Tarcísio Zimmermann e Valdeci Oliveira: Coragem e unidade para mudar o PT

Queremos um partido enraizado e em diálogo com os movimentos sociais e as lutas populares, que empodere a militância e as instâncias de base

Duda Pinto/Fotos Públicas
Tribuna de Debates do PT

Militantes do PT realizam ato em apoio ao ex-presidente Lula, na esquina democrática, no centro de Porto Alegre

A derrota estratégica do PT e da esquerda com o golpe contra a democracia, somada ao resultado das eleições municipais, e a tentativa da direita de destruir o partido e a liderança popular de Lula, obrigam-nos a realizar com toda a urgência um balanço político profundo com a militância e a base social petista, que busque reconstruir a unidade a partir do diálogo e do debate democrático, e que seja capaz de encontrar as sínteses necessárias para a superação da grave crise em que nos encontramos.

Vivemos tempos em que as energias fundantes do projeto político do PT encontram-se esgotadas. O partido, tanto quanto o movimento sindical, fundamentais para o processo de construção do poder político da classe trabalhadora, sofreram grave processo de burocratização e da negligência à formação política e ao diálogo com as bases, e já não são mais reconhecidos como espaços de formulação e organização para amplas parcelas da militância social.

Vivemos tempos em que nossas incoerências programáticas, a acomodação às práticas políticas tradicionais, o personalismo, a falta de solidariedade para a construção coletiva, o abandono de valores éticos e dos princípios republicanos, fundantes de um projeto transformador, comprometido com a democracia real, com a superação das injustiças e das desigualdades sociais e com a soberania e o protagonismo popular fragilizam-nos sobremaneira para enfrentarmos a dura luta política contra a reação conservadora em curso no país e no mundo.

É verdade que novas energias surgem, nas periferias e na luta das mulheres e da juventude contra o golpe e pela democratização da sociedade. São atores sociais que buscam uma nova cultura política e novos caminhos. Mas o PT, os sindicatos e as organizações populares são essenciais para a urgência da resistência ao desmonte das liberdades democráticas e dos direitos, assim como para a retomada do protagonismo político e para a reconstrução da hegemonia do projeto popular.

A convocação do VI Congresso do PT para março e abril de 2017, garante um calendário partidário que poderá evitar a dispersão e engajar a militância petista no esforço de reconstrução da principal ferramenta política da classe trabalhadora. Porém, é de lamentar o regramento aprovado pelo Diretório Nacional para o processo congressual: eleição das direções municipais e de delegações para os congressos estaduais através de voto em urna, sem participação nos debates e sem a representação direta de delegad@s de base dos municípios. São regras que reproduzem velhas formas e podem resultar no afastamento da base partidária do processo de formulação política e no reforço do controle burocrático das delegações pelas tendências. Assim, corremos o risco de realizar um Congresso incapaz de produzir a síntese política necessária à unidade para a dura luta que temos pela frente.

Como sabemos, a nossa derrota eleitoral não favoreceu outras forças de esquerda. A direita e a abstenção política cresceram. Sem a reconstrução socialista do PT será mais difícil a criação de uma ampla frente de esquerda e a articulação do campo progressista, necessários, tanto para a disputa de projeto na sociedade, quanto para a defesa dos direitos das maiorias nacionais.

Sem a reconstrução do maior partido popular do país, e um dos maiores do mundo, será muito mais difícil relançar um novo ciclo político da esquerda brasileira. Para enfrentarmos a conjuntura adversa pós-golpe, de ofensiva neoliberal em todas as frentes, e de crise do sistema político do país, precisamos construir um “novo arranjo político” que congregue a diversidade da esquerda partidária e social, correntes e movimentos populares, a militância do campo e da cidade, a luta da juventude e das mulheres, de negros e negras, de todas as cores e gêneros, de todas as culturas políticas democráticas. Junt@s e reorganizad@s, seremos mais fortes e unidos em nossa rica diversidade, para as batalhas nas trincheiras do povo explorado e oprimido na resistência e na construção de um novo ciclo de vitórias populares.

Para nós, o Congresso extraordinário deve criar as condições e lançar bases para o balanço e avaliação crítica da nossa experiência histórica, capaz de nos orientar para o desafio de atualização programática e da formulação de uma estratégia política transformadora. Mas, acima de tudo, o Congresso deve ter como meta construir um pacto entre todas as forças políticas para a renovação dos métodos de construção partidária.

Como evitar a burocratização, como assegurar o protagonismo da base partidária, como assegurar instrumentos para um permanente diálogo do partido com os setores progressistas da sociedade e com o conjunto das forças políticas de esquerda? Como retomar o diálogo com as lutas das juventudes, como ampliar nossas relações com os movimentos sociais e com as lutas populares? Como garantir a participação de setores independentes das correntes partidárias nos processos internos e nas direções? O PT deve buscar a sua autorreforma e, verdadeiramente, reformular-se como projeto popular e socialista, resgatando as suas origens combativas e militantes, de partido que se construiu nas lutas e pela base, de “baixo para cima”. E, nesse processo, a superação da crise histórica do petismo não se dará meramente pela necessária troca das direções para um novo “campo majoritário” do partido.

Queremos um partido enraizado e em diálogo com os movimentos sociais e as lutas populares, que empodere a militância e as instâncias de base através de uma dinâmica interna horizontal, politizada, participativa e radicalmente democrática, transparente inclusive em relação às finanças partidárias, sem aparelhismos e sem decisões restritas às cúpulas. Tal processo exige superar a atual dinâmica das tendências internas, que já foram exemplos da riqueza democrática e da politização do partido, mas que, hoje, sofrem, todas elas, dos mesmos problemas que fragilizaram o PT e nos levaram a profundas derrotas.

Temos a convicção de que, se queremos que o VI Congresso lance as bases e mobilize efetivamente a militância petista para as profundas mudanças e definições que nosso partido precisa, necessitamos também superar a lógica que, até o presente, produziu maiorias e minorias numéricas, mas sem capacidade de garantir direções e unidade de base para as tarefas da luta política.

A unidade alcançada pelo Diretório Estadual e pelas bancadas Federal e Estadual do PT-RS na defesa da proposta de realização imediata do Congresso, demonstram que a unidade para a mudança é possível. E nesta linha, conclamamos o conjunto do partido e de suas forças para um debate aberto, sem bloqueios e sem condicionamentos prévios. Um debate que será duro e difícil, pois graves e difíceis são nossos desafios. Um debate que tenha o horizonte generoso da construção de uma unidade substantiva de toda a militância petista verdadeiramente comprometida com um projeto socialista e emancipador.

Com coragem e unidade mudaremos o PT!

Tarcísio Zimmermann e Valdeci Oliveira, deputados estaduais pelo PT-RS, para a Tribuna de Debates do IV Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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