Sem negociações, funcionários da USP mantêm greve há 90 dias

Movimento quer que o repasse do ICMS aumente para 11,6% e que os hospitais Universitário (HU-USP) e de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) continuem na USP

Prestes a completar três meses de greve, o impasse entre funcionários e a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) continua. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), 80% dos 17527 funcionários aderiram ao movimento e não pretendem desistir enquanto as reivindicações não forem atendidas. O grupo pede que a reitoria pressione o governo estadual para aumentar o repasse do ICMS de 9,57% para 11,6% e que seja descartada a desvinculação do Hospital Universitário (HU-USP) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP (HRAC) da universidade.

Assim como a USP, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade de Campinas (Unicamp) também estão em greve. Os trabalhadores das três universidades públicas estaduais estão paralisados desde 27 de maio, em protesto ao adiamento até setembro das discussões de reajuste salarial à categoria. Em julho, o governador tucano Geraldo Alckmin impediu o aumento de repasse, durante aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2015.

“O governo do estado barrou as emendas na LDO que propunham o aumento da dotação orçamentária de 9,57% para 11,6%, proporção de quando as universidades estaduais ganharam a autonomia, conquistada em 1988”, explica Neli Wada, diretora do Sintusp e membro dos funcionários no Conselho Universitário.

Na quarta-feira, funcionários e policiais militares entraram em confronto. Para dispersar o grupo que barrou as três entradas da Cidade Universitária, no Butantã (zona Oeste da capital), policiais militares usaram bombas de gás lacrimogênio e bala de borracha. “O [Marco Antonio] Zago [reitor da USP] não quer negociação, é autoritário para reprimir os trabalhadores. Dizia-se democrata e agora virou um médico que não deixa a desejar em nada para os doutores de campo de concentração do Hitler” critica Wada.

Sobre a questão da desvinculação dos hospitais, o Sintusp teme que a medida decorra de uma despatrimonialização de parte da USP. “Precisam abolir essa ideia, eles querem privatizar os hospitais e a USP. Eles dizem não ter dinheiro, mas o Zago, como pró-reitor de pesquisa, recebeu R$ 250 mil em diárias. É evidente que dessa forma não haverá dinheiro para manter os hospitais universitários”, argumenta Wada.

A representante do Sintusp avisa que enquanto não forem atendidas as reivindicações, a greve continua: “não aceitamos arrocho salarial, somos contra a desvinculação dos hospitais e queremos a abertura das contas da universidade, que é uma caixa preta. Morre meia dúzia, mas a greve continua”.

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias

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