Testes para Covid-19 continuam encalhados em depósito do governo

Falta de reagentes e incompatibilidade com parte da rede de laboratórios da Fiocruz podem fazer com que exames cujo prazo de validade foi estendido pela Anvisa virem lixo. Inépcia do Ministério da Saúde se mostra também na demora para definir prazos para a vacinação e no fracasso do pregão para compra de seringas e agulhas

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Governo incompetente em todas as frentes

Entra ano, sai ano, e a inépcia do desgoverno Bolsonaro no trato com a pandemia do coronavírus continua a mesma. Mesmo com o recuo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em novembro não pretendia estender o prazo de validade dos testes RT-PCR para detectar a Covid-19 que se deterioram no galpão do Ministério da Saúde no Aeroporto de Guarulhos (SP), os exames ainda podem ir parar no lixo.

Como solicitado pela pasta do general da reserva Eduardo Pazuello, no início de dezembro de 2020 a Anvisa ampliou o prazo dos testes por quatro meses, mas 6,5 milhões deles ainda não foram distribuídos para a rede pública e seguem encalhados. Segundo reportagem do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ desta segunda (4), além desses 6,5 milhões, mais três milhões de unidades estão em posse dos estados, mas fazem parte de kits incompletos e, portanto, são inúteis para a testagem da população.

Um dos obstáculos para utilização dos testes é a escassez do reagente de extração do RNA das amostras, cujo estoque atual do governo permite apenas 390 mil análises. O Ministério da Saúde afirmou que ainda pretende comprar mais de seis milhões de reagentes desse tipo. Outra barreira para o uso do estoque é que o modelo dos testes encalhados não é compatível com parte da rede de laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Adquiridos com fundos da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), os testes TR-PCR tiveram custo de R$ 275 milhões (R$ 42 por unidade). Eles são comercializados na rede privada por R$ 290 a R$ 400. O exame é um dos mais eficazes para diagnosticar a Covid-19, pois detecta o vírus ativo no organismo. Em nota, o ministério garante que ainda pretende distribuir e utilizar todos os testes antes do vencimento.

A inépcia persiste também na indefinição quanto à campanha nacional de vacinação. Nesta segunda, uma nota do Ministério da Saúde admitiu que, no melhor cenário, a vacinação começaria em 20 de janeiro. Na hipótese mais tardia, só em 10 de fevereiro.

Inépcia em todas as frentes

Na semana passada, o Ministério da Saúde fracassou na primeira tentativa de comprar seringas e agulhas para a campanha. Das 331 milhões de unidades que a pasta tem a intenção de comprar, só conseguiu oferta para adquirir 7,9 milhões (2,4% do total) no pregão eletrônico realizado em 29 de dezembro.

Em retaliação, Pazuello encaminhou no sábado (2) um pedido para o Ministério da Economia restringir a exportação de insumos necessários para a vacinação, como agulhas e seringas. A justificativa para a solicitação envolve a previsão de que o sistema de saúde necessitará de um acréscimo de 100% na demanda pelos insumos, com a inserção da vacina contra a doença no Plano Nacional de Imunização, o PNI.

O pedido seria feito novamente pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) nesta segunda. Porém, a pasta do ministro-banqueiro Paulo Guedes, atualmente em férias, se antecipou e adotou medida semelhante à do início da pandemia em relação à exportação de respiradores.

No fim da noite de sábado, a Anvisa publicou nota afirmando a aprovação do pedido de importação excepcional de dois milhões de vacinas pela Fiocruz, responsável por produzir a imunização desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford no Brasil. O total não é suficiente sequer para imunizar uma parcela das pessoas do grupo de risco: os idosos com mais de 75 anos, que no Brasil são sete milhões. Como são aplicadas duas doses, apenas um milhão receberiam a vacina.

Enquanto isso, ao menos 36 países já começaram a imunizar suas populações contra a Covid-19, segundo a ‘Our World in Data’, organização ligada à Universidade de Oxford que analisa os números da doença em todo o mundo. Na América Latina, Argentina, Chile, Costa Rica e México estão vacinando em caráter emergencial.

Pandemia promete ser pior em 2021

No Twitter, o microbiologista Átila Iamarino, que se tornou uma das principais vozes da ciência sobre a pandemia no Brasil, antecipou o que nos espera. “Por qualquer medida epidemiológica, 2021 promete ser pior que 2020. Ainda mais sem vacinas. Um bom 2021 vai depender diretamente do nosso esforço para mudar essa realidade”, escreveu.

“A gente sabia, há pelo menos cinco meses, que não existia estoque de seringas e agulhas. Além disso, ainda não sabemos como se dará o plano de vacinação. Será nacional, como em todos os países que já começaram, ou os governadores que tomarão conta disso? Estimamos que cada semana de atraso da vacinação são mais 10 mil mortos no Brasil”, ressaltou o professor Tarcísio Marciano da Rocha Filho, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).

A falta de comando do governo central já causa uma corrida autônoma pelas vacinas no país. Nesta segunda, representantes da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) viajaram à Índia para negociar a aquisição de cinco milhões de doses de uma vacina produzida no país asiático. A expectativa do setor, em um cenário otimista, é de que as doses estejam disponíveis no mercado nacional já em março de 2021 – apenas para quem tiver dinheiro para pagar pela imunização.

No Brasil, somente nos primeiros três dias do ano, foram contabilizados 57.773 novos casos e 1.069 mortes, que se somam às 7.716.405 pessoas contaminadas e 195.725 vítimas fatais da doença. As aglomerações vistas país afora nos feriados de Natal e Ano-Novo – inclusive com a participação do presidente Jair Bolsonaro – influenciarão fortemente no comportamento da pandemia nas primeiras semanas de 2021, que parece mais uma continuação mal-feita de 2020.

Em meio à pandemia de coronavírus, brasileiros contam que vêm sendo vítimas de hostilidades no exterior. Segundo relatos de viajantes na Índia e em alguns países da África, estrangeiros têm sido expulsos de hotéis, sofrido constrangimento por parte de autoridades e ouvido frases como “Corona, corona! Volte para o seu país”.

Da Redação

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