Rui Falcão: “É necessário atualizar a estratégia do partido”

Presidente nacional do PT resgata sua história dentro do partido e aponta quais os principais debates para o 6º Congresso Nacional em junho

Fernanda Estima/Acervo Sérgio Buarque de Holanda
6º Congresso Nacional do PT

Rui Falcão no Primeiro Congresso do PT

No início da década de 1980, o hoje presidente nacional do PT Rui Falcão alternava o trabalho na revista Exame com a militância no PT. Falcão já havia militado no movimento estudantil e na resistência democrática, no movimento VAR-Palmares. Ao sair da prisão, integrou-se ao sindicato dos jornalistas de São Paulo, onde surgiam propostas para a fundação de novos partidos. Falcão conta que se aglutinaram em torno dessa ideia jornalistas como Perseu Abramo, Alípio Freire e Gabriel Romeiro, todos militantes do sindicato. Sob a liderança de Perseu Abramo, esse grupo teve grande presença no início do Partido dos Trabalhadores, com reuniões com os trabalhadores do ABC, do Rio Grande do Sul e de Minas. “Participei de todo o processo de filiação para conseguir o registro do partido e fiz parte do Núcleo das Estrelas, que era um grupo que se reunia artistas, jornalistas na rua Augusta, em São Paulo”, conta ele. O militante ajudou a fundar o diretório de Perdizes, com intelectuais, artistas, professores da USP e militantes de base. “E integrei depois a primeira executiva estadual do PT em 1983 da qual fizemos parte Devanir Ribeiro, Gushiken, Zé Dirceu, Zé Alvaro Moisés, Emir Sader. Uma direção que teve muito peso na história do PT”, relembra.

Jornalismo e carreira parlamentar

No início do PT, Falcão ajudou na construção do partido ocupando outros cargos de direção, como vice-presidente da executiva estadual. Depois, como Secretário de Formação, lançou a revista Teoria e Debate com Eugênio Bucci, Ricardo Azevedo e Paulo Tarso Venceslau. “Foi a primeira revista de teorias que os partidos lançaram aqui no Brasil , antes impressa e agora virtual”, diz. Seguindo sua trajetória, no fim da década de 80, Falcão foi presidente do diretório municipal de São Paulo. E, em 1990, candidatou-se a deputado estadual. “Eu fiquei como primeiro suplente e assumi em 1992. E, em 1994, fui reeleito”. Em 1998 Falcão se elegeu como deputado federal suplente. Em 2006 foi novamente eleito deputado estadual e depois reeleito em 2010. Em 2011, tornou-se presidente do PT após a renúncia de José Eduardo Dutra. Em 2013, foi eleito para o cargo, por meio do PED (Processo de Eleições Diretas). Seu mandato  vai até junho, quando será escolhida a nova direção, no 6º Congresso Nacional do PT.

Perspectivas para o Congresso

“Era preciso fazer um balanço das nossas experiências de governo sobretudo com as controvérsias que se criaram após o golpe”, explica o presidente. Seu mandato estava previsto até novembro de 2017, mas o encontro que definirá a nova presidência foi adiantado para junho devido à conjuntura do país. “Um golpe que depôs uma presidenta legítima, eleita pelo voto popular de forma limpa e foi deposta por um golpe cujos interesses aparecem mais claros agora: desmontar os 13 anos de transformação que o Brasil viveu”, afirma. Para Falcão, também é necessário debater a derrota eleitoral sofrida no ano passado “em grande medida por conta da campanha que desde 2005 vem sendo feita pela mídia, setores do judiciário e do Ministério Público, tentando tachar o PT com a pecha da corrupção”, diz. Para ele, é necessário atualizar a estratégia do partido. “O mundo mudou muito, há um renascimento das propostas neoliberais, e da direita. Uma campanha contra os imigrantes, contra os negros, contra os mulheres. É preciso combater essa ofensiva com uma uma proposta que aproxime mais o PT dos movimentos sociais , das lutas do povo, que dê mais peso à luta institucional”, afirma.

Rui Falcão em entrevista

Pontos para debate

O primeiro ponto, diz, é ver qual a estratégia de construção do socialismo no Brasil. “O PT tem deixado de ver qual o seu objetivo histórico. As eleições são um meio e não um fim. Os governos também são um meio para chegar a essa mudança mais geral da sociedade”, explica. Para ele, é necessário uma avaliação da situação internacional. “Nós tínhamos decidido fazer essa avaliação antes mesmo da eleição do Trump nos Estados Unidos. Olha as mudanças que se processam no mundo a partir dessa eleição”, diz. “Nós vivemos conjunturas que podem nos levar de guerras localizadas a mais gerais”. Para combater o discursos belicista, xenófobo e misógino da maior potência do mundo, é necessária uma reflexão maior sobre a necessidade de uma integração mais ampla dos partidos e movimentos da América Latina. Para Falcão, outro ponto a ser discutido é o balanço dos governos do PT. “Dos dois governos Lula, do qual a população hoje tem saudades, até o governo e meio da Dilma, no segundo governo elegemos a Dilma com muita dificuldade, e começamos a aplicar um programa diferente daquele que tinha sido defendido nas eleições”, afirma. “O quarto ponto é a necessidade de reorganizar o PT. Nós temos que reconstituir diretórios que estão abandonados, retomar a militância política no cotidiano, e não a cada dois anos nas eleições. Resgatar a militância nas ruas”, afirma. “Medidas de reorganização. Utilizar tecnologias para uma comunicação mais ágil com as bases. Mais peso das instâncias partidárias nos parlamentares e prefeitos e governadores , todo um processo de rediscussão que leva a recuperar valores da década de 1980, sem achar que nós vamos ter um partido igual ao dos anos 80 porque o PT é outro e o Brasil é outro”, comenta. O último ponto é discutir a tática atual e a conjuntura que vivemos. “Esse eixo que nós temos, que é Fora Temer, nenhum direito a menos e Diretas Já”, afirmou. Além disso, é necessário debater, segundo Falcão, como colocar na ordem do dia, em que momento e com que programa a pré-candidatura do Lula.

Congressos Marcantes

Dos encontros e congressos do PT em toda sua história, Falcão relembra do 5º Encontro, quando foi definida a política de alianças. “A necessidade de alianças na sociedade, no movimento sindical, no parlamento, a consciência que uma mudança geral na sociedade brasileira exige a participação de outras classes que não só da classe trabalhadora”, explica. Segundo ele, essas alianças foram importantes para as vitórias de 1988, em que o PT ganhou a prefeitura em várias capitais brasileiras, como Porto Alegre, São Paulo e Vitória. “Era preciso definir um programa e em torno dele, reunir forças diferentes, no movimento sindical, nos parlamentos, inclusive para construir uma economia socialista”, explica. Já no 3º Congresso foi definida a concepção do PT em relação ao socialismo. Nesse momento, foi defendida a pluralidade partidária, e eleições internas para que houvesse renovação constante, o que já havia sido debatido no princípio do partido. “A ideia também de que a liberdade de expressão, a democracia nas comunicações valem não só para a chamada democracia formal do capitalismo, mas deveria valer também numa sociedade futura, numa sociedade socialista, que seria marcado pela pluralidade, pela democracia, pelo fim de qualquer tipo de preconceito ou discriminação, pela ideia da igualdade de gênero, que hoje se materializa no PT por exemplo na paridade das direções”, explica. “Nós dissemos também naquele momento: não há democracia real sem socialismo, mas também não há socialismo sem democracia”.

“Nós dissemos também naquele momento: não há democracia real sem socialismo, mas também não há socialismo sem democracia”.

Já no 4º Congresso, foram feitas importantes definições de organização partidária, como a paridade de gênero. O PT foi o primeiro partido que estabeleceu 50% de homens e mulheres e que criou a cota de jovens e de etnia. Para o 6º Congresso, Falcão acredita que a juventude necessita de autonomia. “A juventude tem que ter uma participação autônoma, inclusive com autonomia orçamentária e financeira”, afirma. Da Redação da Agência PT de Notícias

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