Lula: Oposição quer chegar ao poder desrespeitando voto popular

Em entrevista exclusiva a Glenn Greenwald, o ex-presidente enfatizou que pedido de impeachment contra Dilma é ilegal, pois não há crime de responsabilidade

Foto: Paulo Pinto/Agência PT

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista exclusiva ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, na última semana. Entre os assuntos abordados, Lula falou do combate à corrupção, do ódio ao PT alimentado pela oposição e pela mídia, e afirmou que pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é golpe e desrespeito ao voto popular.

“É um golpe porque, embora esteja previsto na Constituição Brasileira, o impeachment, para que a pessoa seja vítima de um impeachment, é preciso que ela tenha cometido um crime de responsabilidade e a presidenta Dilma não cometeu um crime de responsabilidade. Portanto, o que está acontecendo é a tentativa de algumas pessoas tentarem chegar ao poder desrespeitando o voto popular”, enfatizou, na entrevista publicada nesta segunda-feira (11).

Para o ex-presidente, esse impeachment é ilegal, porque não tem crime de responsabilidade. “Na verdade, eu acho que as pessoas querem tirar a Dilma, sabe, desrespeitando a lei, cometendo, na minha opinião, um golpe político, porque isso é golpe político”, completou.

Lula lembrou que antes de ser eleito presidente da República, perdeu três eleições. “Não encurtei o caminho, esperei 12 anos para chegar à presidência da República. Portanto, qualquer pessoa que quiser chegar à presidência da República, ao invés de querer derrubar o presidente, é melhor concorrer a uma eleição”.

Na avaliação do ex-presidente, há setores “brincando” com a jovem democracia brasileira. “E com a democracia a gente não brinca, porque toda vez que a gente brinca com a democracia, toda vez que a gente nega a política, o que vem é pior”.

O petista destacou que o pedido de impeachment só foi aceito “porque o presidente da Câmara ficou zangado”. “Porque o PT não votou com ele na Comissão de Ética e ele resolveu se vingar do PT, tentando criar o impeachment da presidenta Dilma, o que eu acho um abuso muito grande neste momento político”.

“Eduardo Cunha não tem respeitabilidade, nem congressual, nem na sociedade, para fazer isso, mas acontece, às vezes até com uma certa proteção de determinados setores da mídia nacional, o que eu acho muito grave”, afirmou.

Segundo ele, a imprensa trata o presidente da Câmara “com uma certa normalidade e não trata a Dilma com normalidade”. “Na verdade, a Dilma está sendo julgada por pessoas que são acusadas e ela não tem uma acusação contra ela”, frisou.

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Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Combate à corrupção
Lula destacou que foram os governos do PT que criaram as condições para as instituições combaterem a corrupção com autonomia.

“Foi exatamente no governo do PT que nós criamos todas as condições para as instituições funcionarem corretamente. Foi no nosso governo que nós consolidamos a autonomia do Ministério Público, escolhendo sempre o procurador que a categoria quer que escolha, fomos nós que fizemos a Polícia Federal funcionar, investindo muito na contratação de pessoas e investindo muito na inteligência e na autonomia da Polícia Federal. Fomos nós que fortalecemos a Controladoria Geral da República, que investiga cada Ministério e que manda os processos para o Tribunal de Contas da União. E fomos nós que estabelecemos, junto com Tribunal de Contas, um processo de maior agilidade do Tribunal de Contas da União”, explicou.

O ex-presidente lembrou, ainda, da criação do Portal da Transparência. “Fomos nós que criamos o Portal da Transparência, fomos nós que criamos a lei que permite que qualquer jornalista tenha toda a informação que quiser todo santo dia do governo”.

Sobre as delações premiadas, Lula repudiou os vazamentos seletivos e reforçou o que chama de criminalização do PT por parte da imprensa.

“O que eu acho esquisito é o processo de vazamento seletivo das notícias normalmente contra o PT. Quando sai uma denúncia de um outro partido político, não passa de uma letra pequena nos jornais, cinco segundos na televisão. Quando é uma coisa contra o PT, é 20 minutos na televisão e é primeira página de todos os jornais, numa demonstração clara e visível de que há a tentativa, há dois anos, da criminalização contra o PT”, falou.

E completou: “O que eu acho fantástico e hilariante é que as empresas têm dois cofres. Um cofre de dinheiro honesto e um cofre de dinheiro corrupto. O cofre de dinheiro honesto é para o PSDB, para o PMDB e para outros partidos. O cofre de dinheiro podre é para o PT. É no mínimo insanidade mental acreditar nisso”.

Ódio ao PT
A criminalização e o ódio ao Partido dos Trabalhadores são alimentados 24 horas por dia, na opinião do ex-presidente.

“Neste momento histórico, o que existe é a tentativa de criminalizar o PT, de tirar a Dilma e de tentar evitar qualquer possibilidade do Lula voltar a ser candidato a presidente neste País. Mas eu não acredito que o ódio estimulado contra o PT vai prevalecer a vida inteira. Hoje, nós estamos vivendo um momento em que o ódio é estimulado 24 horas por dia contra o PT”.

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Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Segundo Lula, o PT é o partido que mais fez política social no Brasil. “O partido que em apenas 12 anos mudou a história deste País. Demos cara aos trabalhadores, demos cara e cidadania aos pobres deste País, demos tudo que eles nunca tiveram. Por isso, o ódio estimulado de pessoas que não sabem repartir os espaços públicos com aqueles do andar de baixo”.

Mídia tendenciosa
Ao ser perguntado sobre o papel da mídia brasileira na incitação aos protestos que pedem a saída da presidenta Dilma, Lula ressaltou que, no Brasil, a mídia é o verdadeiro partido de oposição.

“Eu penso que o que seria ideal era que você tivesse uma imprensa altamente democrática, que tivesse sua opinião política e ela fosse expressa num editorial, mas que fosse muito, muito fiel aos fatos. Que não tivesse versão, tivesse os fatos. Pois bem, aqui no Brasil hoje você não tem partido de oposição. Aqui no Brasil quem faz a oposição é, na verdade, a mídia”.

Para ele, há jornais, revistas e canais de televisão que fazem oposição aberta ao governo. “Convoca passeata, convoca protesto. Estão estimulando o ódio”

“Eles não sabem perder, eles perderam uma eleição da Dilma. E eles continuaram no palanque até hoje. Como o partido é frágil, a imprensa assumiu o papel de ser o partido. Isto é grave, isto é um risco para a democracia”, destacou.

Glenn Greenwald interviews Brazil’s ex-President Lula from The Intercept on Vimeo.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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