Produção industrial cai pelo 4º mês e derruba empregos e renda
Em ano de perdas nos três trimestres, resultado de setembro está em patamar abaixo do mesmo mês de 2021. PT propõe uma nova política industrial em seu Plano Brasil
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No vácuo de propostas da equipe econômica do desgoverno Bolsonaro para o setor produtivo, a decadência da indústria nacional vai se tornando crônica. Até no momento em que, historicamente, eleva a produtividade para atender as encomendas de fim de ano. Em setembro, a produção industrial registrou queda de 0,4% em relação a agosto, a sétima ao longo dos primeiros nove meses do ano, e quarta consecutiva.
Os números divulgados nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para baixo. A indústria encerrou o terceiro trimestre com recuo de 1,7% da produção, comparado aos três meses anteriores. Houve perdas nos três primeiros trimestres de 2021.
De agosto para setembro, houve taxas negativas em três das quatro categorias econômicas. Dez das 26 atividades tiveram resultados negativos, puxados pelas quedas de 1,3% em produtos alimentícios e de 2,5% em metalurgia. Enquanto a produção de alimentos está 7,4% abaixo do patamar pré-pandemia, o de metalurgia está 8,6% acima.
Na comparação com setembro de 2020, num dos picos da pandemia, a produção nacional também registra queda (3,9%%), com resultados negativos em três das quatro grandes categorias econômicas, 18 dos 26 ramos, 45 dos 79 grupos e 55,7% dos 805 produtos pesquisados. O patamar atual ainda está 3,2% abaixo do de fevereiro de 2020, período anterior à decretação da pandemia.
“É um setor que vem claramente numa trajetória descendente desde o início do ano. Isso reforça que a atividade ainda sente muito os efeitos da pandemia sobre o setor produtivo, seja com encarecimento de custos, escassez de matéria prima ou menor demanda”, explicou o gerente da pesquisa, André Macedo.
“Há outros fatores de demanda doméstica, como o mercado de trabalho longe de uma recuperação, crédito mais caro e uma inflação mais alta, que afeta o poder de compra dos consumidores”, completou.
Indicadores industriais também apontam queda
Também divulgados nesta quarta pelo IBGE, os Indicadores Industriais calculados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) reforçam a piora do cenário em setembroempregos. Com o recuo de 0,4% na produção industrial, o faturamento caiu 1,5% e a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) registrou a terceira queda seguida. O emprego da indústria de transformação ficou estagnado em relação ao mês anterior, enquanto o rendimento médio real segue tendência de retração.
Esta é também a quarta queda consecutiva do indicador, que acumula perda de 2,6% no período. Com isso, a indústria se encontra 3,2% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, no cenário pré-pandemia, e 19,4% abaixo do nível recorde, registrado em maio de 2011 – maior patamar desde o início da série histórica, em 1991.
“O resultado segue a tendência de retração observada desde o início do ano”, explica o gerente de Análise Econômica, Marcelo Azevedo. “O faturamento real da indústria vinha alternando altas e baixas, com as últimas mais acentuadas, mas pela primeira vez o faturamento caiu por dois meses consecutivos”, prosseguiu.
No último bimestre, a queda do faturamento somou 6,3%. No acumulado de janeiro a setembro, a queda alcança 9,0%. “Esse quadro já é resultado da alta de juros, da inflação, da falta de insumos e da crise hídrica. A indústria poderia estar em melhor momento, mas essa série de problemas traz insegurança e trava a atividade”, concluiu.
Apenas a disparado do preço da energia elétrica, estima a CNI, resultará em uma queda de R$ 8,2 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, em comparação com o que ocorreria sem a crise energética. Para 2022, a previsão é de perda de R$ 14,2 bilhões. Os dados constam do estudo Impacto econômico do aumento no preço da energia elétrica, apresentado nesta quarta-feira (3) pela entidade.
Autora do estudo, Maria Carolina Marques afirma que neste ano o consumo das famílias se reduzirá em R$ 7 bilhões, as exportações terão perdas equivalentes a R$ 2,9 bilhões e o impacto no emprego será de menos 166 mil postos de trabalho.
Os dados também mostram que, em 2021, o PIB industrial, que inclui indústrias extrativa e de transformação, serviços industriais de utilidade pública e a construção, deve se reduzir em R$ 2,2 bilhões em comparação ao que seria sem o aumento de custo da energia elétrica. Somente o PIB da indústria de transformação ficará R$ 1,2 bilhão menor neste ano, calcula a economista da CNI.
Os efeitos da degradação econômica generalizada e da má gestão do setor energético por parte do desgoverno Bolsonaro se estenderão pelo próximo ano. Em 2022, o aumento no preço da energia elétrica resultará em uma perda no PIB industrial de R$ 3,8 bilhões a preços de 2020, em comparação ao que ocorreria sem os efeitos da crise. A perda estimada no PIB da indústria de transformação é de R$ 1,7 bilhão.
Também há previsão de perda de 290 mil empregos em relação à quantidade de pessoas ocupadas entre abril e junho de 2021. O consumo das famílias se reduzirá em R$ 12,1 bilhões, e o impacto na inflação será de mais 0,41%. As exportações devem cair aproximadamente R$ 5,2 bilhões.
Com PT, fomento à produção
Entre 2003 e 2016, os governos do PT adotaram um amplo conjunto de medidas para estimular o crescimento da produção e da competitividade da indústria nacional. Ao longo desses 13 anos, novos instrumentos foram sendo mobilizados para atingir três objetivos complementares: reduzir os custos de produção industrial, estimular as exportações e incentivar o desenvolvimento tecnológico e a inovação.
As indústrias brasileiras foram apoiadas por medidas de redução do custo de seus dois principais insumos – trabalho e capital. Entre elas, a desoneração da folha de pagamentos, tratamento tributário diferenciado para as micro e pequenas empresas, redução do custo de investimentos em capital fixo, crédito mais barato e programas voltados ao fortalecimento do sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).
Proteger o mercado interno foi outra diretriz da política industrial adotada em todo o período do PT à frente do governo federal. Além de medidas de promoção comercial e de negociações para construção de acordos internacionais favoráveis à indústria brasileira, houve um grande esforço para dar celeridade às ações de defesa comercial e de aprimoramento da legislação antidumping, contra a concorrência desleal.
No Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, lançado em setembro do ano passado, o PT propõe uma nova política industrial após os anos de desmantelamento do sistema produtivo nacional promovido pelos governos do golpe.
“A retomada do desenvolvimento deve almejar o aumento da densidade tecnológica e da complexidade da matriz industrial existente, simultaneamente ao seu avanço em direção ao novo paradigma digital, não apenas como consumidores, mas garantindo uma inserção autônoma e soberana do Brasil”, recomenda o documento.
“O desenvolvimento da estrutura industrial existente é possível por meio de avanços na digitalização empresarial, pela reabilitação e acúmulo de competências fabris e pela utilização competitiva de recursos naturais estratégicos”, ressalta o texto.
“A Petrobras, o BNDES, a Embraer, a Embrapa, o Finep, além dos sistemas de metrologia, patentes e padronizações estão sendo desmontados. O sistema produtivo estatal e o sistema de bancos públicos abandonaram qualquer preocupação com as políticas de conteúdo nacional e os mecanismos de indução das compras públicas”, prossegue o plano, lembrando que a reconstrução das capacidades estatais é indispensável para o reposicionamento de uma nova indústria digital.
Da Redação