No Brasil pós-golpe, cerca de 4 milhões foram empurrados à linha da pobreza
Reforma da Previdência, congelamento do Salário Mínimo por dois anos e corte de investimentos públicos aprofundam a desigualdade no governo Bolsonaro
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Mais de 13,5 milhões de brasileiros viviam na miséria em 2018, o maior contingente já registrado no Brasil. O recorde negativo foi confirmado nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) referente ao ano passado.
Isso significa dizer que 6,5% da população do País sobreviveram ao longo de 2018 apenas U$S 1,9 (R$ 7,75) por dia — renda mensal per capta inferior a R$ 145 (US$ 35), faixa definida pelo Banco Mundial para identificar a condição de extrema pobreza. Os brasileiros e brasileiras vivendo abaixo da linha da pobreza são uma população equivalente ao total de habitantes de Portugal.
Desigualdade
Atualmente, metade da população brasileira, No segundo país mais desigual do mundo — apenas superado pelo Catar — o aumento da pobreza no Brasil, pelo quarto ano consecutivo, é uma tendência prossegue em 2019, como confirmam os números parciais já divulgados pelo IBGE.
De 1º de janeiro a 31 de março deste ano, o Brasil registrou o 17º semestre seguido de crescimento da desigualdade dos rendimentos do trabalho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) do IBGE.
Em outubro, o IBGE já havia IBGE registrado que a metade mais pobre da população, quase 104 milhões de brasileiros, vivia com apenas R$ 413 mensais, considerando todas as fontes de renda.
Desigualdade aumenta
Os números do IBGE comprovam que desde 2015 — quando os adversários do governo Dilma desencadearam a sabotagem política que culminou no golpe de 2016 — a superação da desigualdade começou a perder a luta contra a concentração de renda.
Entre 2012 e 2014, o grupo dos 40% dos trabalhadores com menores rendimentos apresentou aumento mais expressivo do rendimento médio domiciliar per capita, passando de R$ 329 para R$ 370.
“A partir de 2015, o rendimento médio deste grupo caiu para R$ 339. Já o grupo dos 10% com maiores rendimentos sofreu uma modesta redução do rendimento médio entre 2012 e 2015 (de R$ 5.408 para R$ 5.373), mas passou a subir nos anos seguintes, resultando, ao final de 2018, em um rendimento médio de R$ 5.764, o maior valor da série”, aponta o IBGE.
Horizonte sombrio
“O aumento da desigualdade está fortemente relacionado à piora do mercado de trabalho, seja pela ampliação do desemprego, seja pela precarização”, explica o economista Bruno Moretti, assessor da Bancada do PT no Senado.
Essa precarização, sacramentada pela reforma trabalhista aprovada em 2017, contribui para que cada vez mais o fato de se ter um trabalho seja antônimo de estar na miséria: dos 13,5 milhões extremamente pobres no Brasil, 1,8 milhões estavam ocupados no mercado de trabalho em 2018, como apurou o IBGE.
Políticas perversas
Moretti alerta que a desigualdade em geral, a desigualdade no mercado de trabalho e a pobreza extrema devem piorar, em consequência de uma série de medidas adotadas por Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. O fim da política de valorização do salário mínimo, a queda das rendas das aposentadorias, decorrente da reforma da Previdência, e agora a proposta de suspender repasses para a saúde e educação públicas são alguns exemplos.
A intenção de suspender os recursos para a saúde e educação consta do pacote de medidas econômicas anunciado por Jair Bolsonaro na última terça-feira (5), classificado como “extremamente perverso” pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Só crise
No pacote composto por três propostas de emendas à Constituição (PECs), Bolsonaro e Paulo Guedes querem alterar os limites constitucionais de gastos sociais, como os da saúde e da educação, dois pilares redistributivos, como ressalta o economista Moretti.
“Bolsonaro até agora só conseguiu promover crises, cortes sucessivos e apresentar projetos que acabam com direitos conquistados com muita luta pela população brasileira”, lembra o senador.
Escolha de Sofia
“Sem contar com a saúde e a educação públicas, a parcela mais pobre da população, com a renda já insuficiente em queda e acossada pelo desemprego, se verá na contingência de comprometer um dinheiro que não tem para ter acesso a esses serviços, ou abrir mão deles”, alerta Moretti.
Essa “escolha de Sofia” compromete não apenas o bem-estar imediato dessas pessoas, mas também suas perspectivas de longevidade, empregabilidade e a formação de seus filhos, eliminando as chances de mobilidade social das novas gerações.
“Saúde e educação são áreas fundamentais porque garantem respectivamente o futuro do nosso país pelo conhecimento e a saúde do brasileiro. Todos sabem que precisamos de mais recursos para investir nos dois setores e não o contrário. O que estão querendo fazer com o Brasil é assustador”, protesta Humberto Costa.
Saudades de 2014
Os dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira mostram que a partir de 2015 mais 4,5 milhões de pessoas ingressaram na extrema pobreza.
Em 2014, o Brasil tinha batido dois recordes extremamente positivos: a menor taxa de desemprego da história (4,8%) e o maior contingente de brasileiros que deixou a condição de pobreza extrema: 2,3 milhões de pessoas naqueles 12 meses.
Por PT no Senado