Lula: “Sei da importância do agronegócio para a economia brasileira”

Em entrevista ao Canal Rural, Lula assegura sua intenção de governar apoiando o agronegócio: “O Brasil precisa de uma agricultura forte”

Ricardo Stuckert

Lula: “Um país como o Brasil não pode ser dependente da produção de fertilizante de outro país" (foto: Ricardo Stuckert)

Em entrevista ao Canal Rural, transmitida nesta quarta-feira (21), Lula garantiu que, se for eleito presidente no próximo mês, vai estabelecer uma relação de diálogo e apoio ao agronegócio, por saber da importância do setor para a economia brasileira.

“Vou tratar o agronegócio como sempre tratei: com respeito, sabendo da importância dele para a economia brasileira, para o desenvolvimento do país”, disse. “A agricultura é um valor para este país, é um bem do Brasil”, completou.

Ele lembrou que o agronegócio foi um dos setores que mais recebeu apoio durante seus dois mandatos. Seja por meio de apoio financeiro, como ocorreu com a MP 452, que reservou R$ 75 bilhões para assegurar dívidas dos produtores na crise de 2008, seja pela abertura de mercados no exterior.

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“Tenho orgulho de ter levado muita gente do agronegócio brasileiro para outros países. (…) Quando eu cheguei na Presidência, nosso fluxo entre importação e exportação era só de US$ 100 bilhões. Quando saí, era de US$ 482 bilhões”, lembrou.

Propostas

Para Lula, um agronegócio forte é tão crucial para a economia brasileira quanto a reindustrialização. “O Brasil precisa de uma agricultura forte e de uma indústria forte”, defendeu.

Em sua avaliação, o Brasil tem muito mercado à sua disposição, que vai além da Europa e da China. “Tem toda a América do Sul, o continente africano, o Oriente Médio. O que o Brasil precisa é se abrir para o mundo novamente, como nós fizemos.”  

O Brasil é imbatível em termos de terras agricultáveis, lembrou Lula, e só precisa estar atento às exigências do mercado internacional, que valoriza cada vez mais a agricultura de baixo carbono, que não desmata e não utiliza agrotóxicos danosos à saúde. 

“Só precisamos fazer as coisas corretas. Porque se fizer uma agricultura desrespeitando as regras internacionais, o Brasil se prejudica”, analisou.

O que não significa aceitar qualquer condição imposta por mercados como o europeu, ressaltou, após ser perguntado sobre uma nova legislação do continente que pode ir de encontro ao Código Florestal brasileiro.

“É um processo de negociação. Eu posso te garantir uma coisa; se eu ganhar as eleições, nos primeiros seis meses depois da posse, nós vamos concluir o acordo com a União Europeia. Mas um acordo que leve em conta as necessidades do Brasil.”

Soberania

O ex-presidente também defendeu que o Brasil não se descuide da sua soberania agrícola. “Um país que tem o potencial do Brasil não pode ser dependente da produção de fertilizante da Ucrânia nem de qualquer outro país. Nós temos que começar a produzir aqui dentro”, propôs, lembrando que os governos Temer e Bolsonaro não concluíram as fábricas de fertilizantes iniciadas pelo PT. 

Lula também afastou qualquer suspeita de que pretende fazer um governo intervencionista que, por exemplo, limite por meio de uma lei a exportação de carne.

“O que está faltando no Brasil é o povo ter poder aquisitivo para poder comprar carne. Na hora que o povo tiver, quem produz a carne vai vender no mercado interno. Se o governo tentar fazer uma intervenção e bloquear (as exportações), vai quebrar a cara. Quebra a cara do Brasil, quebra a cara do negócio e perde respeitabilidade no mundo”, observou.

Meio ambiente

Outra proposta de Lula é voltar a fortalecer a Embrapa, que pode ajudar o setor agrícola a encontrar as soluções de que precisa. Ele lembrou que a Embrapa ajudou a revolucionar a agricultura no Centro-Oeste, que algumas décadas atrás era considerado pouco produtivo. 

“Foi uma demonstração do que o Brasil pode fazer. Então, em vez de a gente derrubar mais mata, vamos pegar os 30 milhões de terras degradadas e recuperá-las”, propôs, como forma de se evitar o desmatamento da Amazônia e a invasão de terras indígenas.

Não há outro caminho viável, ponderou Lula, uma vez que a preservação da Amazônia e de outros biomas brasileiros é uma necessidade não só para o futuro dos brasileiros, mas de toda a humanidade.

“Eu acredito na ciência quando ela diz que a Amazônia precisa ser preservada em benefício do planeta. Ao invés de desmatar, temos que estudar, pesquisar, fazer com que aquilo seja um patrimônio do Brasil, mas que aquilo possa ser compartilhado do ponto de vista científico com o mundo.”

Terras improdutivas

Questionado sobre a ocupação de terras pelos sem-terra, Lula defendeu que o Brasil precisa de um governo que promova o diálogo e seja atento ao que estabelece a Constituição.

“Na hora em que você começa a assentar as pessoas corretamente, começa a construir casas, acabam as invasões desordenadas. O país precisa de ordem e tranquilidade para seguir em frente”, lembrou.

Tanto é que, hoje, após o amplo processo de assentamento iniciado em seu governo, que beneficiou 700 mil famílias, a principal preocupação do MST é produzir, organizar cooperativas e, inclusive, chegar ao mercado externo.

Mas Lula lembrou que a Constituição deixa claro que a terra precisa cumprir uma função social. “Você não pode ter terra para especulação se tem gente precisando de terra para morar ou produzir.”

Quanto aos decretos facilitando a compra de armas editados por Bolsonaro, Lula disse ter a intenção de revê-los. O que não significa impedir proprietários rurais de se defenderem.

“Não significa que um cidadão que tenha uma fazenda não possa ter uma arma na casa dele. Que não possa ter um especialista em segurança para tomar conta da fazenda. Mas a liberação de armas, tal como foi feita, está dando arma para o crime organizado”, anotou.

E concluiu: “Vou mudar, mas discutindo com a sociedade, porque vou ser eleito para presidir e não para ser dono. Porém, é preciso discutir, porque precisa ter algum controle. É apenas o bom senso”.

Da Redação

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