Lula: “Soberania é o povo tomar café, almoçar e jantar todo dia”

“Quem se importou em ver pobre na universidade, andando de avião e no shopping, pode se preparar, vai ter muito mais. Esse país é de todos, não de uma meia dúzia”, avisou Lula, em ato pela soberania no Sul

Foto: Roberto Stuckert

Juntos pelo Brasil em Porto Alegre (RS): resgate da soberania

O desafio da defesa e da reconstrução da soberania brasileira estiveram no centro de um ato realizado nesta quarta-feira (1º), em Porto Alegre (RS). O evento contou com o ex-presidente Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, a presidenta Nacional do PT Gleisi Hoffmann e a ex-presidenta Dilma Rousseff, além de lideranças nacionais e estaduais do PT e dos aliados PSB, PCdoB, PSOL, PV, Rede, Solidariedade e de movimentos sociais.

Em sua participação, Lula refletiu sobre o sentido da soberania e sua importância para o Brasil. “Estamos vendo que soberania não é só cuidar das fronteiras secas e marítimas, do espaço aéreo, das riquezas minerais que estão no solo e subsolo, nas águas e no nosso mar”, declarou Lula.

“Soberania é muito mais do que isso, porque um país pode ter todas as riquezas do mundo. Mas se o povo não tem direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar, esse país não é soberano”, apontou. “Se o povo não tiver emprego e um salário que dê para sustentar sua família, onde é que está a soberania?”, questionou o líder petista.

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Lula usou o exemplo do pré-sal, descoberto em seu governo, e como foi utilizado como um instrumento de construção da soberania. “Quando descobrimos o pré-sal, tivemos a ideia de que seria o passaporte para o futuro desse país”, destacou. “Tomamos a decisão: o petróleo finalmente seria do povo brasileiro. As empresas que quisessem explorar não seriam donas do petróleo, iriam pagar aquilo que o povo brasileiro entendesse que merecia”.

Ele lembrou, no entanto, que as multinacionais não aceitaram a política de soberania proposta por seu governo. “Venderam a BR, quebraram a BR. Hoje tem 392 empresas importando gasolina dos EUA e vendendo para nós a preço internacional”, lamentou.

Entreguismo é “falta de vergonha”

Lula desmentiu o argumento de que a guerra na Ucrânia está por trás dos preços dos combustíveis, hoje descontrolados pelo preço de paridade de importação adotado pela Petrobras. “Quando eu era presidente, na crise de 2008, o barril chegou a US$ 147 e vocês compravam gasolina a R$ 2,60. Viramos autossuficientes em Petróleo e agora não podemos sequer comprar um botijão de gás”, queixou-se.

“Tudo isso repercute na comida que a gente come. 50% da inflação são dos preços controlados pelo governo: energia elétrica, gás, gasolina. E por que isso? É por causa da guerra na Ucrânia? Vou dizer pra vocês: é por falta de vergonha e compromisso de quem governa esse país e dirige a Petrobras. Não adianta jogar a culpa em cima dos outros. Já tivemos guerra do Iraque, da Síria, e aqui a gente não aumentava o combustível”, enfatizou.

Estado forte em um país para todos

“É por isso que não tenho medo dizer: eu não quero um Estado pequeno, quero um Estado forte, que seja responsável pela educação, pela saúde, pela geração de emprego, por aumentar o salário mínimo, que dê cidadania aos cidadãos e cidadãs desse país. Esse é o Estado que vamos fazer”, assegurou Lula. 

Ao comentar os legados das administrações petistas, Lula demonstrou profunda indignação com a volta da fome no país. “Não tinha mais criança na rua pedindo esmola, não tinha mais gente passando fome, o salário mínimo tinha aumentado 77%, foram criados 22 milhões de empregos”, afirmou.

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“E os pobres da periferia sabiam que o filho de um pedreiro poderia virar engenheiro, a filha de uma empregada doméstica poderia virar médica”, disse. Ele lembrou da inauguração da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com 10 campus espalhados pelo Rio Grande do Sul.

“Quem se incomodou pelo fato de a gente ter feito uma lei, dando jornada de trabalho para doméstica, 13º, fundo de garantia, descanso semanal remunerado, quem se importou de ver pobre na universidade, andando de avião, andando no shopping, pode se preparar, porque vai ter muito mais. Esse país é de todos, não de uma meia dúzia”, avisou.

Alckmin: “Chegou o tempo da esperança”

No evento, o pré-candidato à vice-Presidência Geraldo Alckmin conclamou os brasileiros a, como ele, “suar a camisa, trabalhar com todo empenho, para que  Lula volte à Presidência”. Alckmin reafirmou o compromisso de luta dos democratas do país na recuperação da dignidade do povo.

“Para salvar a democracia, combater o desemprego, a carestia, a fome, recuperar a saúde e a educação, o Brasil precisa da volta do presidente Lula”, discursou.  “Chegou o tempo da esperança”.

Gleisi: união para enfrentar a barbárie

Em sua intervenção, Gleisi Hoffmann apontou que é preciso recuperar a a cidadania do povo, hoje usurpada pelo golpismo de Bolsonaro. “Precisamos de muita gente, para enfrentar a barbárie, para enfrentar o que se instalou no Brasil”, alertou Gleisi. “Nunca achei que viveríamos uma situação como essa, de tanta desestabilização no Brasil, de ódio, de destruição do Estado brasileiro, e tudo isso começou com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff”, observou.

Ela refletiu sobre como a soberania é um instrumento de transformação da sociedade. “Quando a gente fala em soberania, pensamos logo no posicionamento do país em termos internacionais”, comparou. “Mas não é só isso, soberania é também um Estado forte, com desenvolvimento, um Estado que melhore a vida das pessoas, explicou Gleisi. “Um país soberano não pode ter fome, desemprego”.

Diante de lideranças e de representantes dos movimentos sociais, ela encerrou a fala em tom de otimismo, afirmando não ter dúvidas de que Lula irá ganhar a eleição deste ano. “Lula será o próximo presidente do Brasil. Mas teremos de lutar muito”.   

Dilma: nova etapa de luta

Dilma Rousseff chamou atenção para a gravidade da crise que o Brasil atravessa e para a necessidade de reforço da luta democrática para vencer o fascismo. “Vivemos o momento mais desafiador da história política, dos últimos tempos, porque o Brasil foi destruído, rigorosamente falando”, discursou Dilma.

Dilma fez referência ao ambiente de permanente violência, no qual Bolsonaro atirou o país. “As provas dessa destruição são visíveis, quando um homem adulto é morto dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal, num processo similar à câmara de gás usada pelos nazistas. Há algo de muito grave, de muito podre nas instituições brasileiras”, ponderou a petista.

“Há algo de muito grave quando vemos a fome atacar o Brasil. O presidente Lula assumiu em 2003 e assumiu um compromisso, que estava, como uma impressão digital, em todos os programas que ele fez: erradicar a fome e fazer o Brasil sair da miséria. Nenhum país que saiu do Mapa da Fome da ONU voltou. Nenhum país que saiu da miséria volta para ela em menos de sete anos, como o nosso”, destacou.

Dilma reiterou que está na hora de virar o jogo e recuperar o Brasil aos brasileiros. “Temos a chance real de mudar o Brasil”, disse, ao defender uma mobilização sem tréguas da sociedade e das forças progressistas para levar o projeto de reconstrução às vias de fato. É preciso “eleger o presidente Lula e fazer um governo que volte, novamente, a decidir os destinos do país, que não fique nas filas, procurando ossos nos açougues”.

Requião: soberania se traduz em condições de vida dignas

Roberto Requião, que foi presidente da Comissão Mista pela Independência e Soberania do Brasil no Congresso, falou sobre a importância da recuperação da soberania para o futuro do Brasil. “Nunca, em 199 anos de Independência, a soberania brasileira foi tão aviltada como nos últimos anos. Concedeu-se venda de terras nacionais, sem limites de tamanho, abriu-se o espaço aéreo, franqueou-se o mar territorial às multinacionais, todas as guardas e salvaguardas foram rompidas”, lamentou o pré-candidato ao governo do Paraná pelo PT.

“A história das nações ensina que não existe desenvolvimento nacional sem soberania nacional: O domínio na nação sobre suas riquezas, seu mercado, sua política industrial e de infraestrutura, pesquisas, ciência e tecnologia e cultura, para que o país avance e supere as funções do atraso”, discursou. “Soberania e desenvolvimento condicionam-se, são parte do mesmo projeto”.

O ex-governador e ex-senador também abordou outras dimensões da manifestação da soberania, “que se traduz em condições de vida dignas, que liberte nossa gente da infelicidade do desemprego, do salário miserável, das moradias precárias, da insegurança alimentar e do futuro incerto”. Para Requião, essas múltiplas facetas da cidadania dependem da “reconquista da soberania nacional”.

Ele abordou ainda o movimento de reconstrução do país em torno de Lula e Alckmin, e foi incisivo: “Lula e Alckmin são a única solução possível para tirar o país deste lodaçal de entreguismo e pouca vergonha, de supressão dos direitos dos trabalhadores, de entrega da água, da luz e do petróleo”, resumiu.

Da Redação

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