Maio das Trabalhadoras | O que querem as trabalhadoras da Educação

Conversamos com Rosilene Corrêa, diretora do Sindicato dos Professores-DF e da Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE)

Não ter um minuto de paz nem dentro, nem fora da sala de aula. Esta é a realidade das trabalhadoras da educação no Brasil. Assediadas por alunos, pais de alunos, e responsabilizadas por funções de cuidado que vão muito além do papel das professoras. Tudo isso e muito mais na voz de Rosilene Correa, pedagoga, professora e dirigente sindical.

Este é o Especial “Pelo que lutam as trabalhadoras”, iniciativa do projeto Elas Por Elas para a semana que celebra o 1 de maio, dia do trabalho. Diante dos desafios contemporâneos, conversamos com mulheres dirigentes de diversas categorias para difundir e compartilhar as demandas das mulheres da classe trabalhadora.

Rosilene Correa é pedagoga e filiada ao PT desde início dos anos 90. Nesta época, ela também já atuava no movimento sindical, que começou no final dos anos 80 quando foi diretora do SinteGo. Depois, ela mudou-se para Brasília, permaneceu no movimento de trabalhadores de educação e, atualmente, é diretora de Finanças do Sinpro-DF e da CNTE e vice-presidenta do PT-DF. 

Não podemos permitir  que a escola e o papel da professora se transformem meramente em função de cuidado. É um desafio manter esse limite: não deixar que a nós, professoras, seja atribuída uma responsabilidade que vai além daquilo para o qual estamos preparadas profissionalmente. 

1) Quais são as principais reivindicações das professoras atualmente?

Há uma confusão feita, sobretudo pelas famílias, acerca do papel das professoras como a extensão da casa. Da escola ser uma extensão da casa e o papel da professora ser meio que de mãe. E isso acaba sendo um grande desafio. Sem deixar de lado o nosso papel e o que  a gente faz, porque se torna uma relação afetiva, é o convívio o ano inteiro com nossos estudantes, é um desafio manter esse limite: Não deixar que a nós, professoras, seja atribuída uma responsabilidade que vai além daquilo para o qual estamos preparadas, profissionalmente falando. 

A escola é o reflexo da sociedade, que é estruturada nas bases do conservadorismo e  divide papéis de homens e mulheres, deixando as mulheres com a função do cuidado. Então a gente tem que ter essa atenção de que a escola e o papel da professora não se transformem meramente nessa função de cuidado.

Cerca de 80% da categoria é mulher. Então precisamos fazer uma reflexão: Por que a educação é tão maltratada e, do ponto de vista salarial, somos uma das profissões de menor salário? Isso vale para todo país. Aqui, no DF, temos um dos menores salários de profissionais de nível superior. É uma questão de gênero? Será que a professora, mulher, não precisa ter um bom salário? Ainda é essa lógica da sociedade machista: de que não é o salário da mulher que a sustenta, porque ela necessariamente está atrelada a um homem?

 

2) Quais as principais dificuldades de ser professora?

A gente convive com esse machismo estrutural. Dentro da escola a gente vive muito isso. pelos próprios alunos, homens, quando são do Ensino Médio, há uma certa tendência no tratamento quando se dirige às professoras. E as famílias também reproduzem isso. 

Outra grande questão da nossa categoria é o adoecimento emocional, mais acentuado nas mulheres. Com essa pressão toda que a gente vive e o acúmulo de tarefas, a mulher professora sofre mais ainda, trabalha e tem uma jornada mais puxada e isso nos deixa literalmente doentes. 

 

3) Quais são as perspectivas de organização e conquistas para 2022 e no próximo período?

As expectativas são grandes para 2022, sobretudo com a participação da juventude pelo desejo de mudança. Para esse momento, nós estamos apostando muito em uma mudança via eleições. No Brasil, hoje, é o caminho. Primeiro precisamos derrotar esse projeto que está aí para implementar outras políticas ano que vem. 

 

Sobre o Especial Maio das Trabalhadoras

Esta é a terceira matéria do Especial 1 de maio, “Pelo que lutam as mulheres trabalhadoras”. Nele, conversamos com metalúrgicas, domésticas, têxteis, pescadoras, quebradeiras de coco, enfermeiras, servidoras, professoras e diversas outras categorias para repercutir as pautas das mulheres nas mais diversas trincheiras do mundo do trabalho atualmente. Acesse aqui a tag e confira todas as entrevistas.

Ao longo da semana, publicamos duas entrevistas por dia com o objetivo de dar visibilidade não só para as demandas específicas das trabalhadoras de cada setor, mas também contar uma breve história de militância de cada uma das companheiras que atuam em defesa dos direitos de sua categoria.

E, claro, mais do que nunca, dar espaço para que elas contem o que esperam de 2022 e das perspectivas de reconstrução de um país em que ainda é possível sonhar e concretizar um mundo mais justo e solidário.

Ana Clara Ferrari e Dandara Maria Barbosa, Agência Todas

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