Vírus da dengue pode gerar proteção contra Covid-19, sugere estudo
Estudo conduzido pelo neurocientista Miguel Nicolelis, divulgado com exclusividade pela agência de notícias ‘Reuters’, aponta uma correlação entre dengue e coronavírus que pode levar a uma possível imunização contra ação da Covid-19. “Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para SARS-CoV-2, antes de uma vacina para SARS-CoV-2 se tornar disponível”, observa o estudo.
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Um estudo conduzido pelo neurocientista Miguel Nicolelis, divulgado com exclusividade pela agência de notícias ‘Reuters’, sugere que uma correlação entre dengue e coronavírus pode levar a uma possível imunização contra a ação da Covid-19. O estudo liderado por Nicolelis, que é coordenador do Comitê Científico Consórcio do Nordeste, constatou que regiões com maior incidência de infecções por dengue na população apresentaram, inversamente, menos casos e mortes por coronavírus em um mesmo período. Os resultados indicam uma possível “interação imunológica” entre os dois vírus.
“Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para SARS-CoV-2, antes de uma vacina para SARS-CoV-2 se tornar disponível”, aponta o estudo.
De acordo com Nicolelis, há evidências de que pessoas que já tiveram dengue e que também testaram positivo para Covid-19 não desenvolveram a doença, o que sugere a produção de anticorpo eficaz para os dois vírus. “Isso indica que existe uma interação imunológica entre os dois vírus que ninguém poderia esperar, porque os dois vírus são de famílias completamente diferentes”, afirmou Nicolelis, em entrevista à ‘Reuters’.
Os pesquisadores perceberam a correlação ao estudar a propagação do coronavírus no país, sobretudo pelas rodovias brasileiras. Os casos de dengue no Brasil em 2019 e 2020 ocupavam as áreas com menor incidência de Covid-19. “Fui olhar no Ministério da Saúde se tinha alguma explicação para essas coisas estranhas, se tinham outros indicadores de doenças que eu não estava percebendo, e de repente encontro o mapa de dengue de 2020 do Brasil”, espantou-se Nicolelis.
“Eu peguei o mapa de casos de coronavírus e coloquei lado a lado com o mapa de dengue, e encontrei o que a gente chama de distribuição complementar: regiões com pouco coronavírus estão cheias de dengue”, explicou o cientista. Ele ressalta, no entanto, que a pesquisa é um estudo epidemiológico e testes sorológicos ainda não foram realizados.
Queda de casos de dengue x coronavírus
A queda incomum de casos de dengue, em março, também chamou a atenção dos pesquisadores. Isso porque o ano havia começado com alta incidência da doença. “Os nossos resultados epidemiológicos sugerem a hipótese, que ainda precisa ser testada amplamente, que o SARS-CoV-2 compete com o vírus da dengue pelas mesmas pessoas, pelo mesmo pool de suscetíveis”, explicou o pesquisador. “Como o SARS-CoV-2 é transmitido homem-homem, ele teria uma grande vantagem para ganhar esta competição, em relação à dengue, que depende de um mosquito”, observou Nicolelis.
A equipe também acompanhou a disseminação das duas doenças em 15 países da América Latina e constatou o mesmo fenômeno de correspondência entre os vírus. “Quanto mais casos de dengue um país teve durante a epidemia mundial de dengue em 2019 e nos primeiros meses de 2020, menos casos de Covid-19 o país registrou até julho de 2020”, aponta o estudo. “Basicamente, isso foi muito similar aos resultados obtidos usando dados para os Estados brasileiros”.
Após a conclusão do estudo, Miguel Nicolelis destaca que é preciso avançar nos estudos e testes. “Evidentemente que este é um estudo preliminar do ponto de vista do que fazer, mas ele abre uma porta que pode ser rapidamente explorada, e se ela for verdadeira, você pode ter um grau de proteção para coronavírus se você teve dengue ou se você é imunizado para dengue”, afirmou Nicolelis.
“Eu não sei dizer qual é a porcentagem, mas ela é suficiente para aparecer nesses gráficos. Alguma coisa existe”, afirmou.
Da Redação, com ‘Reuters’