“Quem não conhece o esquema do Aécio?”, pergunta Sergio Machado

Vazamento do áudio entre ministro do Planejamento, Romero Jucá e ex-presidente da Transpetro atinge o senador tucano Aécio Neves

Presidente do PSDB foi citado nas gravações de Jucá. Foto: Lula Marques

Citado cinco vezes por delatores da Operação Lava Jato, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), aparece com destaque nas conversas entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado.

Feitas de forma clandestina, provavelmente pelo próprio Sergio Machado, que estaria negociando um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, as gravações foram divulgadas nesta segunda-feira 23 pela Folha de S.Paulo. Os áudios aparentemente indicam que o impeachment de Dilma Rousseff seria parte de uma estratégia para conter a Lava Jato.

Aécio é citado duas vezes nos trechos do diálogo selecionados pela Folha. No primeiro, Machado demonstra preocupação a Jucá a respeito das investigações, que iriam atrás de “todos os políticos”, e questiona se “a ficha” do PSDB já teria caído.

MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…

JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…

MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

Machado cita Aécio como “primeiro” a ser “comido” e faz uma referência à eleição do então deputado federal Aécio à presidência da Câmara. A eleição ocorreu em fevereiro de 2001, na parte final do governo Fernando Henrique Cardoso e provocou uma feroz disputa entre o PSDB e o PFL.

Partido do vice de FHC, Marco Maciel, o PFL (hoje DEM) queria emplacar Inocêncio Oliveira (PE) e Antonio Carlos Magalhães (BA) nas presidências da Câmara e do Senado, mas acabou derrotado pela articulação do PSDB, que emplacou Aécio na Câmara e Jáder Barbalho (PMDB-PA) no Senado

MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…

MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

Em entrevista à rádio CBN, Jucá negou que a referência à eleição de Aécio envolvesse algum esquema de corrupção. Segundo o hoje ministro, Sergio Machado fez uma referência ao “contexto político” daquela época.

“Nós construímos um entendimento pro Jáder ser o presidente do Senado e para o Aécio ser presidente da Câmara”, afirmou Jucá à CBN. Naquele período, Sergio Machado era senador pelo PSDB e liderava o partido na Casa. Seu vice era Romero Jucá.

“O esquema do Aécio”

A segunda citação a Aécio é mais contundente. Machado e Jucá estão aparentemente dialogando sobre as futuras eleições presidenciais e o ministro do Planejamento afirma que nenhum “político tradicional” tem possibilidades de vencer um pleito. Machado, então, diz que “Aécio não tem condição” e pergunta: “Quem não conhece o esquema do Aécio?”

MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…

JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…

JUCÁ – É, a gente viveu tudo.

*Texto publicado pela revista Carta Capital no dia 23 de maio de 2016

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