Rodrigo Cesar: Sobre o balanço – Parte 4

Historiador e membro do conselho da Escola Nacional de Formação do PT analisa aspectos da estratégia adotada pelo PT e da política econômica do governo federal

Tribuna de Debates do PT

No terceiro texto desta série analisamos aspectos da estratégia adotada pelo PT e da política econômica do governo federal e consideramos que a crise capitalista internacional reduziu as condições objetivas para a continuidade da política de conciliação.

Contudo, a maioria dos petistas imaginava que a conciliação poderia ter longa duração desde que os interesses capitalistas fossem atendidos. Deliberadamente ou não, o argumento de que a correlação de forças não permitiria a realização das reformas estruturais omitia a crença tácita de que não seria necessário realizá-las para melhorar ininterruptamente a vida do povo.

Esta maioria não percebia que mesmo as medidas que não realizavam mudanças estruturais, como a política de elevação do salário mínimo, confrontavam diretamente o principal interesse capitalista: sua taxa de lucros.

Não percebia também que a estratégia de conciliação de classes não preparou o campo democrático-popular para situações de conflito direto com interesses estratégicos do grande capital, como nos casos da redução da taxa de juros dos bancos públicos em 2011 e da defesa de uma Constituinte exclusiva do sistema político em 2013. Ou seja, não bastaria incluir tardiamente as reformas estruturais no programa sem uma nova estratégia capaz de criar as condições para implementá-las.

Assim, a estratégia que permitiu a Lula terminar seu segundo mandato com aprovação recorde e eleger Dilma como sucessora atingia seu limite. Certamente, havia o que ser celebrado quando se completou 10 anos de governos Lula e Dilma, mas o tom ufanista dava a entender, equivocadamente, que tudo ia bem, que não se deveria “mexer em time que está ganhando”.

Mas esta aparência não correspondia à realidade: desde então, a vida do povo passou a melhorar menos e mais lentamente e depois passou a piorar, sobretudo a partir de 2015.

Obviamente, a explicação deste fenômeno não pode ser buscada apenas nas medidas adotadas pelo governo federal – seja porque o Estado não controla os setores estratégicos da economia, seja porque estamos falando dos impactos de uma crise internacional – mas elas ajudam a explicar aspectos fundamentais do processo.

Depois da acertada politização e polarização programática na campanha de 2014, o segundo governo Dilma, com o aval da maioria do PT, adotou aspectos fundamentais do programa econômico que a maioria do povo derrotou nas urnas. O resultado politicamente mais impactante do ajuste fiscal realizado foi a perda de apoio da parcela da classe trabalhadora que, apesar de já manifestar seus variados graus de desconfiança e insatisfação com o PT, votou em Dilma nas eleições de 2014.

Contudo, sentindo-se vítimas de um estelionato eleitoral e bombardeada pela tese de que o PT teria montado um enorme esquema de corrupção para financiar suas campanhas eleitorais, parte expressiva da classe trabalhadora afastou-se do PT, como ficou mais evidente com o resultado das eleições municipais de 2016.

Mantida a política econômica que gerava recessão, desemprego, queda na arrecadação e no rendimento médio do trabalho, o chamado para lutar contra o golpe e em defesa da democracia não ultrapassou a vanguarda e os setores mais conscientes da classe trabalhadora, o que se demonstrou insuficiente para impedir a deposição de Dilma.

Ao mesmo tempo, os efeitos colaterais ideológicos e organizativos daquela estratégia tornaram-se cada vez mais visíveis e graves nos últimos anos.

Trataremos deste assunto no próximo texto.

Por Rodrigo Cesar, historiador, membro do conselho da Escola Nacional de Formação do PT e filiado no diretório municipal de São Paulo, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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