Para Bolsonaro, ter filho embaixador facilita exploração de terra indígena
Declaração foi dada no mesmo dia em que garimpeiros invadiram a aldeia de Waiãpi, no Amapá, e assassinaram uma liderança da etnia local
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Cerca de 50 garimpeiros invadiram neste sábado (27) a aldeia de Waiãpi, no Amapá, para assassinar uma liderança indígena do local e ameaçar a todos que se colocarem no caminho de seus interesses comerciais. No mesmo dia, durante evento nas Forças Armadas no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro desdenhava em tom de sarcasmo do “excesso de proteção” aos índios do Brasil.
A declaração – absurda, preconceituosa e desinformada – foi uma tentativa de justificar a escolha de seu filho Eduardo para a Embaixada dos Estados Unidos. “Terra riquíssima (reserva indígena Ianomami). Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o “primeiro mundo” para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, disparou.
Ainda que se diga patriota e que trabalha pelos interesses do povo brasileiro, nada do que o presidente faz parece justificar tal premissa. No caso de dar o cargo de embaixador ao filho, além de prática de nepotismo, vai contra o “critério técnico” que prometeu usar para montar sua equipe no governo federal. É evidente que Eduardo Bolsonaro não possui atribuições para assumir o posto que exige formação específica, amplo conhecimento de diplomacia e respeito a valores universais desprezados por ele publicamente.
E mais: vai contra também a própria opinião pública já que levantamento divulgado no dia 18 de julho mostra que quase dois terços da população (64,9%) discorda da nomeação do deputado federal do PSL para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Criada por Lula, Raposa Serra do Sol é símbolo de resistência
Pouco dias antes de assumir o cargo mais alto da República, Jair Bolsonaro disse que pretendia abrir a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, para a exploração mineral. Criada pelo ex-presidente Lula, a reserva indígena completou 13 anos em 2018.
Símbolo da resistência e da luta indígenas no país, e agora ameaçada por Bolsonaro, a reserva teve sua homologação em área contínua assinada por Lula em 2005, depois de 30 anos de lutas jurídicas, e é o principal marco do governo Lula no campo indigenista.
“A demarcação da terra, que era uma reivindicação histórica dos indígenas da região, foi realizada em 1998 e homologada de forma contínua por Lula em 2005, marcando a retirada de não índios da região”, afirma o Instituto Lula, que saiu em defesa da demarcação.
A Raposa Serra do Sol é uma das maiores terras indígenas do País, com 1.743.089 hectares e mil quilômetros de perímetro. Na área vivem cerca de 20 mil índios, a maioria deles da etnia Macuxi e Yanomami. Entre os grupos menores, estão os Wapixanas, Ingaricós, Taurepangues e Patamonas.
Da Redação da Agência PT de Notícias