pacífica comandada pelo voto popular”, afirmou. “Tiramos o Brasil do Mapa da Fome. Criamos 20 milhões de vagas de emprego. Abrimos as portas das universidades para quem não tinha acesso. Reduzimos as diferenças entre os que tudo tinham e os que nada tinham”, afirmou. Nesse período, de acordo com o ex-presidente, Brasil e América Latina tornaram-se atores globais. 

Mas esse processo, lembrou Lula, está ameaçado pela tentativa de golpe. “Enquanto o governo trabalhava para reequilibrar as contas públicas, por 18 meses a oposição trabalhou numa sabotagem do Legislativo, com a cumplicidade de meios de comunicação”. 

No discurso, Lula lembrou que em contraposição a esse movimento, a consciência democrática se manifesta cada vez mais. Ele afirmou que a população já não aceita mais a cobertura parcial dos grandes meios. “O Brasil é maior que a mentira e a manipulação”, afirmou.

Lula também reforçou que o PT ajudou a fortalecer as instituições de controle como o Ministério Público e a Polícia Federal e que os golpistas querem voltar ao reino da impunidade. 

Segundo ele, a opinião pública mundial já percebeu as injustiças desse processo e as ameaças à democracia. “A sociedade brasileira saberá reagir ao esbulho da Constituição”. Lula lembrou de todo o processo social desde as Diretas Já até a Constituinte em 1988, e que hoje os golpistas estão rasgando a Constituição cidadã feita depois de tanta luta. “O que ocorre é uma farsa. O direito de defesa da presidenta foi reduzido à mera formalidade”, afirmou. 

Ainda segundo o ex-presidente, os governos progressistas no mundo estão acossados por novas formas de golpe. “Vamos instaurar a velha ordem? Ativar a bomba-relógio da fome?”, questionou. “Peço a todos que levem a mensagem para seus países que a sociedade brasileira vai resistir ao golpe e não vai reconhecer um governo que não veio pelo golpe popular”, afirmou.

 

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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