Perseguição da PF na UFSC continua após morte de reitor

Chefe de gabinete da reitoria, Aureo Mafra de Moraes é alvo da Polícia Federal após entrevistas onde fala do ex-reitor Cancellier

Reprodução

Professor Aureo Mafra de Moraes

A perseguição praticada por setores da Polícia Federal com motivações políticas não tem limites. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o alvo agora é o professor de jornalismo Aureo Mafra de Moraes, chefe de gabinete da reitoria, acusado de “atentado contra a honra” da delegada Erika Mialik Marena, por entrevistas à TV universitária.

O vídeo que levou a PF a abrir o inquérito contra o professor tem menos de três minutos e mostra os festejos pelo aniversário de 57 anos da universidade, além de registrar “manifestações em defesa da universidade pública” e homenagens ao ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

A primeira aparição Aureo no vídeo, com seis segundos de duração, resume-se a uma frase incompleta por causa da edição. “[A] reação da sociedade a tudo aquilo que nos abalou neste ano”, diz, numa referência à morte do reitor. Os policiais federais viram aí um indício de crime porque, atrás dele, havia uma faixa com críticas aos responsáveis pela operação da PF.

“Agentes públicos que praticaram abuso de poder contra a UFSC e que levou ao suicídio do reitor”, dizia o cartaz que estampava fotos de Erika Marena, da juíza Janaína Cassol, que decretou a prisão de Cancellier, e do procurador da República André Bertuol, responsável pela operação no Ministério Público Federal.

Também no vídeo aparece uma faixa onde se lê “Não ao abuso de poder” e pequenos cartazes com os dizeres “Universidade rima com verdade e liberdade. Quem matou o reitor?”.

Não foi feita nenhuma menção à delegada nas entrevistas. Ao falar de Cancellier, Aureo diz que uma placa em sua homenagem “é um tributo a uma pessoa que nos deixou de forma tão trágica, tão abrupta, e que tinha um compromisso gigantesco com esta instituição”.

Atuação truculenta da PF na UFSC

Uma operação iniciada no final de 2017, para investigar supostos desvios na universidade, prendeu o então reitor Cancellier no dia 14 de setembro. Devido à truculência e desmoralização a que foi submetido no processo, ele tirou a própria vida no dia 2 de outubro.

A suspeita sobre o reitor de 59 anos, sem nenhum antecedente criminal, era a suposta tentativa de obstruir uma investigação sobre desvios no programa de educação a distância – feita, principalmente, por um declarado desafeto do reitor, o corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, integrante da Advocacia-Geral da União em Santa Catarina.

Em depoimento que prestou no inquérito da PF, o próprio Prado contou sua contrariedade por Cancellier, em medida administrativa de redução de custos, ter cortado uma gratificação de R$ 1 mil. A delegada Marena nem não cogitou que poderia haver possibilidade de retaliação pessoal.

Já em 2018, o relatório apresentado pela PF não apontava nenhuma prova de que o reitor teria se beneficiado de alguma maneira do suposto esquema investigado e ele nunca foi indiciado.

Na época da prisão, o PT divulgou uma nota, assinada pela presidenta Gleisi Hoffmann, onde afirmava que “a trágica morte do reitor Cancellier, além de denunciar uma perseguição injusta e arbitrária, é um grito de alerta contra os setores que tentam implantar no país um verdadeiro estado policial”.

“O reitor foi claramente vítima de agentes do Estado que ultrapassaram suas atribuições e os limites da lei, como vem ocorrendo de forma sistemática, sem que os mecanismos de correição da Justiça e das instituições se pronunciem”, dizia a nota”.

“Prender e humilhar, sem base na lei ou em evidências reais, tem-se tornado corriqueiro no Brasil, num ambiente em que a presunção da inocência e o devido processo legal são substituídos pelo mais primitivo linchamento midiático.”

Em função dos novos fatos, a Comissão Executiva Nacional do PT divulgou novo documento onde repudia “mais uma arbitrariedade e humilhação. Defendemos os direitos constitucionais e a obrigação da PF respeita-los”.

Veja o vídeo que motivou a nova investigação da PF

Da redação da Agência PT de notícias

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