600 doentes em Manaus podem “morrer na rua”, diz assessor de Pazuello
Em reunião da comissão externa que trata da pandemia do coronavírus na Câmara, o general da reserva Ridauto Fernandes comentou a falta de oxigênio na capital amazonense. “Abre o leito, bota o paciente e ele vai morrer asfixiado no leito. E aí, vai adiantar abrir o leito?”, questionou Fernandes. Mutação do vírus já circula pelo país e preocupa especialistas. País registra terceiro maior dia de óbitos desde o início do surto, com 1.439 mortes
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Longe de ter ao menos um cronograma da campanha de vacinação nacional, o país assiste a um agravamento da crise sanitária, cujos efeitos da nova variante da Covid-19 permanecem imprevisíveis. Em Manaus, a falta de oxigênio continua a ameaçar a vida de pacientes que esperam por uma vaga em um leito de UTI. O general da reserva Ridauto Fernandes, nomeado assessor do ministro da Saúde, confessou que 600 pacientes podem “morrer na rua” por falta de oxigênio, segundo o Painel da ‘Folha’. Enquanto isso, o vírus avança em um silencioso rastro de destruição: segundo o consórcio de imprensa, na quinta-feira (28), o Brasil registrou terceiro maior dia de óbitos desde o início do surto, com 1.439 mortes. Agora, já são 221,6 mil mortos e mais de 9 milhões de infectados.
A declaração de Fernandes ocorreu durante reunião da comissão externa que trata da pandemia na Câmara, na quinta-feira. O assessor observou que resolver o problema da falta de oxigênio na capital amazonense é o maior desafio da rede de saúde. “Abre o leito, bota o paciente e ele vai morrer asfixiado no leito. E aí, vai adiantar abrir o leito?”, perguntou o assessor do ministro Eduardo Pazuello.
Fernandes confirmou ainda que o governo de fato sabia da gravidade do quadro sanitário no Amazonas no fim de dezembro. Ele justificou a demora na reação da pasta dizendo que o governo decidiu esperar a troca de mandatos de prefeito. “Ficaria muito ruim irmos para Manaus naquele dia e encontrar uma administração municipal que dois dias depois estaria toda sendo substituída”, observou, apontando um “prejuízo” das atividades.
Desde o colapso completo da rede hospitalar no Amazonas, cerca de 350 pacientes foram transferidos para outros estados. A remoção, contudo, pode transformar-se em outro pesadelo, temido por especialistas de saúde. Segundo o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo, é quase certo afirmar que os pacientes transferidos foram contaminados pela nova cepa do vírus.
Variante mais perigosa em circulação pelo país
Segundo o ‘Painel’, o relato do secretário indica que a mutação afeta crianças e grávidas com mais força, agravando o quadro de saúde de forma silenciosa. De acordo com Campêlo, a frequência da nova linhagem do vírus no Amazonas foi registrada em mais de 90% dos casos.
Outra preocupação é que estudos indicam que a nova variante pode vencer anticorpos de pessoas já infectadas pelo vírus, uma espécie de “drible” no sistema imunológico. “Nosso estudo abriu várias outras perguntas, porque o segundo caso foi um pouco mais severo do que o primeiro”, relatou a virologista Marta Giovanetti à BBC News.
Segundo a pesquisadora, que tem o maior número de publicações sobre a Covid-19 no país, novas pesquisas devem ser feitas para que sejam avaliados os efeitos das variantes inclusive nas vacinas. Daí a necessidade de se manter as medidas de proteção, como o isolamento social e o uso de máscaras, aliados a uma ampliação das imunizações por todo o país. Assim, será possível diminuir a possibilidade de circulação destas e de possíveis futuras linhagens, aponta Giovanetti.
De acordo com o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz-AM, em depoimento ao ‘Globo’, a variante do vírus já se espalhou e será dominante no país em cerca de 30 dias, diagnóstico semelhante ao feito nesta semana pelo coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis.
Da Redação, com informações de ‘Folha’, ‘BBC’ e ‘Globo’