União e resistência são caminho para barrar o golpe, diz Haddad

Em debate com ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, prefeito de São Paulo falou dos riscos de perder conquistas sociais com o golpe

Haddad e o deputado Vicente Cândido (PT-SP) (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

Para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), o Brasil vive um pesadelo e uma mudança para pior com o golpe que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff. Trata-se de um grave momento em que os direitos e as conquistas sociais dos últimos 13 anos no país estão em risco.

“Já perdemos, podemos perder mais e ainda nem temos ideia do que ainda podemos perder”, alertou, no debate “Educação e Transdisciplinaridade”, na noite de sexta-feira (22).

Na avaliação do prefeito, já não há dúvidas de que “o país está vivendo uma encruzilhada”, em que setores conservadores querem frear avanços de uma década, fazendo campanha para deslegitimar o mandato de Dilma. Querem “acabar com o Estado”, analisa Haddad, prejudicando mais os mais pobres.

Após o afastamento da presidenta, Haddad ressaltou que ocorre uma perda diária de direitos que não remontam sequer aos anos anteriores ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas à criação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho, 1943) ou até mesmo anterior à Lei Áurea (1888).

O maior exemplo é a proposta, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), de aumentar a jornada de trabalho para 80 horas semanais. “É uma mesquinharia o que está acontecendo no Brasil. Não tem outro nome”.

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Deputado Vicente Cândido e Haddad (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

Haddad acredita que muitos dos que estão em campanha contra a presidenta e contra o Partido dos Trabalhadores não aceitam as mudanças estruturais que aconteceram no país desde 2003.

“A verdade é que isto começou a incomodar muito. Se fizermos um paralelo ao que aconteceu em outras áreas, inclusive com mercado de trabalho, bens de consumo (…) estamos vivendo em uma situação em que a classe média viu sua posição relativa ameaçada. Ela viu um povo chegar perto, no aeroporto, na universidade, no crédito, no carro”.

Para piorar, ele citou que alguns políticos estão perdendo o “pudor” ao fazer determinadas propostas. Ele se referia a um pré-candidato à prefeitura de São Paulo que manifestou, recentemente, um desejo de privatizar corredores de ônibus e ciclovias públicas da cidade, construídas durante seu mandato.

“A hora da verdade é o pão na mesa, é o filho na escola e a mãe sendo atendida na UBS. Não tem Datafolha que sustente uma enganação, falando que está tudo bem”, afirmou.

O prefeito falou ainda do aumento da violência na periferia, praticada pelas forças de segurança. “É mulher apanhando, negro apanhando, LGBT apanhando. (…) As pessoas estão com medo, estão atônitas”.

Como nos velhos tempos

Em um contexto em que a política partidária está sendo depreciada, Haddad disse que, em 2016, será bom fazer campanha como “nos velhos tempos”, com “300 pessoas em vez de 3”, referindo-se às mudanças que proibem financiamento de campanha por pessoa jurídica.

“Termino conclamando para a gente ficar junto. Nunca houve um momento em que precisamos ficar tão unidos. Estamos literalmente ameaçados”, concluiu.

Após a abertura do evento, feita pelo deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro fez sua intervenção.

Ele afirmou que “São Paulo é uma cidade cuja qualidade de vida depende muito do que vamos fazer nos próximos 4, 8, nos próximos anos”. “Uma cidade construída e por construir. E isto desde termos uma natureza melhor, uma área verde, mobilidade, saúde, emprego. Tudo depende muito do que é feito na política, principalmente municipal”.

Para ele, não há dúvidas quanto à qualidade da gestão Haddad, pré-candidato, diante dos demais.

Renato Janine Ribeiro (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

Renato Janine Ribeiro (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

O professor fez algumas considerações sobre mudanças estruturais que aconteceram no Brasil desde 2003, quando Lula chegou à Presidência. Para ele, é significativo que Lula tenha assumido um país com 6% de miseráveis, sendo que 12% era na faixa etária de 14, 15 anos.

“É uma obscenidade 12% de miseráveis. É um horror, e ele conseguiu reduzir pela metade. Em vez de 6%, 3%, em vez de 12%, 6% – um grande avanço. E Dilma conseguiu reduzir para 1%, 1,5%. Mostra a salvação de muita gente”, disse.

No período de dez anos, a queda da extrema pobreza no país foi mais acentuada entre crianças de até 5 anos de idade. Na primeira infância, o percentual caiu de mais de 14% para cerca de 5% da população nesta faixa etária, definida como prioridade nas ações do plano Brasil Sem Miséria.

Outro aspecto marcante é a geração de emprego e renda, por meio da valorização real e substancial do salário mínimo. “São pessoas que, sem demagogia, são o futuro do país”.

Neste contexto, aumentou o acesso da população a bens que antes estavam inacessíveis. Cresceu o consumo de comida, roupa e linha branca – “até linha branca faz parte dos direitos humanos, ressaltou Janine Ribeiro”. “O que vai dar futuro a tudo isto é a educação”.

Na educação, aspectos cruciais são a alfabetização na idade certa e o ensino técnico (Pronatec), avalia.

Escola sem Partido

No debate, Janine Ribeiro citou o movimento Escola sem Partido, que propõe proibir a discussão de política nas escolas.

“Escola sem Partido me incomoda sobretudo porque até discutir isto é perda de tempo”, afirmou o ex-ministro. Há questões prioritárias, como a alfabetização na idade certa, citou como exemplo.

Compuseram a mesa Gabriel Chalita, Marianna Dias (UNE), Ferrez, Janine,  deputado Vicente Cândido (PT), Haddad, professora Maria Cláudia Fernandes e Nádia Campeão (secretária da Educação de SP) (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

Compuseram a mesa Gabriel Chalita, Marianna Dias (UNE), Ferrez, Janine, deputado Vicente Cândido (PT), Haddad, professora Maria Cláudia Fernandes e Nádia Campeão (secretária da Educação de SP) (Foto: Paulo Pinto/AGPT)

Tramitam projetos de lei ‘Escola sem Partido’ em legislativos estaduais e municipais, além daquele que está na Câmara dos Deputados. O argumento é acabar com o “abuso na liberdade de ensinar”.

A iniciativa é criticada por alguns partidos políticos, por professores e pedagogos, e já recebeu o apelido de “lei da mordaça”.

“Com todo respeito à família, que é insubstituível, é claro que nem tudo o que a família ensina a pessoa vai repetir e reiterar”.

Tanto a família quanto os docentes devem trabalhar, disse Janine Ribeiro, para que os alunos pensem de maneira independente. “A escola tem que expor a pessoa à diversidade do mundo. Não tem que ter medo”.

Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias

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