Aliado de Bolsonaro, Helcio Bruno atuou em negociata com vacina inexistente

Amparado por Habeas Corpus, coronel lobista e dono de ONG negacionista se recusa a falar na CPI. Militar que atacou STF é visto como elo entre Davati, reverendo Amilton e Elcio Franco, nº 2 de Pazuello

Mais um personagem que intermediou negociações eivadas de suspeitas de corrupção, durante a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde, foi ouvido pela CPI da Covid, nesta terça-feira (10). Presidente da entidade negacionista Instituto Força Brasil (IFB) e aliado de Jair Bolsonaro, o coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida atuou como facilitador nas tratativas do governo com a intermediária Davati Medical Supply. O objetivo: a aquisição de 400 milhões de vacinas imaginárias da AstraZeneca.

Amparado por um Habeas Corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de Almeida recusou-se a responder perguntas dos senadores sobre as relações dele com os envolvidos na empreitada e quem financia o site do IFB, famoso por promover, em apoio a Bolsonaro, fake news sobre a Covid-19 e atos antidemocráticos contra o STF. O coronel tem inclusive trânsito livre no governo e já foi recebido pelo alto escalão, do próprio Bolsonaro – de quem é contemporâneo no Exército – ao vice Hamilton Mourão, passando pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles até o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Casa Civil e atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.

O militar é apontado como o elo entre o reverendo Amilton Gomes de Paula, da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), os representantes da Davati Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho, e o então secretário-Executivo da Saúde, o xará Élcio Franco. Foi ele quem garantiu espaço na agenda de Franco para uma reunião com a Davati e a Senah, no dia 12 de março, para discutir a compra de vacinas.

O escândalo da Davati explodiu após o cabo Dominguetti revelar à CPI que recebeu um pedido de propina de U$ 1 do ex-coordenador de Logística da Saúde, Roberto Dias, no famoso happy hour ocorrido em Brasília no dia 25 de fevereiro. O encontro se deu poucas semanas antes da reunião no ministério. Senadores suspeitam que Almeida atuou diretamente para trazer, dentro do Ministério da Saúde, o reverendo e os representantes da Davati ao campo de Franco, após tentativas infrutíferas junto ao grupo de Roberto Dias.

De Almeida caiu em contradição ao negar ter proximidade com Élcio Franco, apesar de ter confirmado à imprensa a relação com o ex-braço direito do general Eduardo Pazuello. Ele também relatou que foi Amilton de Paula quem solicitou a reunião com Franco. Mas não explicou porque foi procurado por de Paula nem porque decidiu fazer parte do negócio sem ter cargo na pasta nem conhecer as credenciais da Davati.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) lembrou do importante papel do coronel na negociata, já identificado nos depoimentos de Carvalho e Dominguetti à CPI. “Estamos vendo aqui a mobilização de pessoas com relações pessoais, históricas, influenciando [o governo] para colocar um bando de trambiqueiros frente ao Estado brasileiro para vender o que não tinha”, denunciou. “Vossa Senhoria abriu portas para colocar pessoas sem credibilidade para vender 400 milhões de doses a U$ 17 cada, mais de R$ 10 bilhões”, observou Carvalho.

O senador também demoliu o argumento de senadores governistas de que não há corrupção no governo Bolsonaro porque não houve compra de vacinas. “Graças a essa CPI, isso não foi adiante, assim como a compra da Covaxin”, lembrou Carvalho.

Instituto Força da lorota

Além de promover campanhas pelo fechamento do STF – fato lembrado com ironia pelos senadores, uma vez que foi a ministra Carmen Lúcia quem concedeu ao coronel o direito de ficar em silêncio – o Instituto Força Brasil também financiou sites que promovem fake news contra o uso de máscaras e vacinas. O vice-presidente do instituto, Otávio Fakhoury, é alvo, inclusive, de investigação no inquérito das fake news.

O senador Humberto Costa (PT-PE) chegou a exibir postagens de Helcio Bruno em ataques ao STF ou com mensagens falsas sobre a pandemia. Uma delas pede “destituição já” do STF, sob o falso argumento de que ministros Corte exerciam atividade política. Em outro post de autoria do militar, o presidente da Comissão Omar Aziz (PSD-AM) aparece pintado de palhaço. “Vejam o tratamento que é dado à CPI, a um senador da República, espantou-se Costa.

Carvalho reiterou que a organização não perde uma oportunidade de desinformar a população com lorotas sobre a eficácia da vacina e medidas não farmacológicas de prevenção à Covid-19. Aliados de Bolsonaro, frisou, os membros do instituto “criticam instituições democráticas e, além disso, queriam a compra de vacinas para o setor privado quando não havia vacinas para todos”.

Desinformação e morte

Helcio Bruno se recusou a comentar notícias e vídeos apresentados por Rogério Carvalho sobre a atuação nociva do IFB à sociedade brasileira. “Dói no coração que as famílias dos meus conterrâneos nordestinos recebam, pelo celular, mensagens do Instituto Fake Brasil com mentiras sobre a eficácia da vacina, levando nosso povo à morte”, lamentou o senador. “São mais de 300 mil brasileiros que morreram por conta deste ato leviano de desinformar a população”.

Carvalho revelou aos senadores que o IFB conta com mais de 400 colaboradores e perguntou se o instituto foi criado para auxiliar o esquema de Bolsonaro no compartilhamento de mentiras, fato que o militar também se negou a comentar. “São os apoiadores do caos”, ressaltou o senador. “Fica aqui a minha indignação com a falta de humanidade e de respeito à vida demonstrada por Bolsonaro e seus apoiadores, que vêm aqui construir lorotas para a enganar a população brasileira”. 

Da Redação

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