Mulher cria museu em homenagem a Lula na periferia de Fortaleza

Maria transformou parte da casa em espaço para exposição de materiais ligados ao ex-presidente. Nas eleições municipais, a vendedora votará Luizianne

Em uma rua humilde do bairro Presidente Kennedy, na periferia de Fortaleza (CE), uma casa à beira da linha férrea Fortaleza-Sobral se destaca das demais pela aparência de onde deveria ser a garagem. Há fotos, camisetas, revistas, livros, pôsteres e outros objetos à exposição. Todo material é ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao PT e a figuras históricas da esquerda nacional.

A dona da casa é a vendedora autônoma Maria Guedes, de 47 anos, que batizou o local de Espaço de Vivências e Reflexões do PT. Ela criou o espaço sozinha a partir de um autógrafo que ganhou de Lula em 1994. Sua extrema admiração pela figura do líder petista, porém, vem de bem antes.

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Ela cresceu em um sítio no alto sertão paraibano, no esquema “casa grande e senzala”, explica a vendedora. A única informação que recebia de lugares distantes vinha do radinho de pilha que mantinha no quarto.

Pelas ondas do rádio, descobriu que existia um operário pernambucano em São Paulo que havia criado um novo partido político com viés popular e transformador.

“A importância do Lula para quem nasceu no interior pobre do Nordeste não tem tamanho. Ele mostrou que a gente poderia chegar lá. Eu cresci me inspirando na história de Lula”

“Pode parecer bobagem para quem é de cidade grande, para quem é estudado. Mas a importância do Lula para quem nasceu no interior pobre do Nordeste não tem tamanho. Ele mostrou que a gente poderia chegar lá. Eu cresci me inspirando na história de Lula”

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Maria enfrentou os donos da fazenda onde passou a infância, além das ameaças de seus capangas, ao fazer, com uma tinta vermelha de esmalte, o nome de Lula em uma camiseta durante as eleições de 1989. Os “donos da cidade” não admitiam que o povo votasse no PT.

Na década de 1990, foi para Fortaleza, morou em favelas e passou a vender churrasquinhos para sobreviver. “Sempre com a bandeira do PT ao lado da minha barraca. Ela que me dava esperanças de uma vida melhor”.

Lula e a auto-estima nordestina

Com a chegada de Lula à presidência da República, em 2003, a condição financeira da vendedora já havia melhorado, graças à venda de roupas de porta em porta. Ela explica, porém, que teve outra inspiração para transformar sua condição social.

“Minha vida melhorou graças à inspiração que a figura do Lula sempre me trouxe”.

Ela conta que não necessitou receber o Bolsa Família e outros programas sociais criados pela Presidência da República, mas aconselhava os amigos que precisavam a irem atrás dos benefícios governamentais.

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Se o Nordeste se transformou com a chegada de Lula e do PT à Presidência? Ela se apressa em responder de forma afirmativa e explica que a principal razão é a mudança de auto-estima da população nordestina.

“Foi um divisor de águas. Depois que o Lula chegou ao poder, a auto-estima do nordestino se elevou. A gente se libertou. É como se a gente tivesse saído da senzala”.

“Foi um divisor de águas. Depois que o Lula chegou ao poder, a auto-estima do nordestino se elevou. A gente se libertou. É como se a gente tivesse saído da senzala”.

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A vendedora também analisa a perseguição judicial, política e midiática que Lula vem sofrendo nos últimos anos.

“Eles não engoliram um retirante nordestino chegar ao último escalão da escala social. De lá para cá, vêm procurando todas as formas macular a imagem de Lula e do PT porque, pelo voto, eles estão encontrando dificuldades de retomar o poder, então criam artifício. Pelas urnas, ninguém toma do Lula”.

O carisma de Luizianne

Uma outra admiração que Maria tem é por Luizianne Lins, candidata do PT à prefeitura de Fortaleza. Luizianne, explica ela, se assemelha a Lula pelo carisma, respeito aos mais pobres e profunda e sincera preocupação social.

“Ela ainda é boêmia, gosta de Carnaval e de festa. Luizianne mostra que políticos não precisam ser sempre sisudos”.

Maria lembra que, antes de Luizianne ser prefeita de Fortaleza, entre 2005 e 2012, costumava ajudar as vizinhas a comprar uniforme escolar aos filhos. Com a entrada da petista na prefeitura da capital do Ceará, a realidade mudou.

A então prefeita passou a oferecer uniforme gratuito e de boa qualidade a todos os alunos da rede pública. “Era uma satisfação só ver toda aquela criançada chegando com uniforme todo bonito. Nenhuma amiga mais precisou de ajuda para vestir os filhos”, lembra.

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Ela também cita a preocupação de Luizianne com a questão habitacional.

“Antes, tinha muita área de risco em Fortaleza. Sempre que chovia era sinônimo de barraco caindo. Ela resolveu boa parte do problema ao entregar mais de 45 mil casas. Luizianne já mostrou que o trabalho dela é voltado para as classes mais desfavorecidas”.

Além disso, a vendedora exalta a importância dos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Rede CUCA) criados pela prefeita.

“Os três CUCAs mudaram a vida dos jovens de Fortaleza. Eles inauguram um modelo de vida que só os filhos de rico tinham, com curso de teatro, cinema, fotografia. Tem até espaço para não fazer nada”.

“Os três CUCAs mudaram a vida dos jovens de Fortaleza. Eles inauguram um modelo de vida que só os filhos de rico tinham, com curso de teatro, cinema, fotografia. Tem até espaço para não fazer nada”.

Por outro lado, Maria critica o atual prefeito e candidato à reeleição, Roberto Cláudio, por sua má gestão na área da saúde.

“Eu não votei nele, mas torci para que fizesse uma boa administração, pois amo Fortaleza. Por ele ser médico, até acreditei que teria sensibilidade para trabalhar bem nessa área. Porém, não avançou em nada na saúde. Deixou muito a desejar”.

De Boff a Salgado

A vendedora já entrou em uma faculdade de Jornalismo, porém não terminou o curso. Hoje, quase aos 50 anos, tem o sonho de estudar Sociologia. Ela quer escrever “coisas bonitas como Leonardo Boff e Frei Betto”, outras duas admirações da mulher.

De acordo com Maria, o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff foi uma “injustiça sem tamanho. “A Dilma é uma mulher séria, digna, honrada. Eu tenho um sentimento de admiração profunda pela presidenta. É uma das pessoas mais sérias deste País”.

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Outro político que ela diz gostar muito é Eduardo Suplicy, ex-senador e candidato a vereador por São Paulo. Há, inclusive, um enorme pôster do petista exposto no Espaço de Convivências e Reflexões do PT.

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“Eu admiro a ética moral e a honradez do Suplicy. Depois de ser senador por 24 anos, ele está tendo a humildade de se candidatar a vereador, para servir as pessoas. Ele não está na política pelo glamour, mas para verdadeiramente representar o povo”.

Além das figuras da política nacional, há espaço para livros do escritor alemão Friedrich Nietzche (“gosto muito do que ele escreve”) e de poetas nordestinos. Há também o livro “Terra”, do fotógrafo Sebastião Salgado. A capa da publicação com o rosto de uma criança de um assentamento  interiorano se tornou icônica.

“Eu nunca tive uma foto de infância. Então, eu gosto de pensar que essa menina sou eu”.

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Imagem de capa do livro “Terra”, de Sebastião Salgado (divulgação)

 

Por Bruno Hoffmann, de Fortaleza, para a Agência PT de Notícias

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