Medidas de Bolsonaro em 2019 prejudicaram o trabalhador, diz Diap

Análise evidencia o desgoverno que insiste em piorar a vida do povo brasileiro; extinção do Ministério do Trabalho e reforma da Previdência são destaques negativos

Isac Nóbrega/PR

Jair Bolsonaro (sem partido) não foi bom para os trabalhadores e as trabalhadoras em seu primeiro ano ocupando o cargo da Presidência da República. Este é o resultado da análise das propostas do governo federal e do Legislativo no último ano, feita pelos assessores parlamentares do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) André Santos e Neuriberg Dias.

Entre os prejuízos à classe trabalhadora, eles destacam sete Medidas Provisórias (MPs) envolvendo o mundo do trabalho, a reforma da Previdência, o fim do Ministério do Trabalho e a Carteira Verde e Amarela.

A produção legislativa, compreendida pela aprovação de proposições legislativas no Congresso Nacional (Câmara e Senado) e a transformação dessas em normas legais, no período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2019, foi péssima para os trabalhadores e a sociedade em geral.

Neste período foram aprovadas e sancionadas, ao todo, 178 leis ordinárias, 6 leis complementares e 6 emendas à Constituição que foram incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro.

No aspecto da qualidade das normas jurídicas, incluindo as leis ordinárias e complementares e as emendas à Constituição, destaque para a temática ligada a Previdência Social e Trabalho que impactam fortemente os direitos sociais em nome da geração de emprego, melhoria do ambiente de negócios e ajuste fiscal.

Nesse grupo de normas jurídicas, a Reforma da Previdência, promulgada como Emenda Constitucional (EC) 103/19 simboliza o quanto foi ruim a produção legislativa neste ano que ainda teve leis ordinárias, como:

1) a extinção e “esquartejamento” do Ministério do Trabalho e Emprego (Lei 13.844/19);

2) as novas regras para acesso aos benefícios previdenciários, com mudanças na carência e na perda de qualidade de segurado e retorno (Lei 13.846/19);

3) as novas regras de saque e gestão do FGTS (Lei 13.932/19);

4) a Lei da Liberdade Econômica, que trouxe além da redução da burocracia, a flexibilização de regras trabalhistas, como dispensa de registro de ponto para empresas com até 20 empregados, dentre outros aspectos (Lei 13.874/19); e

5) o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), com diretrizes para esvaziamento de políticas públicas para criar condições para privatizações dos serviços públicos e das empresas estatais e ausência ou extinção de política para ganho real do salário mínimo e sua manutenção.

Esta produção legislativa poderia ter saldo ainda pior para os trabalhadores e a sociedade caso duas medidas provisórias que caducaram por falta de votação no Congresso tivessem sido aprovadas — a MP 873, das mudanças nas regras da contribuição sindical, impedindo o desconto em folha dos trabalhadores para os sindicatos; e a MP 891/19, que buscava a revisão nos benefícios previdenciários como auxilio doença, dentre outras mudanças — e ainda algumas proposições, cuja apreciação foi adiada para fevereiro de 2020. São essas:

1) a MP 905/19, que aprofunda a Reforma Trabalhista ao introduzir em normas temporárias para geração do 1º emprego para jovens, mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);

2) o PL 6.159/19, que desobriga empresas de adotarem política de cotas para pessoas com deficiência ou reabilitadas;

3) a PEC 133/19, Paralela da reforma da Previdência, que estende sua aplicação para os estados e municípios, dentre outros aspectos;

4) o PLP 245/19, que regulamenta a aposentadoria por periculosidade;

5) a Reforma Sindical, além da PEC 196/19, do deputado Marcelo Ramos (PL-AM), pode ser enviada proposta do governo, por meio do Gaet (Grupo de Altos Estudos do Trabalho), no âmbito do Ministério da Economia;

6) o Plano Mais Brasil, que compreende as PEC 188/19, que trata do novo marco institucional da ordem fiscal e o Conselho Fiscal da República, fortalecimento da Federação; 187/19, que trata da desvinculação dos fundos públicos; 186/2019, chamada de PEC Emergencial; a Reforma Administrativa (aguarda envio de proposta pelo governo); Reforma Tributária (aguarda envio de proposta pelo governo); e privatizações (aguarda envio de proposta pelo governo);

7) a PEC 438/18, que cria gatilhos para redução de jornada e de salário dos servidores públicos em caso de descumprimentos da “regra de ouro”. Já aprovada pela CCJ da Câmara; e

8) a PEC 182/19, que autoriza a redução de jornada com redução de salário do servidor público.

A pauta política e de campanha do governo não andou na velocidade e no conteúdo desejado e prometido pelo presidente da República durante a campanha presidencial. Temas como: armamento, questões de costumes, modificações no Código de Trânsito, que ficou para 2020, com profunda modificação no texto encaminhado pelo governo, não tiveram chancela automática como queria o governo.

Caso Bolsonaro mantenha o nível de radicalização nos temas apresentados ao Congresso e não desenvolva relação mais amistosa e democrática com deputados e senadores, a possibilidade de derrota nas pautas de campanha será ainda maior.

Perspectivas

 

A produção legislativa confirma a independência do Legislativo em relação ao Poder Executivo e comprova ainda o diagnóstico sobre a dificuldade na relação de governabilidade do governo Jair Bolsonaro, que acumulou derrotas tanto na condução quanto na defesa de pontos centrais da agenda governamental enviada ao Congresso Nacional.

Em relação à agenda trabalhista ou antitrabalhista, as condições não são as melhores para o movimento sindical enfrentar os desafios colocados pelos Poderes para desacelerar uma das agendas mais ameaçadoras contra as conquistas históricas alcançadas pelos trabalhadores, encabeçada pelo governo Bolsonaro. Um dos caminhos é persistir no diálogo e na sensibilização dos parlamentares.

Essa estratégia trouxe resultados positivos, como a supressão de vários pontos da Reforma da Previdência que prejudicariam ainda mais os trabalhadores do setor privado e servidores públicos. Na base do diálogo e do convencimento foi possível também evitar, no Congresso, matérias de iniciativas do governo, como medidas provisórias ou projetos de lei, que acabavam, definitivamente, com direitos dos trabalhadores. Será fundamental que esse procedimento continue e seja aprofundado em 2020.

Governo

 

A produção legislativa do governo ou de seu interesse não correspondeu aos interesses de Jair e de seus principais ministros, Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça). Todas as matérias encaminhadas pelo o Executivo passaram por modificações substanciais, como a própria Reforma da Previdência e o pacote anticrime aprovado no desligar das luzes dos trabalhos legislativos. Outros pontos foram as revogações de decretos ou a retirada dos mesmos do ordenamento jurídico por pressão do próprio Congresso Nacional.

Por CUT

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