Paralisia de Guedes e Bolsonaro agrava a crise e amplia turbulência

Aposta das oposições para enfrentar a turbulência é uma combinação de medidas anticíclicas: investimento público e revogação da Lei do Teto de Gastos

Valter Campanato/ABr

O mundo pode entrar na mais grave crise econômica dos últimos 50 anos, por conta da crise de saúde pública global do coronavírus, combinada com a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Diversas medidas vêm sendo anunciadas pelos governos europeus e autoridades nas Américas, mas o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes são incapazes de apontar um caminho para impedir que a crise econômica brasileira, iniciada com a derrubada de Dilma Rousseff da Presidência da República em 2016, seja agravada pela ameaça de recessão global. “As medidas até agora são insuficientes para impedir a piora da economia brasileira”, afirma Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.

A legenda e os outros partidos de oposição apresentaram, no início da semana, um conjunto de medidas para reverter o quadro de recessão que se avizinha sobre a economia, estagnada pelo PIB de 1,1% de 2019. Entre as medidas propostas estão a revisão da Lei do Teto de Gastos e a suspensão das PECs 186 (Emergencial), PEC 187 (Fundos Públicos) e 188 (Pacto Federativo). “Tais medidas são necessárias para impedir o agravamento da crise”, defende o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE).

A oposição defende uma reforma tributária justa, solidária, desonerando o consumo das famílias e incluindo a taxação de grandes fortunas. “É preciso ainda ampliar a rede de proteção aos mais pobres, que estão mais vulneráveis à crise, liberando aposentadorias e benefícios, e revertendo o congelamento das inscrições no Bolsa Família”, aponta Gleisi. Sem retomar os investimentos públicos em obras, dificilmente será possível para fazer a roda da economia girar e gerar mais empregos. “Ou fazemos isso, ou a recessão global vai nos atingir em cheio. A oposição tem um caminho para atravessarmos a tormenta”, disse. Economistas liberais, como Monica de Bolle, passaram a defender enfaticamente nas últimas semanas a reversão da política de ajuste fiscal e o investimento federal.

O Banco Central dos Estados Unidos anunciou ontem a injeção de US$ 1,5 trilhão. Os mercados estão reagindo hoje às ações dos bancos centrais e pela expectativa gerada em função do pacote financeiro do FED. O BC da Noruega, por exemplo, cortou juros; e o da Suécia adotou a mesma medida. O Banco Central da China anunciou a liberação de 550 bilhões de yuans. O Banco Central brasileiro limitou-se até agora a torrar parte das reservas internacionais – que hoje giram em torno de US$ 350 bilhões, deixadas por Dilma e Lula – para conter a pressão sobre a moeda brasileira, que já caiu 16% desde janeiro. Hoje, o Real é a moeda mais desvalorizada do planeta.

As manifestações de desapontamento de líderes que até então vinham apoiando a agenda econômica do governo não são mais feitas a portas fechadas. Nesta sexta, as críticas de Rodrigo Maia ao ministro Paulo Guedes tornaram-se públicas. O presidente da Câmara disse à Folha de S.Paulo que o ministro da Economia não está preparado para enfrentar a crise. O descolamento de Maia mostra que a percepção no Congresso mudou sobre o rumo que o governo deve tomar para enfrentar a tormenta de 2020, com os riscos crescentes de uma recessão que pode colocar em xeque a sobrevivência de todos. O Congresso cobra a reforma tributária e medidas anticíclicas.

Enquanto Maia bate em Guedes, o ministro da Economia insiste na receita de sempre: reformas fiscais e administrativa precisam ser aprovadas. Guedes prega a união entre governo e Congresso para “transformar a crise em reformas”. Ele diz que, aprovados os projetos prioritários, o Brasil deve crescer 2% neste ano. Palavras de alguém que não parece saber em que planeta está vivendo. Nenhuma mensagem sobre o que o governo deve fazer para evitar o desastre econômico que parece certo. Como reconhece Monica de Bolle, Guedes é inepto. Em entrevista a Luís Nassif, a economista denunciou que o o despreparo do ministro da Economia espantou economistas americanos.

No mundo inteiro, as políticas de ajuste fiscal estão sendo desmanchadas para que os governos possam garantir empregos e renda para seus povos. Com apoio do próprio FMI, cada vez mais assustado com a piora da economia global e os índices alarmantes de desigualdade. Aqui, de concreto até agora, o governo Bolsonaro decidiu antecipar o 13º dos aposentado e facilitar o crédito consignado. São “as primeiras reações da área econômica à crise”.

Em outros países, a atuação dos governos é vigorosa. A Alemanha vai liberar US$ 600 bilhões para ajudar as empresas. O Reino Unido também anunciou a liberação de recursos. Assim como a França. O presidente Emmanuel Macron disse que vai ampliar a rede de proteção social, garantindo renda a desempregados e remunerando trabalhadores que ficarão confinados em casa. Se o governo francês mostra que tenta proteger empresas e empregados da crise de saúde pública, o brasileiro ainda não sabe bem o que fazer.

Por PT no Senado

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