Taxa de mortalidade materna bate recorde em São Paulo

Foram 60,6 mortes por 100 mil, maior índice já verificado desde 1996; Brasil não cumpriu compromisso internacional de reduzir em 75% as mortes maternas

Arquivo/EBC

Estado de São Paulo registra recorde histórico de mortalidade materna

No ano de 2017, o estado de São Paulo registrou recorde histórico e aterrorizante de mortalidade materna. Foram 60,6 mortes por 100 mil, o maior índice já verificado no estado desde 1996, de acordo com levantamento feito pelo Ministério da Saúde obtido pela Folha de S. Paulo – o documento divulgado nesta sexta (28) usa como referência dados do ano retrasado.

O Rio de Janeiro atingiu números ainda maiores: 84,7 mortes por 100 mil. A médica e professora do Instituto de Estudos Avançados da USP, Fátima Marinho, frisou em entrevista para a Folha que “a razão [taxa] de morte materna no Rio é maior do que a de vários estados no Nordeste. São Paulo teve aumento de 50% desde 2000”.

O Pará é o estado com maior índice de mortalidade materna: 107,4 mortes por 100 mil. Já o Paraná possui a menor taxa do país, com 31,7 mortes por 100 mil. O compromisso internacional de reduzir em 75% as mortes maternas não foi cumprido pelo Brasil, que segue com os índices estabilizados, porém em níveis altos, com 64,5 mortes por 100 mil. A meta era ter chegado a 35 no ano de 2015.

Para a ginecologista e presidenta da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), Rossana Francisco, a situação no estado de São Paulo “pode ser considerada até mais grave do que a do Brasil porque, após atingir a razão de morte materna de 35, em média, entre 2003 e 2005, os índices têm subido a cada ano”, explicou em entrevista a Folha.

Principal causa

A principal causa de morte materna direta no estado de São Paulo é a hemorragia, desde o ano de 2015. No Brasil, a maior causa é a hipertensão.

Rossana Francisco alegou também que entre 2000 e 2015, teve um aumento nas taxas de cesarianas em SP, o índice subiu de 49% para 59%, e no mesmo período, o índice de mortes maternas por hemorragia subiu de 11% para 16%.

“Um dos riscos do aumento das cesáreas é a maior ocorrência de placenta prévia e de acretismo placentário [quando a placenta invade a parede do útero] que podem causar hemorragias e morte materna”, explicou.

PL das Cesáreas

Atualmente, a PL 435/2019 de autoria da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), que prevê à gestante a possibilidade de realização de cirurgia cesárea, sem fatores de risco que justifiquem a cirurgia, a partir da 39º semana de gestação, no Sistema de Saúde Público do estado do São Paulo, ignorando a realidade das mulheres pobres grávidas no país, está tramitando em caráter de urgência e deve ser votada em agosto pela Assembleia Legislativa de SP (Alesp).

Especialistas têm criticado o projeto e afirmam que a garantia à cesariana na hora do parto pode se tornar uma “cilada” pela vulnerabilidade do momento em que a mulher se encontra e por não garantir que esta mulher tenha passado pelo pré-natal.

Obstetras atentam para a importância do parto humanizado ou por cesárea ser discutido ao longo do pré-natal. A doula Érika Sato, que trabalha como voluntária na rede municipal de saúde de São Paulo, concorda que deva ser respeitado todo os direitos da mulher, mas ressaltou demandas anteriores que podem qualificar essa decisão da gestante.

“Na maternidade no meu bairro tem bebê nascendo com sífilis congênita. Como está sendo esse pré-natal? Eu peço que se aprofundem. Não passem algo [PL 435] tão importante, sem entender a complexidade e o tamanho das necessidades de nossas mulheres. As mulheres têm medo, não têm nem noção do que significa o parto por cesárea ou natural”, finalizou.

Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT com informações da Folha de S. Paulo

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