Todo apoio à greve dos superexplorados entregadores de aplicativos

O País irá acompanhar nessa quarta-feira, 1º de julho, uma mobilização realizada por esse segmento dos trabalhadores – produto mais simbólico das reformas neoliberais no Brasil – a maioria deles recrutados nas periferias das grandes cidades

Gustavo Bezerra

Deputado Federal Paulo Pimenta (PT-RS)

Na vertiginosa corrida pela sobrevivência, eles foram colhidos no cruzamento de duas vias de alta periculosidade, abertas no Brasil contemporâneo: o neoliberalismo de Guedes/Bolsonaro e a pandemia de covid-19.

Hoje, os entregadores de aplicativos são a categoria que espelha melhor, no seu quotidiano, as condições de superexploração a que foi submetida a classe trabalhadora brasileira, sob o neoliberalismo fascista.

Eles se encaixam no setor de serviços, o segmento da economia que responde por algo próximo a 70% do PIB.

O agronegócio chega a 21% e a indústria declinante se reduz a menos de 10%.

Os aplicativos de entrega são, hoje, a principal fonte de renda, não raro a única, para quase 4 milhões de brasileiros.

Miragem

Na batalha pelo ganha-pão, esses jovens trabalhadores, muitos deles embalados pela miragem do “eu sou meu próprio patrão”, cumprem uma jornada nunca inferior a 12 horas de trabalho, sob o chicote dos smartphones, sem nenhum vínculo empregatício, seguro-saúde, descanso semanal.

São remunerados miseravelmente pelos serviços prestados a um empregador invisível.

Os contratantes atendem pelos nomes Uber Eats, iFood, Rappi… entre outros.

Esses três representam 17% dos 23,8 milhões de trabalhadores da categoria (IBGE).

No meio da pandemia, nenhum deles oferece vale alimentação, álcool em gel ou qualquer tipo de equipamento de proteção.

Sem direitos

Graças à reforma trabalhista aprovada pelo governo golpista de Michel Temer, em 2017, foram abolidos os direitos dos trabalhadores, submetendo-os às atuais condições de precariedade e exploração.

Dados de domínio público revelam que o avanço da covid-19 neste primeiro semestre de 2020 levou, só em São Paulo, a 280 mil novos cadastros de trabalhadores nessas plataformas.

Com a pandemia, a demanda cresceu em torno de 200%. Os apps foram instalados em 22 milhões de celulares (RankMyAPP). A remuneração, no entanto, não se alterou.

Greve

O País irá acompanhar nessa quarta-feira, 1º de julho, uma mobilização realizada por esse segmento dos trabalhadores – produto mais simbólico das reformas neoliberais no Brasil – a maioria deles recrutados nas periferias das grandes cidades.

Assistimos, talvez, ao nascimento de uma nova consciência em uma classe trabalhadora jovem, pulverizada, mantida na ignorância sobre os meios e métodos contemporâneos de exploração do seu trabalho.

Filha da transição entre a sociedade das grandes plantas industriais e a consolidação da economia de serviços.

Devolvida ao estágio mais primitivo de luta individual pela sobrevivência.

Despida de meios eficazes de defesa contra o mecanismo impessoal de extorsão que lhe cria todos os obstáculos para impedir qualquer ação coletiva e limita seu horizonte ao almoço de amanhã.

O que assistimos é a manifestação do conflito entre um numeroso segmento da classe trabalhadora que adquire a consciência de que é diariamente submetida a uma exploração tão violenta quanto cínica. E descobre a ação coletiva como meio de interrompê-la: a greve.

Hipocrisia

O objetivo é pressionar o Legislativo para aprovar uma lei que obrigue os aplicativos a pagar pelo menos um vale-alimentação e álcool em gel para que possam se proteger da pandemia.

E, assim, começar a desnudar na prática o discurso hipócrita do empreendedorismo.

Os apps no Brasil reproduzem, utilizando-se das tecnologias do século XXI, as mesmas relações de exploração da mão-de-obra que viemos reciclando ao longo da história desde os tempos da escravidão.

Todo apoio à greve dos entregadores de aplicativos!

Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal (PT-RS)

Originalmente publicado no Congresso em Foco.

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