Paulo Okamotto: “Reconstruir políticas públicas leva tempo”

Em entrevista à TV Gazeta, presidente da Fundação Perseu Abramo avalia os desafios do governo Lula e a necessidade de consolidar políticas sociais

Jornal da Gazeta / Reprodução

Okamoto analisa o futuro do PT e os desafios econômicos do Brasil

O Partido dos Trabalhadores se prepara para os próximos anos em meio a desafios políticos e econômicos que vão desde a reconstrução de políticas públicas até a sucessão interna. Para Paulo Okamotto, dirigente histórico da sigla e presidente da Fundação Perseu Abramo, o governo Lula enfrenta um contexto complexo, que exige planejamento e unidade para consolidar avanços sociais e manter o apoio da população. Ele tratou desses e de outros assuntos em entrevista recente à jornalista Denise Campos de Toledo, do Jornal da Gazeta.

Reconstrução pós-destruição 

Um dos principais desafios do governo, segundo Okamotto, é lidar com os estragos deixados nos últimos anos. Ele destacou que Lula assumiu o país com políticas públicas desmontadas e instituições fragilizadas.

“Você não reconstrói isso de hoje para amanhã. O Lula tem feito nos últimos dois anos um trabalho de reconstrução dessas políticas, mas isso não é suficiente. Precisamos mostrar que toda a sociedade ganha quando combatemos a pobreza, melhoramos a saúde e a educação”, esclareceu.

A reconstrução, segundo ele, precisa ir além das políticas públicas e alcançar a cultura política da sociedade, reforçando a importância do Estado na promoção de bem-estar e justiça social.

O feminismo e as pautas igualitárias

O avanço de discursos contrários a temas de igualdade social tem sido um obstáculo para governos progressistas. Okamotto ressaltou que o feminismo, por exemplo, precisa ser compreendido de forma mais clara: “Feminismo, ao fim e ao cabo, é as mulheres terem direito ao mesmo salário, poderem trabalhar e dividirem as responsabilidades das tarefas domésticas”

Ele alertou que a resistência a essas pautas muitas vezes vem da forma como são apresentadas, e não necessariamente de uma rejeição à ideia de igualdade.

Sobre a adesão de parte da população a discursos que reforçam modelos familiares tradicionais, Okamotto reconheceu a diversidade de opiniões, mas destacou que a maioria da sociedade defende direitos equivalentes e que esse debate não deve ser abandonado.

Leia mais: Café PT: Paulo Okamotto apresenta novas ferramentas para trabalho de base

O dilema do empreendedorismo versus direitos trabalhistas

O cenário econômico e as novas dinâmicas do mercado de trabalho também impactam a política. Paulo Okamotto apontou que o individualismo tem crescido, alterando as prioridades do eleitorado.

“O mundo ficou mais individualista. As pessoas não querem necessariamente um emprego com CLT; querem flexibilidade. Se você oferecer R$ 10 mil com carteira assinada, todos aceitam. Mas muitos preferem ‘bicos’ pela liberdade de horário e a ilusão de ganhar mais”, afirmou.

Ele alertou, no entanto, para os riscos desse modelo: “Não podemos ter uma sociedade onde a maioria ganha R$ 3 mil. Precisamos discutir o rentismo e melhorar a distribuição de renda.”

Para Okamotto, a valorização do trabalho formal deve ser uma prioridade do governo e do partido nos próximos anos.

A sucessão no PT e a unidade partidária

Com a proximidade da escolha de uma nova direção no PT, surgem debates sobre quem assumirá a liderança do partido. Nomes como Edinho Silva e José Guimarães aparecem entre os cotados, e Okamotto chegou a ser mencionado como possível nome de consenso. Ele, no entanto, negou interesse na disputa e reforçou a força institucional da legenda.

“Hoje, o PT é um partido muito forte e diferente dos demais, porque escolhe sua direção na base”, explicou, ressaltando que o processo é democrático, com debate e discussão.

O dirigente afirmou que a prioridade do partido é fortalecer seu programa e preparar uma estratégia sólida para os desafios políticos e eleitorais dos próximos anos.

Leia mais: Ao Café PT, Okamotto fala sobre os 45 anos do PT, desafios e futuro da esquerda

Perspectivas econômicas e eleitorais para 2026

O cenário econômico será um dos principais fatores para definir o rumo da disputa presidencial de 2026. Para Okamotto, há razões para otimismo: “Com a queda do dólar, os preços de alimentos como carne e óleo vão baixar. A inflação tende a recuar, e a geração de empregos vai estimular a demanda. Podemos melhorar a vida do povo se produzirmos mais e distribuirmos melhor.”

Ele acredita que a recuperação econômica pode consolidar o apoio popular ao governo e fortalecer o projeto político do PT para o Brasil.

Da Redação

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast