Tentativa do MEC de censurar a UNB é tema de debate na Câmara

O ato, comandado pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF), reuniu lideranças estudantis, representantes de universidades e parlamentares

Foto: Lula Marques

Ato na Câmara sobre a censura do MEC à UNB

Lideranças do meio acadêmico, estudantes e parlamentares afirmaram nesta quinta-feira (1º) que a recente ameaça do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), de interferir na autonomia da Universidade de Brasília (UnB) para censurar a ministração da disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia”, criada pelo professor de Ciência Política Luís Felipe Miguel, é uma atitude típica de um governo “antidemocrático e ilegítimo”.

As críticas foram feitas durante ato realizado na Câmara, comandado pela deputada Erika Kokay (PT-DF), em defesa da autonomia universitária e da liberdade de pensamento.

O jurista e professor de Direito Público da UnB, Marcelo Neves, explicou que “a tentativa de amordaçar a UnB obedece a mesma lógica de destruição das universidades públicas”. Segundo ele, “primeiro pelo estrangulamento financeiro, com o objetivo de inviabilizá-la, e depois censurando a crítica”.

“Esse é o pano de fundo da atuação do MEC contra o professor da UnB que criou a disciplina sobre o golpe de 2016, que apenas serviu como pretexto para interditar o pensamento crítico e a liberdade de cátedra”, disparou.

A tentativa de intimidação de Mendonça Filho, que ameaçou inclusive acionar órgãos de controle e o Ministério Público para cassar a disciplina sobre o golpe, também revoltou líderes estudantis da UnB. Para o coordenador do Diretório Central dos Estudantes, Samuel Ted, não faltam provas de que ocorreu um golpe no País em 2016.

“O atual momento histórico e político confirma que sofremos um golpe em 2016, que teve como projeto subordinar o Brasil aos interesses internacionais, desmantelar a educação e a nossa ciência e tecnologia, além do retirar direitos das minorias”, observou.

No mesmo sentido, a representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), Denise Soares, também destacou que a atitude do ministro pode ser considerada mais um golpe, desta vez, contra o conhecimento.

“Nós da UNE encaramos essa atitude do MEC como mais um golpe, agora praticado para impedir o conhecimento do outro lado do chamado impeachment. Eles não vão conseguir calar os professores que tem senso crítico, e que desejam contar o outro lado da história que é ignorado pela mídia”, ressaltou.

Ao lembrar da época em que foi expulsa da UnB (cursava Psicologia em 1976) porque combatia a ditadura militar, a deputada Erika Kokay observou que a ameaça de censura a disciplina do golpe obedece a mesma lógica ditadura militar de calar o pensamento crítico.

“O golpe cada vez assume uma roupagem diferente, seja a toga, a farda militar ou o terno, mas sempre com objetivo de controlar a sociedade. Agora, para se manter no poder e entregar direitos e mesmo o País, ameaçam as universidades porque são espaços de discussão de ideias que se contrapõe a essa hegemonia”, disse.

Representando a reitoria da UnB, o professor Sérgio Freitas agradeceu as manifestações de solidariedade a instituição e ao professor Luís Felipe Miguel. Ele destacou que todo o processo de criação da disciplina sobre o golpe obedeceu aos critérios da autonomia universitária.

“Todas as 3600 disciplinas ministradas na UnB seguem os mesmos ritos e normas para serem criadas. Todas têm o objetivo de oferecer aos estudantes o melhor ensino dentro do contexto da autonomia universitária, que garante a disseminação do saber e das ideias com o objetivo de formarmos um País melhor”, ressaltou.

Também discursaram no ato contra a atitude do MEC a senadora Fátima Bezerra (PT-RN); a presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Lia Zanoto; e a dirigente nacional da CUT, Graça Costa.

Por PT na Câmara

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