Réu confesso, crime 9: Campanha, só para deseducar

No primeiro ano inteiro de pandemia, o governo federal não lançou campanha para orientar a população a se proteger da Covid-19. Claro. Isolar as pessoas do vírus nunca foi a intenção de Bolsonaro

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Bolsonaro difundiu campanha de morte

Em 27 de fevereiro de 2020, as redes sociais italianas foram invadidas por um vídeo que divulgava o slogan “Milão não para”. Tratava-se de uma peça crítica às medidas de isolamento social que a Europa começava a adotar para frear o novo coronavírus. O prefeito da cidade, Giusepe Sala, a compartilhou. Um mês depois, em 26 de março, Milão abrigava 40% dos pacientes com Covid-19 e respondia por 54% das mortes pela doença na Itália. Sala, então, admitiu que tinha errado ao apoiar a campanha. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus”, justificou-se.

O mundo todo ouviu o alerta de Sala. Jair Bolsonaro, não. Exatamente no dia seguinte, em 27 de março, o governo federal disparou nas redes sociais um vídeo cujo mote era “O Brasil não pode parar”, estimulando as pessoas a continuar suas vidas como se não houvesse vírus. Para disseminar a propaganda nos meios digitais, o governo contratou uma empresa, sem licitação, por R$ 4,8 milhões. Coube à Justiça intervir e proibir a veiculação da campanha.

Em outras palavras, duas semanas depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar que a Covid-19 era uma pandemia, Bolsonaro gastou dinheiro público para deseducar. Nada falou sobre máscaras ou sobre lavar as mãos, usar álcool em gel e ficar em casa. Como anotou a Casa Civil da Presidência da República, no item 6 da lista de crimes que deu origem a esta série Réu confesso: “O Governo não promoveu campanhas de prevenção à Covid”.

Ao depor da CPI da Covid, na semana passada, Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde no início da pandemia, disse que nunca teve apoio do governo Bolsonaro para realizar uma campanha de orientação da população. “Não havia como fazer uma campanha [sobre Covid-19], não queriam fazer uma campanha oficial”, revelou. Uma iniciativa nesse sentido, estimulando o uso de máscaras pela população, só foi feita em abril passado, mais de um ano depois de iniciada a pandemia no Brasil. E, mesmo assim, dias depois do anúncio, Bolsonaro apareceu em público sem a proteção e causando aglomeração.

Imunidade de rebanho

Como já ficou claro, essa sequência de absurdos é mais uma prova de que Bolsonaro perseguia a imunidade de rebanho sem vacina, atuando sistematicamente para infectar o maior número de brasileiros (leia aqui sobre a imunidade de rebanho e como Bolsonaro a buscou de maneira criminosa). Preferiu matar do que reduzir a atividade econômica.

“A não veiculação (de uma campanha educativa) por meios de difusão abertos, ou seja, canais de televisão aberta, grandes meios de comunicação, foi uma estratégia para que só a opinião dele fosse difundida”, esclarece o senador Rogério Carvalho (PT-SE), membro suplente da CPI da Covid.

Para o senador, a CPI da Covid precisa investigar também o uso de recursos públicos em prol da desinformação e às custas de milhares de vidas. “Vamos descobrir como a opinião dele foi veiculada, usando dinheiro público, através de influencers e sites que chegam a determinados públicos que reforçam e reproduzem a teoria e a forma de pensar do presidente”, afirma. Parte dessa investigação deve ocorrer já nesta quarta-feira (12), quando a CPI ouvirá o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Fabio Wajngarten.

Da Redação

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