Petroleiros da Bahia impedem fechamento de unidade na RLAM
Ação sindical que barrou a intenção da gerência de parar a produção da unidade 32, na Refinaria Landulpho Alves (RLAM), foi resultado de denúncia
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Petroleiros impedem a paralisação da produção da principal unidade de processo e refino (U-32) da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), segunda maior do Brasil, que fica no município de Mataripe, no Recôncavo Baiano.
O coordenador geral do Sindipetro-BA, Deyvid Bacelar, considera no mínimo estranho a Petrobras fechar uma unidade estratégica para o Brasil justamente no momento em que o preço da gasolina no país não para de subir. Com Temer, a participação da estatal no mercado brasileiro tem perdido força.
Segundo Bacelar, “seria estranho para a sociedade brasileira entender por que a Petrobras está parando uma unidade estratégica e fechando plantas de produção de óleo e diesel, tendo em vista o aumento da importação e o fato de os preços da gasolina e do diesel estarem subindo. Isso favorece apenas as importadoras internacionais”.
A ação sindical que investigou a denúncia de que a RLAM teria uma unidade fechada foi organizada pelo Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), Federação Única dos Petroleiros (FUP) e CUT-Bahia.
Os sindicalistas realizaram uma assembleia na porta da refinaria na manhã desta terça-feira (20), onde a categoria elegeu uma comissão que se reuniu com a gerência geral da refinaria para cobrar uma posição oficial da companhia sobre a denúncia de que a unidade teria as atividades paralisadas.
A gerência negou a intenção de fechar a unidade U-32 e confirmou a avaliação dos petroleiros de que seria uma decisão equivocada.
“Eles mesmos alegaram que os índices de produção da refinaria melhoraram e não teria o porquê parar a unidade 32. Essa decisão, agora, só poderá partir da diretoria executiva”, explicou Deyvid Bacelar.
A resposta, segundo Deyvid, foi resultado da mobilização da categoria, das denúncias feitas pelo Sindicato e das notícias que pautaram até mesmo a imprensa internacional.
Para José Maria Rangel, coordenador-geral da FUP, a interação entre a base e o Sindicato foi o que permitiu a vitória dos petroleiros. Sem isso, diz ele, seria mais difícil impedir a paralisação da unidade nesse momento.
“É importante nos mantermos mobilizados, pois esse movimento de avaliar o mercado para tomar decisões a respeito do fechamento ou não de unidades começará a atingir todas as refinarias da Petrobras, isso já está muito claro”, destacou Rangel.
O petroleiro e presidente da CUT-BA, Cedro Silva, comemorou a mobilização sindical realizada junto aos trabalhadores na refinaria. Segundo ele, foi uma oportunidade de dialogar com os petroleiros sobre a conjuntura nacional e o desmonte da Petrobras promovido pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP).
“Tivemos um bom diálogo com a categoria sobre tudo o que está ocorrendo na estatal, com o desmonte da indústria nacional e da nossa engenharia. Esse diálogo foi importante para seguirmos mobilizados e nos mantermos atentos às modificações nos planos da Petrobras”, avaliou.
“Deixamos claro para a gerência que qualquer mudança com relação ao futuro da RLAM, os trabalhadores precisam ser comunicados. E nós acompanharemos de perto”, completou, destacando a importância da Refinaria para a economia do estado da Bahia.
A denúncia
A denúncia de que a unidade de destilação da refinaria seria parada coincidiu com a forte redução da utilização do parque de refino nacional, conforme denunciou o Sindipetro-BA.
Segundo o Sindicato, os dados do Ministério de Minas e Energia mostraram que cinco refinarias da Petrobras (Rlam, Reman, Reduc, Refap e Rpcc) já operam com capacidade inferior a 75%.
“Há uma invasão de produtos importados no mercado brasileiro de combustíveis, o que restringe o escoamento da produção das refinarias nacionais”, diz documento do Sindicato.
Em 2017, foram importados mais de 200 milhões de barris de derivados de petróleo, número recorde da série histórica da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Histórico Rlam
A Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no município de Mataripe, na Bahia, é a segunda maior refinaria do Brasil.
Foi a primeira refinaria nacional de petróleo, impulsionada pela descoberta do petróleo na Bahia por volta de setembro de 1950. Com a criação da Petrobras, em 1953, a refinaria foi incorporada à recém-criada companhia.
Localizada no Recôncavo Baiano, sua operação possibilitou o desenvolvimento do primeiro complexo petroquímico planejado do país e maior complexo industrial do Hemisfério Sul, o Pólo Petroquímico de Camaçari.
Juntos, esses dois complexos industriais – Refinaria e Pólo – respondem por praticamente 50% da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado da Bahia.
A Refinaria Landulpho Alves, que em 2014 processava mais de 300 mil barris diários de petróleo, hoje refina cerca de 190 mil, saindo de mais de 80% para 51% da sua capacidade instalada, segundo dados do Ministério de Minas e Energia.