Segurança pública: Bolsonaro ‘rouba’ sucesso nos estados e distorce dados

Especialistas afirmam que ações federais em nada contribuíram pela queda da criminalidade; governo só investiu até agora 6,5% dos recursos de 2019 para Segurança Pública

Marcos Correa/Agência Brasil

Checar toda e qualquer informação divulgada pelo governo federal passou a exigir esforço redobrado desde que Jair Bolsonaro  (PSL) assumiu a Presidência. Ao contrário do que se espera de uma gestão eficaz e transparente, desde janeiro tudo o que o impopular mandatário da República afirma traz uma série de armadilhas, informações falsas, contradições e uso distorcido de dados.

O problema fica ainda mais grave quando tamanha desinformação tem claros interesses políticos, como no caso do suposto sucesso das atuais políticas de segurança pública. Sem se preocupar com a complexidade dos dados, Bolsonaro simplesmente se apropria de algo que não tem nada a ver com a sua gestão e “comemora” a queda na criminalidade no Brasil.

Além de tentar amenizar os estragos causados pelo seu governo em praticamente todas as áreas – somados à retirada de direitos e total estagnação de economia -, Bolsonaro publicou dados do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp) para mostrar que o “governo está no caminho certo” no combate à violência no país. Ele só “esqueceu” de dizer que os dados mostram queda sistemática desde as gestões anteriores e, ainda mais grave, atribui ao seu trabalho números que na verdade são reflexos de políticas estaduais.

Por estar ainda em campanha e não ter se dado conta do tamanho da responsabilidade que o cargo sugere, Bolsonaro simplesmente ignorou informação fundamental: foram os estados do Nordeste, todos eles governados por gestões progressistas, que impulsionaram a queda nos índices.  Todos os nove estados tiveram quedas significativas , com maior destaque para Pernambuco (-23,3%), Alagoas (-19,8%) e Rio Grande do Norte (-17,6%).  Somando todos os estados, a região onde as taxas mais caíram no primeiro semestre deste ano – total de 27%.

“Bolsonaro não tem motivo algum para comemorar. Em nenhum setor. O mesmo vale para a Segurança Pública, que claramente tiveram melhoras impulsionadas pelos estados onde partidos como o PT governam”, resume o deputado Paulo Teixeira (PT-SP)

 

Ouvidos pela Folha de S. Paulo, diversos especialistas são unânimes em cravar que não há tempo hábil para atribuir qualquer dado positivo à gestão atual e que “resultados negativos ou positivos estão ligados a ações estaduais e municipais. Além disso, o efeito gerado por políticas públicas não costuma ser imediato”.

A taxa de mortes violentas intencionais, por exemplo,  já havia caído 10,8% em 2018 de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em junho, o ex-investigador da Polícia Civil de São Paulo e cientista político, Guaracy Mingardi  já havia alertado para uso político dos dados de segurança pública. “O governo federal atual está dizendo que foram eles. Isso é bobagem. Quem faz alguma coisa acontecer nos estados são as policiais estaduais, não é a Polícia Federal, não é o governo federal. O governo federal dá dinheiro. O dinheiro que o governo federal fosse dar esse ano, na verdade, se tivesse vindo em fevereiro, só ia começar a chegar nos estados no segundo semestre. Essas coisas não acontecem de uma hora para a outra”, criticou, em entrevista ao site Outras Palavras. 

Mais recentemente, o também cientista político Bruno Paes Manso foi enfático:  “Bolsonaro não só teve zero influência como ainda quase atrapalhou, ao pensar apenas no Estatuto do Desarmamento”, opinou em conversa com o El País, criticando a proposta armamentista do atual desgoverno.

É bom lembrar que, embora eleito com a segurança pública como principal bandeira, o atual governo só investiu até agora 6,5% dos recursos previstos para 2019 do Fundo Nacional de Segurança Pública.

Moro no país das fake news

 

Além do próprio presidente, o mais conhecido propagador de fake news do país, sua militância (cada vez mais rara) também tem se aproveitado dos índices acumulados para tentar salvar a imagem do “mito”.  Numa delas, atribui até o número de operações da Lava Jato à gestão Bolsonaro.

Como se não bastasse, o ministro da Justiça, Sergio Moro, mostrou que não sabe nem o que acontece dentro da sua pasta ao retuitar uma publicação repleta que traz inverdades – a postagem usada no perfil do ex-juiz foi desmascarada pela Agência de Checagem Comprova, projeto do Estadão com o site Poder 360. Confira aqui.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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