#SeEleEstivesseArmado: Mulheres se unem contra liberação de armas

Em campanha realizada nas redes sociais, vítimas de agressões expõem casos de violência que poderiam ter terminado em mortes se agressores estivessem armado

Fernando Frazão/Agência Brasil)

Manifestação contra o feminicídio no Rio de Janeiro

Cinco minutos é o tempo que você levará para ler este texto. Quando chegar ao final, em alguma parte do Brasil haverá uma mulher aos prantos clamando por socorro. Clamando por sobrevivência. Para algumas, o tempo infelizmente será interrompido para sempre. Para outras, o fato de terem escapado da morte por um fio não alivia em nada o trauma e aumenta a angústia diante do que pode acontecer a partir de agora: estariam vivas se os seus algozes estivessem armados?

Para quem sentiu na pele ou conviveu de perto com a violência a resposta é não. A preocupação é tamanha que motivou nesta quarta-feira (16), um dia após o radical Jair Bolsonaro assinar decreto que facilita a posse de armas no país, a campanha #SeEleEstivesseArmado, que se manteve entre os assuntos mais comentados durante toda a data. A iniciativa tirou do anonimato inúmeras vítimas que decidiram se expor para rechaçar mais um retrocesso imposto pelo governo autoritário e que contraria todas as estatísticas sobre feminicídios no Brasil.

“Meu pai era alcoólatra e ficava agressivo, eu cresci e não ficava mais quieta, batia de frente, respondia os insultos dele. Um dia ele foi pra cima de mim com um facão, no outro ele me enforcou. Se meu pai bêbado tivesse uma arma, eu não estaria mais aqui”, confessou uma internauta, cujo relato se enquadra nos mais de 80% dos casos em que o agressor é uma pessoa próxima ou tem algum tipo de relação com a vítima.

É, também, a resposta imediata à possibilidade real de a liberação de armas engordar ainda mais o alarmante número de mulheres mortas. Para se ter ideia, em 2016, 2.339 mulheres foram mortas por arma de fogo no Brasil,  560 foram dentro de casa. Os dados são do sistema Datasus, do Ministério da Saúde, em levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz.

“Quando falei para um ex-namorado que não queria mais porque meu lance era meninas ele enlouqueceu. Me perseguiu, me agrediu num bar, me jogou de uma escada me ameaçando de morte (BO registrado e tudo). eu não estaria aqui tweetando essa história”, publicou outra vítima.

Nem sempre, no entanto, a vítima tem algum tipo de proximidade com o criminoso. “Em 2006, véspera do meu aniversário, voltava da balada com um amigo para quem dava carona e fui perseguida por um louco que ultrapassei no caminho. ele não teria só nos ameaçado com a chave de roda na mão no posto onde parei para pedir ajuda, ele teria nos matado”, contou outra internauta.

Ano novo, velhos riscos

Enquanto Bolsonaro assinava o decreto que libera a posse de armas no Brasil, a família da cearense Lidyanne Gomes ainda tentava entender o que levou o ex-companheiro da vítima a invadir a loja em que trabalhava e tirar sua vida com uma arma roubada de um distrito policial. “Não pude me despedir de você, mas quero que saiba que nunca esquecemos de você. Você será eternamente nossa filha”, escreveu o pai da jovem assassinada numa rede social.

A morte de Lidyanne aumentou o já preocupante número de feminicídios ocorridos em 2019: somente nos 13 primeiros dias do ano foram registrados em média mais de cinco casos por dia, entre consumados e tentativas, com um total de 67 registros. Destes, ao menos 16 mulheres tiveram suas vozes caladas para sempre.

Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT

 

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