Mercadante aponta ameaças à educação e desconhecimento de Vélez
Ex-ministro da educação falou sobre os retrocessos que já se colocam em menos de dois meses de governo e relembra avanços nos anos do PT
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Para o ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante, “já temos retrocessos importantes e algumas ameaças graves à Educação brasileira”. Ele falou em entrevista à TV 247, destacando também os avanços conquistados para a área durante os governos do PT.
Segundo Mercadante, uma das principais ameaças colocadas agora para a educação brasileira, é a proposta de autorregulação do secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior, Marco Antônio Barroso Faria, que quer diminuir o papel do MEC. A isso, soma-se a proposta de escolas militarizadas e o foco em combater um suposto “doutrinamento ideológico”, quando na verdade o maior desafio brasileiro é estimular o professor e melhorar a estrutura das escolas.
Relembrando falas do atual ministro de Bolsonaro, Ricardo Rodriguez Velez, que disse que “universidade não é para todos” Mercadante defendeu que “estamos vivendo um período de transição para a economia do conhecimento. A industria 4.0 tem muito mais valor agregado e os países com força de trabalho melhor qualificada que se preparam para essa economia vão liderar”.
Segundo Mercadante, “o desafio do brasil é passar de uma economia de exportação de commodities para essa economia. Sem ciência e tecnologia você não avança para a economia do futuro. Nos países da OCDE a média é 40% dos alunos na universidade e não temos nem isso”.
O ex-ministro de Dilma compara a proposta de diminuir o papel do MEC com a ideia de se diminuir a fiscalização ambiental e conclui: “Eles estão propondo o Brumadinho no Ensino Superior. Vender hora aula não é vender sabonete, a universidade está formando uma geração”.
Criticando o desconhecimento da equipe de Bolsonaro, Mercadante destacou a importância dos programas de financiamento estudantil, como o Prouni e o Fies, que junto com programas de avaliação continuada, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), permitiram que mais alunos de baixa renda entrassem nas faculdades privadas, diminuindo o número de inadimplentes e incentivando a melhoria dos cursos ao dar mais bolsas para os que tivessem melhores notas e fechando aqueles com maus desempenho.
“Para dar FIES e Prouni, que ajuda a atrair alunos, é só para cursos com nota acima de 3, até 5. Quanto maior a nota, maior o acesso a esses programas. Quem tirava nova baixa inclusive fechava os cursos. Fechei centenas de cursos, inclusive a Universidade Gama Filho, onde o atual ministro fez doutorado”, lembrou Mercadante.
O ex-ministro falou também da extraordinária expansão do ensino médio durante os anos do PT, especialmente com os Institutos Federais, que tiveram mais de 360 unidades implantadas no país.
A preocupação com o Ensino Fundamental foi outro passo importante da gestão petista, que hoje se encontra ameaçada pelos ataques frequentes aos professores, que são a base da educação. “Quando ministro, criamos a avaliação nacional da alfabetização (ANA), um exame universal para todas as crianças de 8 anos. O MEC avaliava se criança sabe ler, escrever, princípios básicos da matemática. Verificamos que 22% não liam, 44% não escrevia e 22% não dominava matemática. É preocupante porque se não resolve alfabetização, não resolve mais nada. Colocamos a obrigatoriedade a partir dos 4 anos para começar na escola e dar oportunidade, estímulos adequados para a alfabetização”.
Ele explica que “o MEC nunca impôs método pedagógico, e cada rede, cada município, tem sua liberdade pedagógica. O que MEC dá são instrumentos, bibliografia”. “Não pode chegar um sujeito, demolir as paredes que construímos e dizer que o problema da educação é ideológico, é o marxismo. A questão central é a formação dos professores, é melhorar a condição de trabalho nas escolas, é criar mais infraestrutura, é investir na educação integral, produzir livros didáticos de melhor qualidade, mas principalmente estimular o professor”.
Mercadante lembrou, como exemplo do descaso com a educação pelo novo governo, que um decreto assinado no dia 2 de janeiro alterou o edital para os livros didáticos que seriam comprados pelo Ministério da Educação. Não seria mais necessário que os materiais tivessem referências bibliográficas, e ainda foi retirado o item que impedia publicidade e erros de revisão e impressão.
“Aí demite 10 pessoas e depois vem um servidor dizer que foi culpa dele. Anularam a mudança do edital, mas o FNDE ficou acéfalo e colocaram na presidência do órgão um homem do sistema financeiro”, comentou.
Mercadante ainda repudiou o projeto conhecido como “escola sem partido”, mas que na verdade é a escola com mordaça, e afirmou que a liberdade de cátedra e de pensamento são essenciais, sendo que as escolas já tem capacidade de, junto com os pais, lidar com possíveis abusos.
Da Redação da Agência PT de notícias