Lula no 7 de Setembro: “A esperança vai vencer o ódio”; vídeo

Lula desafia Bolsonaro a comparar os governos de ambos e cobra explicações sobre mortes na pandemia, rachadinha dos filhos e imóveis comprados com dinheiro vivo

Ricardo Stuckert

"Em 2 de outubro, o povo vai recuperar o Brasil. A democracia vai voltar a funcionar" (foto: Ricardo Stuckert)

Após Jair Bolsonaro tentar, de maneira criminosa, sequestrar as comemorações do 7 de Setembro e transformar a celebração dos 200 anos da Independência em campanha política, Lula se manifestou por meio de um vídeo postado nas redes sociais (assista e leia a íntegra do que ele disse abaixo).

Lula lembrou que era presidente da República nos anos eleitorais de 2006 e 2010, mas nunca pensou em usar uma data de todos os brasileiros como instrumento político. E ressaltou que Bolsonaro apelou a essa tática por não conseguir dar as respostas que a maioria dos brasileiros espera dele.

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“Ao invés de discutir os problemas do Brasil, tentar falar para o povo brasileiro como é que ele vai resolver o problema da educação, da saúde, do desemprego, do arrocho do salário mínimo, ele tenta falar de campanha política e tenta me atacar”, observou Lula. 

“Como é que pode ele tentar falar e xingar os outros, sem explicar para o povo brasileiro a situação do Queiroz e a rachadinha da sua família, sem explicar a quadrilha da vacina liderada pelo Pazzuelo? Como é que ele vai explicar a morte de 682 mil pessoas que mais da metade poderia ser evitada, segundo cientistas?”, completou.

Lula acrescentou ainda à lista de explicações que Bolsonaro deve à população os 51 imóveis que sua família pagou à vista e com dinheiro vivo, os pastores que desviavam dinheiro do MEC com sua autorização e os sigilos de 100 anos que decreta com a maior facilidade para esconder malfeitos de seu governo.

“Compare os nossos governos”

Dirigindo-se em alguns momentos diretamente a Bolsonaro, Lula sugeriu que o atual presidente não apele para comparações com outros países. “Compare o período em que eu fui presidente da República com o seu governo. Compare o aumento do salário mínimo que eu dava e o senhor, que não dá nenhum aumento.” 

E acrescentou: “Compare a geração de emprego no meu governo, o aumento da massa salarial das pessoas, os investimentos em universidades, em escolas técnicas, o crescimento do PIB. Em 2010, a gente estava crescendo a 7,5%, o crescimento no varejo era quase 13%, e o povo estava tendo o direito de viver dignamente. O povo tomava café da manhã, almoçava e jantava”.

“O bem vai vencer”

Para Lula, o país “precisa de melhor sorte”. “O Brasil precisa de um governo que cuide do povo, de uma pessoa que fale em harmonia, de uma pessoa que fale em amor, de uma pessoa que fale em crescimento econômico, industrialização e geração de emprego, em aumento de salário, de uma pessoa que cuide do povo como se fosse de um dos seus. E não de uma pessoa que só cuida dos seus milicianos, dos seus apaziguados, dos seus comparsas e fica ofendendo todos os outros.” 

Por isso, Lula está certo de que o povo brasileiro dará um basta às mentiras e ao ódio de Bolsonaro. “Você (Bolsonaro) diz sempre que é uma disputa entre o mal e o bem. Pois bem, o bem vai vencer. A esperança vai vencer o ódio, a esperança vai vencer a raiva, a verdade vai vencer a mentira. No dia 2 de outubro, esse país voltará à normalidade porque a democracia voltará a funcionar”, assegurou. 

Leia a íntegra do que disse Lula no 7 de Setembro

Quando presidente da República, eu tive a oportunidade de participar de dois 7 de Setembro, um em 2006, outro em 2010, em época eleitoral. Em nenhum momento, a gente utilizou o Dia da Pátria, um dia do povo brasileiro, o dia maior do nosso país por conta da Independência, como instrumento de política eleitoral. Era um dia do povo brasileiro e não um dia de política eleitoral.

O que nós estamos percebendo é que o presidente da República utilizou o momento maior, que é os 200 anos da nossa Independência, para fazer campanha política. Possivelmente, porque não está conseguindo fazer campanha política mesmo utilizando horário de trabalho para fazer campanha, como tem utilizado. 

E o presidente, ao invés de discutir os problemas do Brasil, tentar falar para o povo brasileiro como é que ele vai resolver o problema da educação, da saúde, do desemprego, do arrocho do salário mínimo, ele tenta falar de campanha política e tenta me atacar. Como é que pode ele tentar falar e xingar os outros, sem explicar para o povo brasileiro a situação do Queiroz e a rachadinha da sua família, sem explicar a quadrilha da vacina liderada pelo Pazzuelo e muitas outras pessoas que vacilaram ao comprar vacina e permitiram a morte de pessoas que poderiam ser salvas? Como é que ele vai explicar a morte de 682 mil pessoas que mais da metade poderia ser evitada, segundo cientistas? 

Por que que ele fica tentando colocar defeito nos outros e não explica aos seus eleitores como é que ele conseguiu comprar 51 imóveis pagando à vista 25 milhões e 600 mil reais em dinheiro vivo? Ele deveria explicar para o povo brasileiro as mazelas que ele fez, por exemplo, os pastores no Ministério da Educação tentando levar dinheiro para resolver o problema deles e não o problema da educação.

O dia de hoje é um dia sagrado para o povo brasileiro. Duzentos anos de Independência, que o povo brasileiro esperava que um presidente da República pudesse dizer para ele como é que a gente vai melhorar daqui para frente. Como é que a gente vai resolver o problema da fome que, neste momento, está machucando e prejudicando 33 milhões de pessoas? Como é que ele pode falar do desemprego ou do emprego informal? Na verdade não é emprego, é bico que as pessoas estão trabalhando na economia informal.

Por que o presidente da República não dá uma resposta ao povo brasileiro sobre como é que a gente vai fazer a economia brasileira voltar a crescer, como é que a gente vai reindustrializar o Brasil, como é que a gente vai recuperar a qualidade da educação brasileira, que, depois da pandemia, milhões de crianças voltaram para a escola sabendo menos do que quando começou a pandemia? 

Por que ele não explica para a sociedade por que parou de investir em ciência e tecnologia, de investir nas universidades brasileiras? Por que ele não fala para a sociedade por que ele está tirando dinheiro do SUS, tirando dinheiro dos estados e das prefeituras para tentar explicar ao povo a questão da redução do preço da gasolina, que ele poderia reduzir numa decisão própria dele como presidente, como tomou o presidente da Petrobras para aumentar a gasolina? 

É muito mais fácil falar mal dos outros do que se explicar diante da sociedade brasileira. O povo já não suporta mais mentira, o povo já não suporta mais ser enganado. O povo já não suporta mais suas piadas sem graça, tentando brincar com a miséria da sociedade, ao invés de dar resposta concreta para aquilo que o povo brasileiro está pedindo. 

O Brasil precisa de melhor sorte. O Brasil precisa de um governo que cuide do povo, de uma pessoa que fale em harmonia, de uma pessoa que fale em amor, de uma pessoa que fale em crescimento econômico, industrialização e geração de emprego, em aumento de salário, de uma pessoa que cuide do povo como se fosse de um dos seus. E não de uma pessoa que só cuida dos seus milicianos, dos seus apaziguados, dos seus comparsas e fica ofendendo todos os outros, ofendendo a Suprema Corte, o Tribunal Superior Eleitoral, as oposições. 

Se tem uma pessoa neste país que não tem moral para falar mal de ninguém é exatamente vossa excelência, que mente sete vezes por dia e deveria ter aproveitado os 200 anos da Independência para falar a verdade com o povo brasileiro.

Tentar comparar o meu governo com a Venezuela e com a Nicarágua, não, compare com o seu governo. Compare o período em que eu fui presidente da República com o seu governo. Compare o aumento do salário mínimo que eu dava e o senhor, que não dá nenhum aumento. Compare a geração de emprego no meu governo, compare o aumento da massa salarial das pessoas, compare os investimentos em universidades, em escolas técnicas com seu governo. 

Compare o crescimento do PIB. Em 2010, a gente estava crescendo a 7,5%, o crescimento no varejo era quase 13%, e o povo estava tendo o direito de viver dignamente. O povo tomava café da manhã, almoçava e jantava.

É esse discurso que o povo esperava que um presidente da República sério pudesse fazer. Mas, lamentavelmente, já está provado que o presidente não tem competência para falar das coisas que o povo tem necessidade porque não sabe. O presidente da República deveria entender que é preciso conversar com o povo. Ele nunca conversou com sindicalistas, com trabalhadores, com mulheres, homens, nunca conversou com nenhuma entidade social.

Tratar as instituições como se fossem suas, utilizando as instituições para fazer campanha, isso não é correto, e nós nunca fizemos isso. É por isso que o Brasil vai mudar. É por isso que o Brasil, a partir do dia 2 de outubro, vai ter uma outra direção. E se prepare, porque você pode falar o que você quiser, pode gastar o que você quiser, que não tem jeito. O povo resolveu que vai reconquistar a democracia para a gente recuperar o Brasil para a gente recuperar o direito de ser feliz, o direito de sorrir, de trabalhar, de tomar café, almoçar e jantar todo dias, o direito de comer carne.

Este país, que o senhor quebrou, nós vamos reconstruí-lo. E fique certo que ele vai ser muito melhor, mas muito melhor, sobretudo para o povo brasileiro. E eu espero que, num dia como hoje, o presidente pudesse se dirigir ao povo tentando falar em paz, tentando falar em emprego e saúde. Mas, não, o senhor continuou transmitindo ódio, raiva. 

O povo não quer armas, o povo quer livro. O povo não quer ódio, o povo quer emprego. O povo precisa viver dignamente, e era isso que o presidente da República deveria ter falado, mas não falou, porque você não sabe falar, porque você não sabe se dirigir ao povo, porque você não sabe fazer as coisas boas. 

E mentira tem perna curta, e é por isso que, no dia 2 de outubro, o povo vai recuperar o Brasil. A democracia vai voltar a funcionar no Brasil, e eu tenho certeza de que o povo será muito mais feliz. O povo sabe o que quer e o povo não quer mais mentira, o povo não quer mais ódio, não quer mais armas, não quer mais trambicagem. O povo quer lealdade, tranquilidade, estabilidade, e o povo precisa, efetivamente, de um presidente sério, que goste do povo e governe para o povo. 

Portanto, era isso que o presidente deveria dizer, e não discurso ofendendo os outros, xingando os outros, sem explicar por que morreram 682 mil pessoas neste país quando mais da metade poderia ser salva, sem explicar por que ficou tentando vender remédio que não existe, não cura a Covid-19, sem explicar para a sociedade as mazelas desse país, sem explicar o isolamento do Brasil diante do mundo.

O Brasil está precisando de um presidente da República que volte a conversar com o mundo, que volte a conversar com a América do Sul, com a América Latina, com a África, com a Europa, com os Estados Unidos, com a China, porque o Brasil não tem contencioso internacional, o Brasil é um país do bem e não pode ser governado por um presidente do mal. 

Você diz sempre que é uma disputa entre o mal e o bem. Pois bem, o bem vai vencer. A esperança vai vencer o ódio, a esperança vai vencer a raiva, a verdade vai vencer a mentira. No dia 2 de outubro, esse país voltará à normalidade porque a democracia voltará a funcionar no Brasil. 

O presidente Bolsonaro não tem nenhuma autoridade moral para fazer acusação a qualquer pessoa e, principalmente, a mim. Eu sou um cidadão que sou culpado por ser inocente. Hoje, eu sou o único brasileiro que sou culpado por ser inocente. O fato de eu ser considerado inocente em 26 processos, o fato de eu ter sido considerado inocente pela ONU duas vezes fez com que os mentirosos que me acusaram antes não saibam como se explicar diante da sociedade.

Mas, ao invés de falar de mim, o presidente tem coisa para explicar para a sociedade. Ele tem para explicar por que o Queiroz não prestou depoimento até hoje, por que ele não explicou a rachadinha dos seus filhos até hoje, por que ele não explicou e decretou sigilo de 100 anos para o ministro Pazzuelo com relação à quadrilha das vacinas, por que ele tem decretado sigilo de 100 anos para o cartão corporativo e, agora, deveria estar explicando para o povo como é que a família juntou 26 milhões em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis. 

É isso que ele tem que explicar. Não é falar dos outros, é se autoexplicar para a sociedade saber quem está falando a verdade neste país.

Da Redação

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