Trabalhador da construção civil será dos mais prejudicados com reforma

“Muitos vão morrer trabalhando”, diz o presidente da Federação Solidária da Construção da Madeira do Estado de São Paulo (FSCM), da CUT, Josimar Bernardes

Elza Fiuza/Agência Brasil

Os trabalhadores e trabalhadoras da construção civil estão entre as categorias que serão mais prejudicadas se o Congresso Nacional aprovar a obrigatoriedade de idade mínima de 65 anos para que homens e mulheres possam se aposentar, como quer o governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Muitos vão morrer trabalhando”, diz o presidente da Federação Solidária da Construção da Madeira do Estado de São Paulo (FSCM), da CUT, Josimar Bernardes.

Segundo ele, os operários têm uma série de problemas de saúde decorrentes da profissão, se aposentam aos 40/50 por acidentes de trabalho ou outras doenças adquiridas em função das tarefas que executam e enfrentam longos períodos de desemprego.

“A maioria não consegue trabalhar até os 65 anos de idade. Muitos se aposentam por problemas que não são identificados como acidentes de trabalho, mas são problemas correlatos. A ergonomia na profissão é péssima. São problemas sérios de dores nas costas, hérnias de discos”.

“É praticamente impossível um trabalhador do setor se aposentar aos 65 anos”, ratifica o presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira filiados à CUT (Conticon), Claudio da Silva Gomes, o Claudinho.

“É muito difícil um trabalhador da construção civil se aposentar por tempo de contribuição. Depois dos 40, no máximo 50 anos, ele vai fazer ‘bicos’ até chegar a idade de aposentadoria, já que não consegue emprego”.

Josimar lembra, ainda, para um dos maiores problemas da categoria, que é a alta rotatividade no emprego. Enquanto procura emprego, diz o dirigente, o trabalhador não contribui com o INSS. Com a idade mínima para se aposentar, diz ele, o pessoal da construção civil vai morrer trabalhando, como a CUT vem denunciando desde a tentativa do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) de aprovar a reforma da Previdência.

“A idade mínima vai ser um desastre para nós”.

Governo que, também, reduzir valor do benefício por invalidez

Mas, a equipe econômica do governo de extrema direita quer ser mais perversa ainda com a classe trabalhadora: o ministro da Economia, Paulo Guedes, estuda diminuir o benefício por invalidez em até 70% do valor do salário e acrescentar um percentual por tempo de contribuição. O benefício pode aumentar 1% ao ano, por exemplo. Mas, o percentual ainda não foi definido.

Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social, de 2017, dos 19,7 milhões de benefícios pagos naquele ano, 3,2 milhões (16,5%) foram para aposentados por invalidez – por causa da atividade laboral ou não. Eles receberam em torno de R$ 1.366,00 por mês.

Dos benefícios pagos em 2017, de 207.660 foram para trabalhadores e trabalhadoras que se aposentaram por invalidez em função de acidentes de trabalho. Eles recebem benefício mensal médio de R$ 1.724,00.

São eles que o governo Bolsonaro quer atacar reduzindo o valor dos benefícios.

A ideia cruel de Paulo Guedes é rechaçada por Josimar, que ressalta o baixo valor dos benefícios recebidos.
Ao contrário do retrocesso que o Brasil tem vivido, lembra o dirigente, na Argentina os trabalhadores da construção civil obtiveram uma grande vitória ao terem reduzida a idade mínima para a aposentadoria.

“A categoria provou que seus trabalhadores vivem menos e, portanto, têm o direito de se aposentar mais cedo que os demais”, diz Josimar Bernardes.

A mesma sorte que os argentinos não teve João Félix de Araújo, de 68 anos, que faltando dois anos para chegar à idade mínima foi obrigado a se aposentar por invalidez devido a uma hérnia de disco, bico de papagaio e fortes dores na coluna.

“Eu bem que tentei, mas comecei a trabalhar aos sete anos de idade, lá no Ceará, já na construção. Quando vim pra São Paulo, aos 20, a única coisa que sabia era trabalhar na construção. Carreguei todos esses anos, todos os dias de sol a sol, vigas de concreto de 30 a 80 quilos”, conta João Félix.

Segundo ele, as dores na coluna começaram quando era ainda bem jovem, mas eram mascaradas com remédios para não perder o emprego e sustentar a mulher e seus seis filhos.

“Mesmo assim consegui trabalhar até os 63 anos, e o INSS nem queria me aposentar. O médico me dava alta e eu voltava com dores. Foram seis meses de sofrimento até ele se convencer que eu não aguentava mais”.

Hoje, ‘seo’ João, diz que sua sorte são os filhos que não deixam faltar nada em casa.

“Depois de trabalhar mais de 50 anos a gente se aposenta com R$ 1.600,00 e ainda tem de esperar uns dois meses para começar a receber. Se não fossem meus filhos que não deixaram faltar comida em casa, não sei o que seria de mim”.

Para ele, a possibilidade de todos terem a obrigação de se aposentar somente aos 65 anos é a prova de que o atual governo não se preocupa com a classe trabalhadora.

“Ninguém vê o lado do pobre, palavra de pobre não voga”.

Por CUT.org.br

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