Um avô não deveria enterrar o seu neto

Em São Bernardo do Campo, Lula dá adeus ao seu neto Arthur neste sábado (2)

Ricardo Stuckert

Este é o texto que repórter nenhum gostaria de escrever, que ninguém deveria ter que publicar. Mas aqui estamos neste sábado (2) de Carnaval para homenagear o pequeno Arthur Araújo Lula da Silva, vítima de uma meningite meningocócica.

Muitos se encontram no Cemitério Jardim das Colinas, em São Bernardo do Campo, por uma imagem do ex-presidente, mas nós aqui estamos para respeitar o seu espaço, sua privacidade de velar e enterrar o seu neto. Por isso este texto não terá entrevistas.

Nesta sexta-feira (1°) ele disse à Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, que “deveria ser proibido um pai enterrar o filho, um avô enterrar o neto”, mas numa dessas peças que só o destino é capaz de pregar, Lula saiu da prisão — depois de 329 dias — pela primeira nesta ocasião.

Neste momento, a ação mais digna é o respeito à família, ao Sandro e à Marlene. Neste momento o silêncio é mais ruidoso do que o berro. E sem dar uma palavra Lula chegou um pouco depois das 11h. Sob o olhar vigilante da militância e alguns gritos de apoio, o ex-presidente saiu do carro firme.

A fortaleza de Lula foi vencida na porta do velório. As lágrimas do ex-presidente se uniram às dos amigos e familiares. Ele bateu um último papo com o neto, um adeus. O último carinho.

Lula é acompanhado de policiais federais armados com fuzil, numa desproporção absurda da realidade e do senso de insegurança. Do lado de fora duas dezenas de viaturas da Força Tática da Polícia Militar davam importância de guerra ao velório de uma criança. O momento pede sensibilidade, mas às vezes ela, assim como a Justiça, não vem.

“Deveria ser proibido um avô enterrar um neto”. Deveria ser proibido termos de lidar com situações como esta. Mas nada disso aconteceu neste sábado.

A imprensa, em parte preocupada com um possível discurso do ex-presidente, pode ter deixado de lado o motivo de estarmos aqui: o luto. Mais importante do que quem estava diante do caixão ou se Lula chorou é o respeito em um momento como este.

Sim, Lula chorou. Chorou muito. Mas qual o tamanho da dor de um avô diante do caixão do neto? Qual a dor de ver seu filho sofrer a perde de um filho? Empatia é um sentimento de nobreza e neste momento estamos diante do sofrimento, da tristeza.

Este é o texto que ninguém gostaria de escrever. Esta é a viagem que Lula não queria fazer, este é o momento do silêncio e da empatia.

Peu Araújo, da Agência PT de Notícias

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