Médicos denunciam manobra de Trump contra o Mais Médicos
Em nota, profissionais formados na Escola Latino-Americana de Medicina, em Havana, apontam interesses eleitoreiros do norte-americano na tentativa de criminalização do convênio firmado entre Brasil, Cuba e OPAS. Documento também afirma que subserviência de Bolsonaro “diminui a história da diplomacia brasileira”
Publicado em
A participação do desgoverno Bolsonaro nas ações do governo Trump para desacreditar a coooperação médica internacional cubana recebeu duro ataque de médicos e médicas formados na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), de Havana. Em nota divulgada nesta quinta (15), os profissionais denunciaram a tentativa de criminalização da parceria firmada entre o Brasil, Cuba e Organização Panamericana de Saúde (OPAS) no programa Mais Médicos.
No texto, os médicos e médicas criticam a “auditoria fake” proposta por EUA e Brasil para difamar a imagem do programa e de Cuba, visando os comícios eleitorais de 2022. Também atacam o apoio de Bolsonaro às atitudes insanas do governo norte-americano no recrudescimento do Bloqueio Econômico, Comercial e Financeiro a Cuba via a criminalização das Brigadas Médicas Cubanas no mundo.
“Entendemos que a participação dos médicos cubanos foi um dos principais motivos de sucesso do programa Mais Médicos, que como as evidências científicas comprovam, contribuíram para salvar milhares de brasileiros que se encontravam à margem de uma atenção à saúde digna”, afirmam os profissionais na nota.
“Em 2013 quando foi criado, quase 25 anos depois da criação do SUS, o país ainda contava com cerca de 700 cidades sem a presença do profissional médico, a maioria eram pequenos municípios, principalmente as cidades com menos de 20 mil habitantes”, rememora o documento.
“O impacto do programa sobre a saúde da população foi amplamente divulgado em meios científicos no país e no mundo. Estudos apontaram que a partir do incremento de profissionais médicos, houve um aumento da cobertura de equipes da Estratégia de Saúde da Família, incremento do número de consultas médicas, redução das internações por condições sensíveis à atenção primária”, prossegue o texto.
Os profissionais lembraram que houve grande rejeição e ataques sistemáticos de entidades médicas e partidos políticos ao programa, com um discurso ultrapassado e distante da realidade, deixando a impressão de que não havia necessidade desses profissionais. Também ressaltaram que Cuba é de longe o país do terceiro mundo com o maior histórico de cooperação em temas de saúde internacional.
“Há mais de 60 anos, a pequena ilha socialista do Caribe tem contribuído internacionalmente em matéria de saúde, enviando médicos, enfermeiras e outros profissionais de saúde a mais de 150 países, em cenários de catástrofes ou não”, afirmaram os médicos.
História de solidariedade
“Em outra vertente igualmente solidária, Cuba forma gratuitamente, há mais de 30 anos, médicos e outros profissionais de saúde provenientes de mais de 100 países no mundo. Pessoas excluídas de seus sistemas educacionais, principalmente da América Latina e África. O maior exemplo é a Escola Latino-Americana de Medicina, onde já foram formados mais de 30 mil profissionais que hoje atendem populações pobres e necessitadas do mundo todo.”
Os médicos e médicas recordaram que Bolsonaro, “desde a sua inexpressiva atuação no Congresso Nacional”, passando pela campanha eleitoral de 2018 e intensificando com a vitória nas eleições, sempre atacou Cuba e o Mais Médicos. “As mentiras desvairadas iam desde que médicos cubanos eram espiões de Fidel até o questionamento da sua capacidade técnica, mundialmente conhecida e comprovada.”
O texto aponta que os Estados Unidos mantêm uma política hostil a Cuba há mais de 60 anos, e que vários políticos norte-americanos, incluindo o senador pela Flórida Marco Rubio e o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, têm buscado distorcer e criminalizar, em canais televisivos e redes sociais, a Cooperação Médica Cubana. “Financiam e se utilizam da desinformação, da mentira e da calúnia”, atacam.
Segundo os médicos, neste momento os governos dos Estados Unidos e do Brasil realizam uma política de máxima pressão financeira e diplomática contra a OPAS. “Acreditamos que a postura subserviente do Brasil em apoiar Trump, em meio à eleição presidencial americana, diminui a história da diplomacia de paz e respeito do Brasil. Defendemos e defenderemos o legado do Programa Mais Médicos ao povo pobre e esquecido do nosso país. Agradeceremos sempre a Cuba, pois a sua solidariedade nos fez levar saúde onde nunca havíamos chegado”, concluíram os profissionais na nota.
Em 15 de novembro de 1999, o governo cubano fundou a Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), considerada uma das maiores escolas de medicina do mundo por números de matrícula. Mais de 30 mil médicos de 117 países se formaram na instituição médica desde sua primeira aula, em 2005. A maioria, jovens de famílias humildes do chamado terceiro mundo e também dos Estados Unidos.
Uma das 25 universidades médicas de Cuba, a Elam faz parte do amplo programa de saúde por meio do qual Cuba estende a colaboração médica a numerosos países, onde muitos jovens formados por professores cubanos retornam às suas comunidades para contribuir para a sustentabilidade de seus sistemas de saúde.
Em geral, Cuba possui 485 mil trabalhadores em seu sistema nacional de saúde, com 8 a 9 médicos para cada 1.000 pessoas. Para fins de comparação, os EUA têm apenas 2,59 médicos por 1.000 pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dilma denunciou ação espúria dos EUA
No fim de setembro, Cuba foi eleita para o Comitê Executivo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) por três anos, após enfrentar seguidas manobras do governo dos Estados Unidos durante as sessões do 58º Conselho Diretor da Organização.
Em uma das sessões, o ministro da Saúde de Cuba, José Ángel Portal Miranda, denunciou que o governo de Donald Trump impôs à OPAS, por meio de chantagem financeira, uma “revisão externa” do programa. E a vice-ministra de Saúde Pública da ilha, Marcia Cobas, mencionou a existência de um fundo de US$ 3 milhões (R$ 16,9 milhões) que o governo Trump usa para comprar falsos testemunhos que corroborem as acusações ilegítimas contra a cooperação cubana.
Na ocasião, a ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou que os ataques dos Estados Unidos contra a OPAS são parte de “uma grande ofensiva contra Cuba e os órgãos multilaterais de cooperação”. Segundo ela, a pressão ianque tem o interesse de “inviabilizar a presença da organização em ações cooperativas com o governo cubano, como é o caso do Mais Médicos no Brasil”. “A OPAS está pressionada da mesma forma que pressionaram a OMS, onde retiraram a contribuição durante a pandemia”, continuou.
A ex-presidenta ressaltou que o Mais Médicos foi aprovado pelo Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal de Contas da União (TCU), e internacionalmente, os órgãos de controle internos da OPAS deram parecer positivo. “Os EUA querem atacar o governo cubano e “tentar descaracterizar uma das maiores ações de solidariedade que um país já fez em todas as esferas”, concluiu Dilma.
“O Programa Mais Médicos foi um sucesso por conta dos médicos cubanos. Havia um contato humano e um atendimento permanente’, reforçou Dilma. Por isso, ela destaca que é preciso estar alerta à parceria dos EUA com o governo brasileiro, que visa destruir a possibilidade de Cuba cooperar com outros países.
“Os EUA querem que o bloqueio se estenda para impedir que Cuba coopere, e isso é algo extremamente perverso e tem um eco eleitoral em relação ao Partido Republicano e a uma política de endurecimento que os republicanos acham que é mais adequada”, afirmou Dilma. “Tem eco eleitoral lá e tem eco eleitoral aqui.”
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba afirmou que “as alegadas preocupações dos Estados Unidos sobre a cooperação de Cuba, neste caso sobre o Mais Médicos, não são legítimas, nem pertinentes para serem discutidas na OPAS. O Mais Médicos, que já recebeu auditorias anteriores com resultados positivos, foi estabelecido por meio de um acordo tripartite entre o governo cubano, o então governo brasileiro e a OPAS”.
No documento, o ministério cubano ressaltou que o Mais Médicos possibilitou aos médicos cubanos atenderem 113 milhões de pacientes de agosto de 2013 a novembro de 2018 em mais de 3,6 mil municípios, oferecendo cobertura permanente de saúde a 60 milhões de brasileiros. “Se Cuba não tivesse sido obrigada a retirar seus médicos do Brasil em face do servilismo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, eles poderiam ter contribuído para o controle e enfrentamento da pandemia Covid-19 naquele país, o segundo mais afetado no mundo”, ressaltaram as autoridades cubanas.
Da Redação