Mulheres tem mais risco de serem assassinadas em casa do que na rua
Especialistas acreditam que aumento de feminicídio tem relação direta com a redução orçamentária de políticas públicas para a população feminina
Publicado em
As mulheres correm mais risco de serem assassinadas dentro de casa do que nas ruas. É o que indica os dados do Atlas da Violência 2019, que aponta que casos de assassinatos de mulheres dentro das residências aumentou 17%, enquanto nas ruas diminuiu 3% no período de 2012 a 2017, segundo noticiou a Folha de S. Paulo.
O Atlas da Violência 2019 foi produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado nesta quarta-feira (5). O coordenador do Atlas, pesquisador do Ipea Daniel Cerqueira, explicou à Folha que “nesses cinco anos, o homicídio de mulheres cresceu 1,7%. Mas, quando desagregamos os dados por local da morte, encontramos resultados com direções completamente contrárias”
Os dados do Ministério da Saúde utilizados pelo Atlas não permitem elucidar a tipificação legal ou a motivação do agressor, mas o recorte do local em que os crimes aconteceram sugere que sejam mortes violentas cometidas por conhecido da mulher vítima.
Daniel explicou ainda que “a literatura internacional traz evidências de que 90% das mortes dentro de casa são cometidas por alguém conhecido. E, portanto, o dado é o que chamamos de proxy [um dado utilizado para substituir outro de difícil mensuração] para o crime de feminicídio”.
A especialista em violência de gênero contra as mulheres, socióloga Wânia Pasinato, afirmou também para a Folha que “ainda que não haja uma correspondência exata entre feminicídio e morte em casa, este local da morte é um indicativo de feminicídio se considerarmos a premissa básica de que a casa é o lugar mais perigoso para as mulheres, que morrem mais nas mãos dos parceiros afetivos do que de quaisquer outras pessoas”.
Para Wânia, esse aumento significativo de assassinatos de mulheres dentro das residências cometidos por arma de fogo (30% em dez anos) em relação ao dado global de mulheres (21% no mesmo período) é consequência do desmonte de políticas públicas para mulheres ocorrido a partir de 2015.
De 2014 a 2016, o orçamento voltado à políticas públicas para mulheres teve redução de 40%, de acordo com dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Em 2017, essa verba sofreu nova redução (52%).
“O aumento dessas mortes é um provável indicativo da retirada do investimento do governo federal e da falta de compromisso das administrações estaduais e municipais em manter esses equipamentos. As mulheres estão vivendo um grande desamparo”, finalizou Wânia.
Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT com informações da Folha de S. Paulo