Lula recupera credibilidade externa e reinsere Brasil na geopolítica mundial

Com Vieira no Itamaraty, país abandona condição de pária imposta por Bolsonaro para reassumir protagonismo global. Agenda inclui viagens à Argentina, China, EUA e Portugal, além de cúpula para discutir a Amazônia

O Brasil de volta ao mundo: o presidente Lula e o vice-presidente da China, Wang Qishan, em reunião no Itamaraty (Foto - Divulgação)

A diplomacia em torno de um mundo multipolar, de construção de consensos e menos protecionista nas relações comerciais, uma das marcas da política externa dos governos Lula, está de volta. A esperada e bem-vinda mudança de ares no tabuleiro das relações internacionais foi festejada já nas primeiras horas após a posse de Lula como presidente, no último dia 1º, quando o petista foi prestigiado por 19 chefes de Estado e representantes de 120 países, um recorde em eventos de transmissão  do cargo.

Na segunda-feira (2), ao lado do novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Lula deu início a uma série de agendas bilaterais no Itamaraty com chefes de Estado de 15 países, entre eles, China, Argentina Bolívia, Chile, Portugal e Espanha.

Nos encontros, foram acertadas as primeiras viagens internacionais do presidente. O primeiro destino será a Argentina, onde, nos dias 23 e 24, Lula participará da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), cuja agenda havia sido abandonada pelo desgoverno Bolsonaro em troca da subserviência ao governo de Trump. Em seguida, Lula deverá visitar EUA, Portugal e China.

“Decidimos claramente relançar o vínculo entre Argentina e Brasil com toda força que esse vínculo sempre deve ter. Nos últimos quatro anos foi difícil, mas agora estamos convencidos da importância desse vínculo”, comentou o presidente da Argentina, Alberto Fernandez. “Argentina e Brasil são países indissoluvelmente unidos e nenhum momento político pode perturbar isso”, disse Fernandez, no Itamaraty.

O retorno do Brasil ao tabuleiro geopolítico mundial, após a condição de pária internacional conferida por Bolsonaro, também foi refletido na área ambiental. Tão logo foi anunciada a vitória de Lula nas eleições, em outubro, a Alemanha e a Noruega anunciaram que voltariam a transferir doações para o Fundo Amazônia, repasses que haviam sido cancelados devido à política ambiental destrutiva do governo anterior.

Em um dos primeiros atos depois de empossado, Lula tratou de reativar o Fundo por meio de decreto. A Noruega anunciou que R$ 3 bilhões já podem ser aplicados no Fundo.

“A Noruega e o Brasil têm interesses comuns no combate à crise climática, na redução do desmatamento e na promoção do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, a reabertura do Fundo Amazônia pelo governo brasileiro e o descongelamento dos recursos no fundo fornecerão apoio importante para a implementação dos planos ambiciosos do governo”, declarou o governo da Noruega.

Proteção da Amazônia

Ainda sobre a Região Amazônica, o chanceler Mauro Vieira confirmou que o governo Lula articula uma reunião de cúpula entre os presidentes dos nove países que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). A ideia é trabalhar em torno de uma agenda para firmar um pacto de proteção à Amazônia.

O encontro, que pode ocorrer no primeiro ou segundo trimestre, seria algo inédito, uma vez que OTCA nunca reuniu presidentes, apenas os chanceleres dos países participantes. Além do Brasil, fazem parte da OTCA Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana, Equador, Venezuela, Guiana Francesa e Suriname.

O assunto foi discutido nessa semana nas reuniões bilaterais com os presidentes Gustavo Petro (Colômbia), Luis Arce (Bolívia), Guillermo Lasso (Equador), além de presidente do Conselho de Ministros do Peru, Luis Alberto Otárola Penaranda, e o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodrigues. A proposta avançou e tem tudo para prosperar, segundo fontes do Itamaraty.

Carta de Xi Jinping

Na reunião em que esteve com o vice-presidente da China, Wang Qishan, Lula recebeu uma carta de congratulações do presidente Xi Jiping. No documento, o mandatário chinês expressou seu desejo de elevar as relações entre Brasil e o gigante asiático, parceiro estratégico do Brasil.

“Estou disposto a trabalhar com o presidente eleito Lula, de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, para planejar e promover conjuntamente a parceria estratégica abrangente entre a China e o Brasil a um novo patamar, em benefício dos 2 países e seus povos”, apontou o presidente, segundo a agência estatal chinesa Xinhua.

“A China é nosso maior parceiro comercial e podemos ampliar ainda mais as relações entre nossos países”, afirmou Lula, após o encontro.

“O Brasil está de volta”

Em seu discurso de posse nesta semana, o chanceler Mauro Vieira anunciou a retomada do intercâmbio com o continente africano, no melhor espírito de uma política externa “verdadeiramente universalista”.

“O diálogo político de alto nível com países africanos e suas organizações regionais será restabelecido para tratar de desafios comuns, como segurança alimentar, mudança do clima, comércio e investimentos e intercâmbio de tecnologias. Fortaleceremos a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul”, destacou Vieira.

“Atravessamos um momento certamente dos mais conturbados no cenário internacional. Teremos de saber operar nesse ambiente, com uma crise de governança global sem precedentes”, disse Mauro Vieira.“A boa notícia, como indica o presidente Lula, é que o Brasil está de volta”, festejou o chanceler.

Da Redação, com informações de O Globo e Poder 360

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